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Somos administradores e não senhores

Diante do patrão enfurecido, o administrador infiel recordou-se de que o dinheiro que lhe fora confiado não era seu e precisava, então, prestar contas de sua má administração.

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Redação (21/09/2025 14:45, Gaudium Press) Diversas vezes ao longo do Evangelho, Nosso Senhor Jesus Cristo utiliza-se de parábolas relacionadas com o dinheiro e o uso que dele é feito.

O esquecimento de Deus simbolizado no apego ao dinheiro

“E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará o que é vosso?” (Lc 16,12).

Nesse sentido, tanto a imagem do mau administrador, empregada pelo Salvador, quanto as contidas em outras passagens (Lc 12,13-21; Mt 25,14-30) seguem uma trama semelhante: um senhor que confia seus bens a um funcionário e se mantém alheio — ao menos aparentemente — à administração do servo, até que, por fim, volta para cobrar o fruto do seu trabalho.

Assim, na parábola dos talentos, a uns o senhor dá mais e a outros dá menos, mas todos têm de prestar contas do uso que fizeram desses talentos. Desta forma, Nosso Senhor mostra qual é o prêmio e o castigo dos empregados, conforme as obras realizadas.

Igualmente na imagem do homem rico que manda construir celeiros enormes, mas na mesma noite é chamado para o juízo de Deus, percebe-se que Nosso Senhor deseja fixar a todo momento em nossa atenção a efemeridade da vida, e que somos apenas trabalhadores, devendo prestar contas do uso que tivermos feito de tudo que nos foi dado por Deus.

Com a parábola do administrador infiel, o Divino Mestre aponta um defeito perigosíssimo e muito frequente.

Como terá sido a história desse administrador? Provavelmente, nos primeiros dias de trabalho, ele levasse seu ofício com todo o zelo e perfeição, preocupado em aumentar tanto quanto possível as riquezas de seu patrão. Mas, na sucessão dos dias, podemos conjecturar que o empregado, vendo aquela fortuna fabulosa, imaginasse o que faria se tivesse todo aquele dinheiro. Passados poucos meses, algumas pequenas fraudes, pequenos roubos aqui, lá e acolá sem ninguém perceber, porque, assim, além de cuidar das riquezas do senhor, acabava também ele lucrando para seu bolso direito… e esquerdo…

Ao cabo de uns tantos anos, o homem rico é informado de que um administrador seu vinha esbanjando sua fortuna sem escrúpulos e apropriando-se daquelas riquezas que não lhe pertenciam. Chamado a juízo diante do patrão enfurecido, o administrador infiel recorda-se que o dinheiro que lhe fora confiado não era seu e precisava, então, prestar contas de sua má administração.

Apesar disso, ao invés de procurar pedir perdão e reparar as dívidas contraídas, aquele homem perverso tenta até o último momento, de todas as formas, arranjar um estado menos penoso para o seu egoísmo, quando tiver de abandonar o cargo.

A preocupação com a vida terrena e o esquecimento da vida eterna

Esta é uma verdadeira imagem da nossa vida neste mundo. O homem, dotado de inteligência e vontade e, portanto, sendo a única criatura do plano natural capaz de chegar até Deus, foi posto acima do universo, como ponto monárquico da criação, a fim de que, conhecendo e amando o seu Criador, ordene todas as coisas de forma que toda a criação se volte para Deus, em homenagem à sua onipotência divina.

Entretanto, como consequência do pecado original e do pecado individual, a tendência do homem é de achar-se senhor da criação e, desviando de sua verdadeira finalidade, usurpá-la em favor do seu próprio interesse.

O homem, então, se afadiga a vida inteira ajuntando dinheiro, pensando ser esta sua única finalidade. E, aproximando-se o momento da morte, dá-se conta que existe um Deus e que, após esta vida, há um prêmio ou um castigo. Isso, quando o homem não cria para si mesmo a ilusão de que um dia a ciência há de encontrar o segredo da vida eterna.

Essa mentalidade errada do homem é bem expressa no salmo: “De fato, o homem passa como uma sombra, é em vão que ele se agita; amontoa, sem saber quem recolherá (Sl 38).

Será que nós, em alguma medida, não trilhamos o mesmo caminho do administrador infiel? Quantas vezes não nos agitamos com as coisas fúteis da vida, pensando estar ali a felicidade, enquanto descuidamos do nosso maior dom, do nosso maior talento que é ser filho de Deus? Ele espera de nós, mais do que o aumento das riquezas materiais, que apliquemos nosso esforço em levar uma vida conforme os mandamentos, fazendo lucrar em nós a graça de Deus e os dons do Espírito Santo.

Por isso, a parábola do administrador infiel nos aconselha a procurar, desde já, consertar todas as dívidas que tenhamos contraído ao longo de nossa vida, sabendo que somos apenas administradores, e que, numa hora desconhecida, o senhor virá cobrar o fruto de nosso trabalho.

Por Vinícius Mendes

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