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Patrono universal das missões

Almejando livrar as almas das trevas e conduzi-las à Igreja Católica, Luz do mundo, São Francisco Xavier evangelizou a Índia, o Japão e tentou converter a China.

Foto: Reprodução

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Redação (01/09/2025 19:02, Gaudium Press) São Francisco Xavier desembarcou no Japão em 15 de agosto de 1549 – Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem –, aprendeu japonês e se dedicou ao apostolado. Observador perspicaz, escreveu uma carta aos jesuítas de Roma na qual analisa os nipônicos:

“Seu espírito é vivo e pleno de lealdade; são muito ávidos de distinções, dignidades e preferem a honra a todos os outros bens.

“As armas lhes agradam no mais alto grau e cada um nelas coloca sua principal segurança. Os senhores bem como as pessoas do povo – até mesmo os jovens de quatorze anos – estão sempre armados de cimitarra e punhal.

“Assim como o povo presta muitas honras aos nobres, estes se conduzem da mesma forma face aos reis e príncipes, considerando grande honra obedecê-los à menor ordem.”[1]

Eles, portanto, amavam as desigualdades harmônicas e proporcionadas. Nessa época havia no Japão um regime feudal, comportando cinco categorias de pessoas: nobres, samurais, agricultores, artesãos e mercadores.

Os samurais constituíam a classe dos guerreiros. Cumpriam um código de honra que estipulava disciplina, lealdade, habilidade no manejo da espada e da lança, bem como coragem extrema diante de qualquer situação. O termo “samurai”, em japonês, significa “aquele que serve”.[2]

 Ele publicou um Catecismo em japonês e realizou muitos milagres, entre os quais curas de doentes, ressurreição de uma donzela e, mais importante, inúmeras conversões de almas. Três décadas após sua morte, havia no Japão 150.000 católicos e 200 igrejas.

Guerra aos demônios e seus sequazes

Sua grande meta era a China.

“Pela importância do império chinês, por sua incalculável população e, sobretudo, seu prestígio e riqueza cultural, compreendeu que, se fizesse nele correr as águas batismais, a Ásia inteira se prostraria aos pés do Divino Redentor.”[3]

Escreveu carta ao Rei de Portugal João III na qual mostra sua insigne combatividade contra os espíritos malignos que procuram perder as almas:

“Nosso objetivo é libertar os portugueses que lá estão cativos, promover a amizade dos chineses em favor da coroa de Portugal e, sobretudo, fazer a guerra aos demônios e a todos seus sequazes.”[4]

Governador se opõe ao Santo e é castigado

Em maio de 1552, na cidade de Malaca, Malásia, ele efetuou as tratativas para a viagem à China. Nessa época, era proibida a entrada de mercadores estrangeiros e de missionários nesse país.

Assim, decidiu lá chegar por vias diplomáticas, acompanhando o embaixador de Portugal Diogo Pereira, seu íntimo amigo, o qual gastou todo o seu patrimônio na equipagem do navio Santa Cruz, compra de magníficos paramentos de seda e damasco, bem como de ricos ornamentos para celebrar a Santa Missa com pompa, de modo a dar aos chineses noção da grandeza da verdadeira Religião que lhes seria anunciada.

Entretanto, o governador português de Malaca — que, aliás, devia seu cargo aos bons ofícios e recomendações do Santo — impediu a viagem, alegando que só a ele caberia o comando de uma expedição à China…

O Santo mostrou-lhe a bula papal que o nomeava Legado pontifício, exigiu a liberdade de viajar à China e ameaçou o governador de excomunhão se impedisse a partida do navio. Mas esse infeliz se revoltou e chegou até a insultar o homem de Deus.

Finalmente, após várias semanas de espera, a nave Santa Cruz pôde singrar as águas em direção à China, mas sob o comando de homens nomeados pelo governador, o qual morreu pouco tempo depois, excomungado e corroído pela lepra.

Seu corpo incorrupto exalava suave perfume

Em outubro de 1552, desembarcaram na Ilha de Sancião a 180 quilômetros da cidade de Cantão, nas proximidades do Rio das Pérolas.

Tentaram conseguir algum mercador chinês que levasse o Santo até Cantão, mas todos se escusaram, pois isso era vedado pelas leis imperiais e os transgressores expunham-se a perder todos os haveres e até a própria vida.

Os portugueses o deixaram na ilha com apenas dois auxiliares: um indiano e um chinês. Celebrava Missa todos os dias. Olhava frequentemente para a China que desejava com ardor converter.

San Francisco JavierAtingido por altíssima febre e dores agudas, conduziram-no à sua improvisada cabana, onde padeceu frio, fome e toda espécie de privações.

Com os olhos banhados de lágrimas, abraçou um crucifixo e pronunciou estas frases de um cântico de glória: “Senhor, ponho em Vós toda a minha esperança. Não serei jamais confundido!”

Com a face transluzindo a alegria celeste, entregou suavemente sua alma ao Criador em 3 de dezembro de 1552.

Seu corpo, exalando suave perfume, foi posto num caixão e, à maneira chinesa, cobriram-no com cal viva pois julgavam que, consumida a carne, poderiam enviar os ossos para Goa.

Setenta dias depois, quando o colocaram num navio que se dirigia a Malaca, removida a cal, verificou-se estar seu corpo incorrupto, suas vestes sacerdotais intactas e um aroma embalsamava o ar.

Três meses depois, aportaram em Malaca. A peste que ali ceifara muitas pessoas desapareceu. Em seguida, levaram seu venerável corpo para Goa, onde foi sepultado na capela do Colégio de São Paulo, fundado pelos jesuítas, e atualmente encontra-se na Basílica do Bom Jesus.[5]

Gregório XV, em 1622, concedeu-lhe a honra dos altares no mesmo dia em que canonizou Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa de Jesus. Em 1927, Pio XI o proclamou Patrono Universal das Missões juntamente com Santa Teresinha do Menino Jesus.

Catedral de porcelana, estalas de marfim

A respeito desse grande santo, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:

“Pode-se supor que se o grande ideal de São Francisco Xavier fosse realizado e tivéssemos uma China católica, a Santa Sé provavelmente consentiria em estabelecer uma Liturgia peculiar àquele povo, com manifestações simbólicas dos dogmas da Igreja conforme as circunstâncias locais, um canto sacro próprio, edifícios sagrados inspirados nos estilos arquitetônicos chineses e segundo o talento de seus artistas.

“Imaginemos, por exemplo, a mirífica beleza de uma catedral feita de porcelana, e cuja torre, semelhante a um pagode, ostentasse no alto uma imagem da Imaculada Conceição! As estalas do presbitério talhadas em marfim, os bancos da nave central feitos de algum lindo bambu, encerado e perfumado…

“Se, diante dessa hipótese, nossa alma se entusiasma, não será difícil calcular a intensidade do entusiasmo ainda maior que latejava no coração de São Francisco Xavier”.[6]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1884, v. 34, p. 238-239.

[2] Cf. YAMASHIRO, José. História dos Samurais. 3 ed. São Paulo: IBRASA. 1993.

[3] MORAZZANI ARRÁIZ, Pedro. EP. Para a maior glória de Deus. In Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano IV, n. 47 (novembro 2005), p. 21.

[4] DARRAS, op. cit., p. 248.

[5] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 20, p. 387-392.

[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Francisco Xavier e o autêntico idealismo. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano X, n. 117 (dezembro 2007), p. 27- 28.

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