As portas que Deus não abre
Por que, muitas vezes, pedimos e não obtemos, buscamos e não encontramos, batemos e a porta não se abre?
Redação (26/10/2025 16:22, Gaudium Press) A Bíblia afirma que “Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” (Nm 23, 19) Sendo Jesus o próprio Deus, por que certas coisas que pedimos não conseguimos obter?
Consideremos que há quem não acredita que Deus possa atender aos seus pedidos e, por isso, tenta resolver tudo à sua maneira; ponderemos, também, como há quem julga que Deus deva resolver tudo, satisfazer todos os seus desejos. No frigir dos ovos, tanto uns quanto outros acabam frustrados, certos de não terem um canal aberto com Deus. Mas, se formos colocar na balança, aqueles que acreditam, pedem e não obtêm acabam mais decepcionados do que aqueles que não esperam nada.
Deus não se abala com nossa chantagem
Devemos entregar a Deus todas as nossas necessidades, porque Ele prometeu que cuidaria de nós como cuida dos pássaros do céu e das flores do campo. O que acontece é que nem sempre nos contentamos em pedir apenas aquilo de que necessitamos, e acabamos por pedir coisas que nos trarão mais problemas e complicações do que soluções.
Sendo Deus sábio e infinitamente bom, por que motivo nos daria algo que queremos e que Ele sabe que nos fará mal?
Muitas vezes, incapazes de lidar com a decepção e a chantagem emocional de nossos filhos, nós acabamos dando a eles aquilo que eles nos pedem – ou até exigem – e que nem sempre é bom para eles, mas não podemos esperar que Deus aja conosco da mesma forma. Ele não se abala com nossa chantagem.
Há uma infinidade de coisas que podemos pedir-Lhe, e algumas que nem precisamos pedir, pois Ele conhece as nossas necessidades. Porém, geralmente, pedimos as coisas erradas, por isso não recebemos.
Pedimos o pão com manteiga
Entre os pedidos importantes e legítimos a se fazer a Deus, incluímos obter mais fé, paciência, resignação, força para vencer as tentações e paz de espírito. Mas podemos também pedir o básico: nosso alimento, moradia, roupas, dinheiro para pagar as contas, tranquilidade, saúde etc
A menos que, para nosso crescimento e santificação, necessitemos passar pela privação de alguma dessas coisas essenciais, estas virão a nós com a mesma tranquilidade com que a ave é provida do alimento e a erva passageira é provida do vigor e beleza que lhe são próprios.
Por sinal, Nosso Senhor Jesus Cristo nos incentivou a pedir essas coisas. Ele nos ensinou como rogar o “pão nosso de cada dia”, e se alegra com a nossa humildade em nos reconhecermos dependentes de Deus até nas menores coisas. O problema é que não nos contentamos em pedir o “pão de cada dia”, pedimos o pão com manteiga, com queijo, com carne e até com caviar…
Não podemos tratar Deus como o gênio da lâmpada
Não podemos tratar a Deus como se Ele fosse o “gênio da lâmpada” que existe apenas em função de atender aos nossos desejos, caprichos e vontades.
Muitas pessoas que afirmam rezar, só sabem pedir. Podem acordar cedo, ajoelhar, rezar o terço, o Rosário, até se prosternar diante de Deus, mas, em suas orações, quase não resta tempo e palavras para agradecer, para reconhecer a grandeza das bênçãos que recebem. São eternos miseráveis, sempre a pedir mais e mais e mais.
E há aquelas que são egoístas até na oração, incapazes de rezar pelos outros, incapazes de pedir um benefício para um irmão que necessita; ajudar, então, fora de questão!
Devemos nos lembrar do exemplo do maná ofertado misericordiosamente por Deus ao povo no deserto. Cada um só podia recolher a quantidade suficiente para o dia, o que passasse disso se deteriorava, estragava e não tinha mais nenhum proveito.
Quantas vezes lutamos para acumular coisas, até mesmo coisas que não usamos e que somos incapazes de dividir com outras pessoas! E estamos ali, sempre a pedir mais, como se a única função da existência de Deus fosse atender aos nossos caprichos.
Cristãos de ocasião
Muitos há que pedem, mas não a graça e as bênçãos necessárias para seguir no rumo certo para passar pela porta estreita. Ao contrário, pedem atalhos e caminhos largos, portas abertas, prosperidade e facilidades sem fim.
E se obtêm essas coisas – tenham elas vindo de Deus ou não – dão vazão ao orgulho, proclamando o quanto são abençoados, se comparando e até humilhando os irmãos que possuem menos.
Não buscam a santidade nem a salvação da alma. Ao contrário, buscam bens e prazeres que os afastarão do Céu e das coisas de Deus.
Batem, mas, se a porta não abre, a esmurram, se revoltam e, semelhantes àqueles que não pedem por não acreditar, acabam por perder a fé, se é que um dia verdadeiramente a tiveram!
Esses são os chamados “cristãos de ocasião”, cuja devoção está na proporção daquilo que conseguem obter e, se não obtêm, Deus é mau, ou não existe!
Há boas pessoas que não são atendidas
No entanto, há pessoas que não são um poço de egoísmo e sim almas justas e piedosas, que pedem coisas legítimas e, ainda assim, não as obtêm.
Se você se enquadra nessa situação, não reclame, não desanime, apenas se apoie nas mãos de Deus e acredite que, se o que você pediu e buscou não veio, se a porta em que você bateu não se abriu, foi para o bem da sua alma e, se for da vontade de Deus, virá na hora certa, no tempo certo, porque Ele sabe todas as coisas.
E, sobretudo, não se esqueça de que temos a mais poderosa das intercessoras, Aquela que carregou em seu ventre o próprio Deus.
Pode acontecer de sermos brutos no pedir, ou tíbios no buscar, e Deus não nos atenda, não porque não mereçamos ou não necessitemos daquela graça específica, mas apenas porque nossa oração sequer chega até ele.
Neste caso, nada melhor do que deitar a cabeça no regaço de nossa Mãezinha querida e dizer: “Oh, minha Nossa Senhora, preciso tanto dessa graça, necessito tanto desse milagre, valei-me, minha Mãe, levai ao seu Amado Filho a minha oração, para que Ele me favoreça, se for para o meu bem e glória do seu nome”.
Ela intercederá, e explicará a Jesus aquilo que não conseguimos explicar, e Ele compreenderá e, se não entregar a Ela, para que traga até nossa miséria aquilo que rogamos, nos entregará algo diverso e infinitamente melhor.
Deus vê o que não vemos
Essas não são apenas palavras vazias, mas reflexões de alguém que já viveu tempo suficiente para dizer: louvado seja Deus que não me deu tudo o que pedi! Que não me permitiu achar tudo o que busquei nem abriu todas as portas diante das quais eu implorei, porque, se tudo o que desejei eu tivesse obtido, teria me perdido na vida antes de chegar à metade do longo caminho que já trilhei!
Seja paciente! Deus jamais deixará de cumprir a promessa que nos fez. Ele dará, permitirá que encontremos e abrirá quando batermos, desde que essas coisas não abram para nós as portas do inferno, do qual jamais poderemos sair depois de ter entrado.
Afinal, “se nós, que somos maus, sabemos dar boas coisas a nossos filhos, quanto mais nosso Pai Celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem!”
Se há portas que Deus não abre, é porque Ele vê o que há do outro lado delas… Ele vê o que não vemos.
Por Afonso Pessoa






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