Ele ainda fala!
Os homens de fé continuam a comunicar-se mesmo após a vida terrena. De fato, de Abel se prognosticou que “graças à fé, mesmo depois de morto, ele ainda fala!” (Hb 11, 4).

Foto: Arautos do Evangelho
Redação (31/10/2025 10:53, Gaudium Press) Ao contemplar o percurso da vida terrena de Mons. João Scognamiglio Clá Dias (15/8/1939-1/11/2024), é imperioso atestar que a data de seu derradeiro suspiro foi revestida de especial simbolismo.
Na madrugada daquele primeiro dia de novembro de 2024, quando a Igreja ainda se preparava para unir as vozes da terra com as do céu para a Solenidade de Todos os Santos, os discípulos mais próximos de Mons. João, ao perceberem que a hora daquele seu anelado retorno ao Criador se acercava, decidiram romper o silêncio noturno para incoar a Celebração Eucarística.
O “tudo está consumado” (cf. Jo 19, 30) daquele varão se deu precisamente durante o Ofertório, como ícone de uma vida exaurida em oblação ao Redentor. E a ocasião litúrgica não fora menos sugestiva, como já se indicou: a comemoração de todos os santos.
Com efeito, cada um dos Arautos do Evangelho poderá testemunhar que entre as palavras mais proferidas pela boca de seu fundador, em especial durante as homilias, foi “santidade” e seus cognatos. Para ele, o ser santo não era algo inalcançável, reservado a uma minoria, mas todos estavam verdadeiramente convocados a ela.
A vida santa tampouco era entendida por ele como algo edulcorado, frouxo e meio que nimbado por uma espiritualidade sentimental. Ser santo significava uma entrega total, heroica, apostólica e antes de tudo contemplativa, traduzida em particular por uma intensa vida interior, como já apregoava o seu mestre Plinio Corrêa de Oliveira.
Ora, a mais perfeita oração é aquela que se dá precisamente durante o Santo Sacrifício: é o próprio Cristo, Cabeça da Igreja, que dirige as preces ao Pai pelos lábios do sacerdote. À luz disso, Mons. João comentou certa vez que “nada santifica mais do que participar de uma Santa Missa, nada santifica mais do que tomar a Eucaristia” (Homilia 18/02/2008).
Ademais, em todas as ocasiões possíveis, ele procurou servir despretensiosamente a Igreja, também chamada communio sanctorum – comunhão dos santos. Ora, tal comunhão ocorre antes de tudo em união com a Cabeça deste Corpo Místico, mormente pela comunhão efetiva com Cristo velado sob o Pão dos Anjos e luz do mundo (Jo 8, 12): “Se andamos na luz como ele mesmo está na luz, teremos comunhão uns com os outros” (1Jo 1, 7). Entre os filhos das trevas, porém, não há comunhão. Unem-se estes em patuscadas, cujo fim é o eterno rompimento com Cristo na “fornalha ardente”, onde há, no lugar de palavras, “choro e ranger de dentes” (Mt 13, 42).
Nem a morte pode separar a comunhão dos santos. Antes, ela se sublima ainda mais pela vida eterna, comunicando assim mais sobejamente os seus efeitos. Já entre os réprobos não há comunicação ulterior ou recordação, como no caso do infiel rei Jeorão: “E se foi, sem deixar de si saudades” (2Cron 21, 20). Assim, se “a memória do justo é bendita, o nome dos ímpios apodrece” (Pr 10, 7).
Os homens de fé continuam a comunicar-se mesmo após a vida terrena. De fato, de Abel se prognosticou que “graças à fé, mesmo depois de morto, ele ainda fala!” (Hb 11, 4). Após exatamente um ano daquela sublime comemoração de todos os santos, Mons. João está mais vivo do que nunca, porque realmente continua a nos falar. Comunica-nos por seus exemplos, por suas obras, mas sobretudo para proporcionar já nesta terra uma sempre maior communio sanctorum, à espera daquela ainda mais excelsa na Pátria.
Por Pe. Felipe de A. Ramos, EP




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