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Se vós tivésseis fé…

A intensidade e a integridade com que o homem preserva o precioso dom da fé em sua alma refletem a verdadeira medida de sua caridade.

Foto: Arquivo RAE

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Redação (04/10/2025 12:18, Gaudium Press) A Liturgia deste domingo da 27ª semana do Tempo Comum bem poderia ser sintetizada na suave censura do Divino Mestre contida no versículo que intitula este artigo…

E como expressão do que ocorre nas almas com respeito ao dom da fé, a metáfora do grão de mostarda nos insere nos mistérios da própria vida natural, reflexo da sobrenatural. O que é, pois, a vida? Como explicá-la? O que é o dom da fé? Como incrementá-la, uma vez que os próprios Apóstolos pedem ao Mestre: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17, 5)?

Movida pelo enigma da vida, a mente humana se debruça ora sobre as minúsculas sementes de grama que dão origem aos paradisíacos tapetes vegetais britânicos, ora sobre as de sequoia – comparáveis às do tomate em sua dimensão, mas das quais germinarão os gigantes coníferos que maravilham a humanidade –, à procura de compreender os arcanos que elas encerram, sem, contudo, encontrar uma resposta que lhe satisfaça plenamente.

Esse mistério torna-se ainda mais atraente no que concerne à natureza animal… Como de um pequeno ovo surge um gracioso e ágil colibri – em seu gênero, uma joia viva furta-cor – ou a majestosa e aguerrida águia, única capaz de fitar o Sol a olho nu?

Entretanto, é no próprio ser humano – descrito por São Tomás como um microuniverso – que essa investigação atinge seu clímax e sua maior complexidade, pois ele pode receber, ademais, uma outra forma de vida, infinitamente superior à natural: a vida sobrenatural da graça, participação criada na vida incriada de Deus.

Todo o edifício da vida sobrenatural no homem tem como alicerce a fé, a primeira das virtudes, aquele “hábito da mente pela qual a vida eterna começa em nós, fazendo o intelecto aderir àquilo que não vê”. Desse modo, afirma a Carta aos Hebreus que ela é “a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem” (11, 1).

Por isso São Paulo, muito paternal e eloquentemente, insiste com Timóteo: “Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” e “Guarda o precioso depósito [da fé], com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós” (II Tim 1, 6.14). Em outros termos, esse dom é tão precioso que todo esforço e vigilância para preservá-lo e fazê-lo crescer nada significa, absolutamente, em comparação com a recompensa eterna de que ele se constitui penhor.

É, assim, pela intensidade e integridade com que o homem guarda o precioso dom da fé em sua alma que se poderá medir a sua caridade para com Deus e para com o próximo; é também por esse dom que ele realizará os maiores atos de heroísmo pelo Senhor, considerando-se sempre um “servo inútil”, sem procurar outra recompensa senão a de servi-Lo; é ainda por esse dom que ele dirá à amoreira ou às montanhas: “Arranca-te daqui e planta-te no mar” (Lc 17, 6), e elas lhe obedecerão.

 Por Pe. João Carlos Gomes Barroso, EP

Artigo extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 286, outubro 2025.

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