Gaza, Cardeal Parolin e as prioridades que Israel não pode ignorar
A Igreja está tomando uma posição cada vez mais favorável a um lado e distanciando-se do outro.
Foto: Wikimedia
Redação (27/08/2025 17:33, Gaudium Press) A situação em Gaza permanece inalterada, e a Igreja está assumindo uma posição cada vez mais favorável a um lado e distanciando-se do outro. A Santa Sé tem buscado assumir posições equidistantes e, em determinadas circunstâncias, oferecer sua mediação.
Contudo, para a Igreja, a paróquia da Sagrada Família, liderada pelo corajoso sacerdote argentino Romanelli, tornou-se um ponto de honra e, de certa forma, um símbolo representativo de Gaza. E o bombardeio de 17 de julho, que deixou o próprio pároco levemente ferido – apesar das palavras “explicativas” da diplomacia israelense, cujas declarações têm perdido progressivamente credibilidade – acabou inclinando a balança para um lado.
Agora, o Cardeal Secretário de Estado, em recentes declarações sobre o assunto, evidencia esse tônus mais incisivo da diplomacia vaticana.
Na abertura da 75ª Semana Litúrgica Nacional, em Nápoles, questionado sobre o recente bombardeio israelense contra o hospital Nasser, em Khan Younis – que resultou na morte de 20 pessoas –, o Cardeal Parolin não hesitou em afirmar: “Estamos chocados com o que está acontecendo em Gaza, apesar da condenação do mundo inteiro”, porque “há um coro unânime de todos em condenar o que está ocorrendo”.
“É um absurdo”, acrescentou o cardeal, observando que parece “não haver perspectivas de solução” e “que a situação se torna cada vez mais complicada e, do ponto de vista humanitário, cada vez mais precária, com todas as consequências que estamos vendo continuamente”.
As repetidas declarações do Cardeal Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém, reconhecido por ser ponderado, também refletem essa inclinação da Santa Sé. Pizzaballa não hesita em lutar (e sofrer) pelos interesses da Igreja no Oriente Médio.
Talvez Israel não esteja avaliando as repercussões internacionais de suas ações na faixa de Gaza. A narrativa de que eles foram os agressores e que estão simplesmente respondendo em legítima defesa, por mais realista que seja, está se tornando cada vez menos convincente.
Em um contexto onde Israel se encontra cercado por vizinhos hostis, é importante o país não se esquecer de que até mesmo sua subsistência depende não apenas de si mesmo, mas também do apoio de amplos setores de opinião além de suas fronteiras, especialmente neste mundo cada vez mais hiperglobalizado.
Cada vez mais, percebe-se que um conflito em uma região pode rapidamente afetar outras partes do mundo. A aproximação de navios à fronteira venezuelana, por exemplo, pode rapidamente evocar as questões com a Rússia, China, Ucrânia e o mar da China Oriental. Além disso, Israel não pode contar com o apoio irrestrito dos EUA sem o respaldo de grande parte da opinião pública americana, que também influencia as decisões do presidente americano, como ficou evidente nas críticas de Trump a Netanyahu sobre o bombardeio da paróquia em Gaza.
Por Carlos Castro
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