Mudança na postura do Vaticano em relação à Venezuela?
O Cardeal Parolin presidiu a missa de ação de graças pela canonização da Madre Carmen Rendiles e do médico José Gregorio Hernández. Na Homilia, o cardeal exortou o país a “responder ao chamado pela paz”, fundamentada nos princípios da verdade, do amor e do respeito aos direitos humanos, promovendo a criação de “espaços de diálogo e convivência democrática”.
Cardeal Parolin na missa de ação de graças na Basílica de São Pedro Foto: Vatican News/ Vatican Media
Redação (22/10/2025 11:29, Gaudium Press) A figura de Edgar Beltrán, correspondente do The Pillar em Roma, ganhou destaque após sofrer uma agressão durante uma coletiva de imprensa, ao questionar o substituto da Secretaria de Estado, Mons. Peña Parra, sobre a possibilidade de o regime venezuelano instrumentalizar a recente canonização de dois santos em benefício de seus interesses. O agressor, segundo relatos, seria um conhecido empresário alinhado ao regime.
Apesar do incidente, Beltrán continuou imperturbável com suas reportagens e agora destacou as recentes declarações do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, que criticou de forma inequívoca o governo venezuelano durante a missa de ação de graças pelas canonizações de José Gregorio Hernández e Madre Carmen Rendiles. Na ocasião, o cardeal fez um apelo ao país para “abrir as prisões injustas” e construir “o respeito pelos direitos humanos”. Tal pronunciamento reveste-se de especial relevância, não apenas pela posição de Parolin como Secretário de Estado, mas também por seu histórico como núncio apostólico na Venezuela por diversos anos. Ressalta-se, ainda, que a delegação venezuelana presente às canonizações estava na primeira fila durante a missa.
Além disso, analistas avaliam que as palavras do cardeal revelariam uma mudança na postura do Vaticano em relação ao país latino-americano.
Depois de lembrar que os novos santos venezuelanos deram testemunho do que significa “amar verdadeiramente e com obras”, o cardeal expressou que “só assim, querida Venezuela, se pode passar da morte para a vida. Só assim, querida Venezuela, sua luz brilhará nas trevas e sua escuridão se converterá em meio-dia”. Só ouvindo a Palavra do Senhor para “quebrar as pressões injustas, a quebrar os grilhões, a libertar os oprimidos, a destruir todas as armadilhas”.
“Só assim, querida Venezuela — continuou o cardeal — você poderá responder à sua vocação de paz, se a construir sobre os alicerces da justiça, da verdade, da liberdade e do amor; respeitando os direitos humanos; criando espaços de encontro e convivência democrática, dando prioridade ao que une e não ao que divide, buscando os meios e as oportunidades para encontrar soluções comuns aos grandes problemas que a afetam, colocando o bem comum como objetivo de toda a atividade pública”.
Mudança de tom
Sem dúvida, observa-se outra linguagem por parte do Vaticano em relação à Venezuela, distinta da postura anterior, que privilegiava referências indiretas e uma abordagem mais reservada, o que gerava críticas.
Por sua vez, a Igreja local mantém-se como uma instituição de grande prestígio perante a opinião pública, e a vida de fé parece ter se mantido, quando não aumentado em alguns setores.
Dias antes da canonização dos dois santos, os bispos venezuelanos publicaram uma carta pastoral na qual pediam a libertação dos mais de 800 presos políticos no país.
No âmbito de um evento comemorativo das canonizações, o Cardeal Baltazar Porras, arcebispo emérito de Caracas, declarou que a situação na Venezuela era “moralmente inaceitável, marcada pelo aumento da pobreza, pela militarização como instrumento de governo para incitar a violência, a corrupção, a falta de autonomia dos poderes públicos e o desrespeito à vontade popular”.
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