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Leão XIV: os critérios para suas escolhas

“O Papa Leão XIV busca ter figuras institucionais no governo e rostos familiares em seu trabalho diário”.

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Redação (07/10/2025 12:23, Gaudium Press) O Papa Leão XIV fez sua primeira grande nomeação na Cúria. Como prefeito do Dicastério dos Bispos, o Papa escolheu o Bispo Filippo Iannone, que lidera o Dicastério para os Textos Legislativos desde 2017.

Esta é apenas a primeira de muitas nomeações que ele precisará fazer, marcando o início do que será uma temporada atarefada e muito reveladora de nomeações. A nomeação de Iannone já nos permite começar a esboçar um perfil do Papa e de suas escolhas.

O que se segue é realmente apenas um esboço – destinado a ser alterado e até mesmo apagado –, pois tudo pode ser contradito com o tempo. Trata-se, no entanto, de tentar identificar algumas diretrizes para compreender o raciocínio de Leão XIV.

A primeira nomeação importante, para o cargo mais alto da Congregação para os Bispos, na verdade, seguiu-se a uma pequena remodelação perto (mas não no topo) da Secretaria de Estado: depois de enviar Monsenhor Mirosław Wachowski, “subsecretário da Seção para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, como núncio ao Iraque, o Papa designou Roberto Campisi, assessor da Secretaria de Estado, como observador da Santa Sé na UNESCO.

Finalmente, Leão XIV nomeou sua equipe de secretários. Como segundo secretário, ele escolheu o Pe. Marco Billeri, um jovem sacerdote da diocese de San Miniato, cujo bispo, Giovanni Paccosi, havia conhecido o Papa quando ambos eram missionários no Peru.

O que significam essas três nomeações?

A nomeação de Iannone para o Dicastério dos Bispos indica que Leão XIV buscará figuras institucionais com doutrina sólida como chefes dos dicastérios. Iannone não era um bispo que pudesse ser considerado um crítico do Papa Francisco; ele sempre desempenhou seu trabalho com rigor. É um canonista e não é do tipo que gosta de ser o centro das atenções.

Leão XIV pôde avaliar suas habilidades quando Iannone fez parte da “equipe dos sonhos” que, ao lado dos cardeais Parolin, Koch e Prevost, foi encarregado do diálogo e do engajamento com os bispos alemães que vieram ao Vaticano para discutir sua jornada sinodal com os dicastérios. O trabalho de Iannone foi fundamental para uma grande parte do sucesso do esforço em absorver o choque do controverso Caminho Sinodal dos bispos alemães.

A nomeação de Iannone, portanto, não é uma boa notícia para os defensores de pelo menos uma das principais vertentes do que a Igreja vem chamando de “sinodalidade” desde que Francisco nos deu o termo – na verdade, uma palavra em voga sem uma definição clara – no início de seu pontificado. Além disso, Leão escolheu um canonista, destacando assim a necessidade de alguém com conhecimento sobre como a lei deve governar a Igreja.

Agora, Leão XIV terá que escolher mais quatro chefes de dicastérios nos próximos meses: Leigos, Família e Vida, Unidade Cristã, Causas dos Santos e Culto Divino. Se a escolha recair sobre perfis semelhantes ao de Iannone, como se acredita, surge então um padrão, uma direção e um desejo de criar uma equipe de figuras institucionais de alto perfil. Desaparecer para que Cristo permaneça, disse Leão XIV em sua primeira missa como Papa na Capela Sistina. É esse o critério?

A mini-revolução no topo da Secretaria de Estado sugere um Papa que não faz mudanças épicas de uma só vez, mas sim um passo de cada vez. Mas é também um Papa que examina as situações minuciosamente e sabe como agir de acordo com elas. Vale a pena notar, a este respeito, que Campisi é o primeiro assessor, desde que o cargo foi criado por Paulo VI em 1967, que não recebeu uma nomeação episcopal após seu mandato como número 4 da Secretaria de Estado. No mundo do Vaticano, esses são sinais que não devem ser subestimados.

Igualmente, a demissão do subsecretário das Relações Exteriores e do assessor da Seção para os Assuntos Gerais pelo Papa não deve ser interpretada como uma forma de vingança por parte do Papa, mas sim como parte de um plano de carreira em andamento para ambos.

Por fim, a escolha de um secretário pessoal. Leão escolheu jovens de fora dos muros do Vaticano. Acima de tudo, suas escolhas foram pessoas em quem ele confia: como é o caso de seu secretário de longa data, seu segundo secretário e vários outros.

Na prática, o Papa busca ter figuras institucionais no governo e rostos familiares em seu trabalho diário.

Para o trabalho diário de proximidade, Leão escolheu figuras familiares que carecem de conhecimento profundo do Vaticano, protegendo-se assim de qualquer influência potencial da Cúria ou do ambiente. É claro que dois secretários na casa dos trinta anos, sem conhecimento das instituições do Vaticano, correm o risco de criar ou contribuir para confusão ou erros. Também é verdade que eles são, sem dúvida, leais ao Papa e somente a ele.

Leão XIV surge, assim, como um Papa que toma decisões lentas, mas inexoráveis, e que, com o tempo, visará criar uma comunidade de indivíduos de confiança para apoiá-lo e ajudá-lo em seu trabalho.

A confiança também será necessária em suas relações com as pessoas que ele nomear para os cargos mais altos da Cúria; mas para essas pessoas, um tipo diferente de confiança – com um objeto diferente – pode ser preferível ao tipo de confiança que se tem em um secretário pessoal. É de se esperar que Leão escolha pessoas com perfis institucionais, priorizando competências profissionais em vez de lealdade pessoal.

Com base nesse raciocínio, ainda é muito cedo para dizer se o Papa voltará a olhar para as sedes tradicionalmente cardinalícias em seu próximo consistório, se os cargos também corresponderão a títulos e se haverá um retorno a uma visão mais “tradicional” do mundo Vaticano.

As medidas que Leão já tomou, no entanto, demonstram seu desejo de mudança, ao mesmo tempo que se mantém dentro dos limites da tradição e das escolhas tradicionais. Há, nisso, um toque pessoal, mas, por outro lado, o Papa não parece ansioso para se afastar dos precedentes históricos estabelecidos – da tradição, se preferirem –, assim como tem se mostrado satisfeito em reiterar ou referir-se à doutrina claramente ensinada e estabelecida quando questionado ou confrontado com questões importantes relacionadas à fé e à moral.

Isso também é um sinal.

Por Andrea Gagliarducci

Artigo publicado originalmente em inglês no site Monday Vatican, em 26 de outubro de 20225. Tradução Gaudium Press

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