Dom Sebastião, Rei virgem e cruzado
Jovem casto e combativo, Dom Sebastião desejava ardentemente fazer uma Cruzada contra os turcos maometanos, os quais conquistaram a capital da Tunísia, e ameaçavam dominar Marrocos o que significava sério risco de investirem contra a Península Ibérica.
Redação (11/10/2025 10:57, Gaudium Press) Filho do Príncipe João Manuel e da Arquiduquesa Joana d’Áustria, Dom Sebastião nasceu em Lisboa em 20 de janeiro de 1554. Era neto do Imperador Carlos V.
Turcos ameaçavam investir contra a Península Ibérica
Dom João Manuel, filho do Rei de Portugal João III, faleceu em 2 de janeiro de 1554 e aquele que deveria sucedê-lo se encontrava no seio de sua esposa. Preces e procissões foram feitas pelo bom sucesso do parto, o qual ocorreu no dia em que se comemorava São Sebastião.
Em 1557, morreu João III e Dom Sebastião tornou-se rei com três anos de idade. A regência foi exercida por sua avó, Catarina d’Áustria, e depois pelo Cardeal Dom Henrique.
Dom Sebastião assumiu o trono em 1568, tendo apenas 14 anos de idade. Jovem casto e combativo, desejava ardentemente fazer uma Cruzada contra os turcos maometanos, os quais conquistaram a capital da Tunísia, em 1574, e ameaçavam dominar Marrocos o que significava sério risco de investirem contra a Península Ibérica.
Visando eliminar esse perigo, Dom Sebastião organizou a “Jornada de África” e pediu a participação de Felipe II, Rei da Espanha, mas este infelizmente enviou apenas um pequeno número de soldados que, naquele empreendimento, nada representavam.
Dom Sebastião partiu ocultamente do Porto de Lisboa para evitar que o povo impedisse sua viagem. Reuniu-se depois com seu exército e rumou para o Marrocos. Em 4 de agosto de 1574, na Batalha de Alcácer Quibir – Norte desse país –, foi morto.
Combateu o mundanismo espalhado pela Renascença
Por ocasião do quarto centenário da morte de Dom Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários que a seguir resumimos.
Ele foi o esperado de Portugal. Sua fisionomia e modo de ser me agradam enormemente. Era neto de Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano Alemão, Rei da Espanha, Rei da Hungria e possuía outros domínios.
Muito abaixo de Carlos Magno, Carlos V foi a mais alta representação do poder e da dignidade imperial no Ocidente e, portanto, na Terra, transmitiu a Dom Sebastião algo pelo qual — segundo alguns críticos dos quadros deste último — ele parecia, sob certo ponto de vista, um português — e o era de alma inteira — e de outro, um príncipe da Casa d’Áustria.
Rei batalhador de quem podemos dizer ter sido, caracteristicamente, o varão que lutou contra um aspecto da primeira Revolução, contra o qual poucos combateram tão adequadamente quanto ele.
A primeira Revolução foi constituída pelo protestantismo e pela Renascença. Laica, voltada para os prazeres da Terra, tisnada de neopaganismo, a Renascença representava uma recusa da medievalidade. O protestantismo foi esmagado pelo Concílio de Trento.
O Papa deu-lhe a missão de fazer uma Cruzada
Dom Sebastião começou a reinar em 1557. Portanto, foi Rei do Brasil que tinha sido descoberto em 1500, na época de Dom Manuel, o Venturoso.
Uma das coisas mais belas da vida de Dom Sebastião é sua afirmação, em mais de uma ocasião, de que seu grande desejo era lutar pela dilatação da Fé, ir à África a fim de que a Igreja se expandisse por todo o Norte do continente africano e a Ásia.
Ele queria, por certo, a grandeza de Portugal como meio para tornar Nosso Senhor Jesus Cristo verdadeiramente Rei deste mundo. O amor de Deus era o ponto de referência de todos os seus sentimentos.
Em duas ocasiões ele recebeu bulas do Papa, outorgando-lhe a missão de fazer uma Cruzada para conquistar a África. E foi no solo africano que ele desapareceu e morreu, como cruzado.
Belo gesto para expulsar os huguenotes da França
Algum tempo antes dele embarcar para a África, cuidaram de seu casamento. Duas princesas pediam sua mão — os costumes da época eram bem diferentes dos nossos. Uma era Arquiduquesa da Áustria, Infanta da Espanha, filha de Filipe II, a outra, uma Princesa francesa da Casa de Valois.
Dom Sebastião mandou dizer que se casaria com aquela cujo pai apoiasse a Cruzada dele na África. E como as respostas não foram claras, ele não desposou nenhuma das duas. E morreu passando para a História com a gloriosa alcunha de rei virgem. Demonstrava tanta castidade em sua vida privada que sua virgindade era indiscutida.
Sabendo que os huguenotes – protestantes calvinistas – na França estavam a ponto de conquistar o poder, no reinado de Carlos IX, da Casa de Valois, teve um lindo gesto, sem nenhum interesse de Portugal, mas apenas para expulsar os protestantes do território da Filha primogênita da Igreja.
Mandou ao Rei da França, espontaneamente e sem contrapartida, uma grande quantidade de ouro com a mensagem: “Fazei o que quiserdes com esse ouro, contanto que seja para vencer os huguenotes.” É o rei apóstolo, o qual compreende que o ouro e o poder são dados ao homem para servir à Santa Igreja, à causa da dilatação do Reino de Cristo; e ele era rei em Portugal para que Cristo fosse Rei no mundo inteiro. Que bela concepção de Portugal!
Fátima, realização do sonho de Portugal
O povo lusitano teve o mérito extraordinário de sentir que esse Príncipe possuía algo de alcandorado, transcendente; que ele era a flor e Portugal, o tronco; que todas as gerações dos reis anteriores — desde Dom Afonso Henriques, a quem Cristo apareceu nos campos de Ourique, até ele — existiram em ordem a ele. Portugal teve a nobreza de reconhecer em Dom Sebastião o rei de seus sonhos.
Em 1578, ele saiu às ocultas de Lisboa porque a despedida do povo seria muito dolorosa. E embarcou para a reconquista da África. Era uma reconquista, pois partes da África já haviam pertencido a Portugal.
Lá chegando, entrou numa batalha — de Alcácer Quibir — a qual, em condições ainda muito misteriosas, resultou numa catástrofe para as forças portuguesas e, portanto, num desastre para os exércitos cristãos; nela desapareceu o rei.
Fátima é a realização do sonho de Portugal. Os portugueses sonharam com Dom Sebastião, mas veio para eles algo incomparavelmente mais alto: Nossa Senhora. Não regressou o rei virgem, mas apareceu-lhes a Virgem das virgens.
E assim como Portugal, no tempo da Renascença, deveria ter dado, na pessoa de Dom Sebastião, uma mensagem ao mundo, a Santíssima Virgem, tomando o território português como trono, transmitiu à humanidade aquela mensagem que não era de saudades, mas de advertência e esperança.[1]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Dom Sebastião, um rei de sonhos. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XII, n. 137 (agosto 2009), p. 26-29.
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