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Uma viagem de Leão XIV ao Líbano seria não só histórica, mas profética

A presença do Papa Leão XIV no Líbano seria uma continuidade natural de seus apelos telefônicos: a paz não se constrói apenas com negociações de gabinete, mas também com gestos de proximidade, de oração e de encorajamento espiritual.

Foto: Vatican News/ Vatican media/ Facebook

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Redação (24/08/2025 10:43, Gaudium Press) A notícia proveniente do Patriarcado Maronita do Líbano tem o peso de um gesto histórico: o Papa Leão XIV poderá visitar o Líbano ainda neste ano de 2025, entre agora e dezembro, segundo declarou o Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas. Apesar de o Vaticano ainda não ter confirmado oficialmente, diplomatas em Roma, conforme relatos da Infovaticana, acreditam que a viagem é praticamente certa, vinculando-a à planejada visita do Santo Padre à Turquia para participar das celebrações do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, programadas para o final de novembro, em Iznik e Istambul.

Se concretizada, esta será a primeira viagem internacional do Papa desde o início de seu pontificado em maio, e o seu simbolismo, nestes dois países, não poderia ser mais eloquente: a Turquia, onde se definiu o núcleo da fé cristã no Símbolo Niceno, e o Líbano, terra marcada pela presença de Cristo e hoje profundamente ferida pela violência.

O próprio contexto geopolítico não poderia ser mais desafiador. A fronteira sul do Líbano, onde milícias armadas ameaçam as comunidades locais, é palco constante de confrontos. Israel enfrenta tensões tanto internas quanto externas, e a Síria, vizinha, permanece instável. O Líbano, outrora referência de convivência e prosperidade no Oriente, vive mergulhado em uma crise econômica devastadora, sem solução política à vista, e sob a pressão crescente do islamismo militante. Este território representa, provavelmente, o ponto geográfico mais próximo que Leão XIV pode alcançar para se unir aos cristãos do Oriente Médio que sofrem com o conflito em Gaza. Neste momento, uma visita a Israel ou aos territórios palestinos não seria viável diplomaticamente, e a segurança do Pontífice levantaria obstáculos demasiados, comprometendo o caráter espiritual de qualquer deslocamento. A presença do Papa às portas de Gaza será, portanto, percebida como o gesto mais próximo e significativo que o pontífice pode agora oferecer àqueles que ele guarda em seu coração e sustenta em oração.

Leão XIV, desde os primeiros dias de seu pontificado, tem colocado a paz no Oriente Médio como eixo central de suas iniciativas diplomáticas. Suas ligações telefônicas pessoais ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e ao presidente palestino Mahmoud Abbas, noticiadas pela mídia vaticana, surpreenderam pela coragem e pela clareza. O Papa, recém-eleito, não hesitou em se posicionar como mediador espiritual diante de um conflito secular. Nessas conversas, pediu contenção, exortou ao respeito pela vida humana e insistiu na urgência de retomar um caminho de diálogo. Seu gesto não foi político no sentido estrito, mas pastoral e universal: quis erguer sua voz de pai diante de dois povos em guerra, recordando-lhes que a violência jamais gera uma paz verdadeira. Agora, ao se preparar para visitar o Líbano, Leão XIV parece estender essa mesma lógica: aproximar-se das feridas abertas da região, não por meio de discursos diplomáticos formais, mas com sua presença física e espiritual como Sucessor de Pedro.

A terra dos cedros não é apenas um palco de conflitos, mas também um coração pulsante do Cristianismo no Oriente. Ali está a maior comunidade cristã árabe do Oriente Médio; ali se ergue o Santuário de Nossa Senhora do Líbano em Harissa, visitado por milhares de fiéis muçulmanos e cristãos; ali a devoção mariana molda o tecido espiritual de um povo que resiste. Como recorda o site Infovaticana, o Líbano é uma terra mariana por excelência, onde Maria é venerada como Rainha da Paz. Para Leão XIV, que consagrou seu pontificado à intercessão de Maria, e insiste continuamente na sua mediação como caminho de reconciliação, a viagem teria uma repercussão inconfundível. Não seria apenas um gesto político ou diplomático, mas uma peregrinação mariana a favor da paz.

A história recente confirma a importância do Líbano para a Igreja. São João Paulo II, em 1997, visitou o país para proclamar a exortação apostólica Uma Nova Esperança para o Líbano, onde descreveu a nação como “mais do que um país, uma mensagem” de convivência entre culturas e religiões. Bento XVI, em 2012, ali assinou a exortação Ecclesia in Medio Oriente, fruto de um Sínodo marcado pelas dores da chamada Primavera Árabe. Francisco, por sua vez, desejava ir em 2022, mas os problemas de saúde o impediram. A presença de Leão XIV em 2025, portanto, não apenas renovaria essa tradição, mas traria novo vigor ao testemunho do Líbano como farol da Igreja no Oriente.

A viagem possui também um valor eclesial profundo. O Papa que convoca Netanyahu e Abbas ao diálogo é o mesmo que agora se dirige ao coração da cristandade árabe. É como se Leão XIV quisesse unir em uma só narrativa os dois polos do drama: a urgência da paz entre israelenses e palestinos, e a necessidade de sustentar as comunidades cristãs que permanecem no Oriente, muitas vezes esquecidas pelo Ocidente. Sua presença no Líbano seria, assim, uma continuidade natural de seus apelos telefônicos: a paz não se constrói apenas com negociações de gabinete, mas também com gestos de proximidade, de oração e de encorajamento espiritual.

Se confirmada, essa viagem não será apenas um gesto diplomático, mas um ato pastoral de rara intensidade, e até mesmo profético. Poderá ser lembrada como o instante em que Leão XIV, após falar com firmeza aos chefes de Israel e da Palestina, decidiu não permanecer apenas na esfera das palavras, mas descer ele mesmo ao local onde a comunidade cristã sofre e falar-lhes ao coração. Embora não se trate ainda da entrada solene na Terra Santa, é como se o Sucessor de Pedro estivesse às portas de Jerusalém, trazendo consigo a promessa de que a paz não é uma ilusão, mas uma vocação inscrita no coração da Igreja. E quem sabe, em 2033, no Jubileu Extraordinário pelos 2000 anos da Ressurreição, o mundo verá que Pedro não teme seguir as pegadas do Mestre até o lugar onde tudo começou, para recordar a todos que a esperança jamais poderá ser sepultada.

Por Rafael Tavares  

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