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Por que este padre ancião urge os católicos a rezarem ao Imaculado coração de Maria?

Poucos pensam em Deus, poucos recordam o destino eterno do homem, poucos refletem sobre a brevidade da vida. Padre Stefano Manelli, de noventa e dois anos, cofundador dos Franciscanos da Imaculada, reaviva no coração dos fiéis a urgência de um apelo que atravessa o tempo: a necessidade de difundir, viver e testemunhar a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

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Redação (22/08/2025 09:58, Gaudium Press) No último dia 21 de agosto, o conceituado jornalista Edward Pentin publicou no National Catholic Register, órgão integrante do grupo EWTN, um artigo de singular importância, intitulado Priest Urges Devotion to Immaculate Heart in ‘Tremendously Critical’ Times. O texto, baseado em uma conferência do Padre Stefano Manelli, de noventa e dois anos, cofundador dos Franciscanos da Imaculada, reaviva no coração dos fiéis a urgência de um apelo que atravessa o tempo: a necessidade de difundir, viver e testemunhar a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Naquele simpósio realizado em Londres, o sacerdote, já marcado pela longa experiência de vida e pelo ardor missionário, afirmou que a salvação de incontáveis almas e a paz do mundo dependem da resposta que os homens oferecerem ao chamado do Céu, manifestado nas aparições de Fátima e em tantos outros lugares em que Maria Santíssima, com a ternura materna que lhe é própria, repetiu incessantemente os convites à penitência, à oração e à conversão.

Em sua palestra intitulada Fátima e o Imaculado Coração de Maria, o Pe. Manelli não hesitou em usar palavras firmes, afirmando que, se as advertências de Fátima fossem realmente atendidas, Nossa Senhora interviria de modo misterioso para impedir a ruína de uma humanidade materialista, enlouquecida atrás dos falsos ídolos do reino de Satanás. Mas a intervenção de Maria não se dá automaticamente; é preciso que os homens colaborem, que livremente se ofereçam a corresponder às suas maternais exortações. Eis o ponto que torna ainda mais dramático o nosso tempo, pois nunca foi tão grande o abismo entre os convites celestes e a indiferença da maioria dos homens.

Na sua fala, o sacerdote recordou que Nossa Senhora, em La Salette e Lourdes, implorou por penitência, repetindo três vezes a Bernadette: “penitência, penitência, penitência”. Trata-se de uma exortação que se confirma em Fátima, mas que o mundo moderno prefere ignorar. Quem hoje pensa nesses termos quando tantas nações, grandes e pequenas ostentam arsenais de armas mortíferas e até bombas atômicas? Citando o mariologista René Laurentin, o Pe. Manelli explicou que esse apelo à penitência nada mais significa do que a conversão, o retorno a Deus. Contudo, lamentou o sacerdote, o mundo de hoje tornou-se tão secularizado que os homens já não conseguem ver a Deus, embora vejam muitas outras coisas. Essa cegueira espiritual é talvez um dos maiores dramas de nossa época. “O que acontecerá se o mundo persistir nesse caminho de erro contra a verdade, de heresias contra a fé, de corrupção contra a moral, de desprezo aos valores da família, do matrimônio, da educação, da dignidade da mulher e da juventude?”, perguntou o sacerdote em tom de advertência. E lembrou também as dolorosas perdas na vida da Igreja: o assustador declínio das vocações sacerdotais e religiosas, a diminuição da frequência aos Sacramentos e a erosão da vida litúrgica. Tudo isso compõe, segundo suas palavras, uma situação “tremendamente crítica” para todos nós.

O sacerdote evocou ainda a terceira parte do Segredo de Fátima, que fala de sofrimentos mundiais, perseguições contra cristãos, destruição de nações e a necessidade de penitência para evitar catástrofes espirituais e físicas. Essa parte do segredo, segundo Manelli, parece cumprir-se hoje mais do que nunca. Ele advertiu que pode chegar um momento em que até a intercessão de Maria já não consiga deter a justiça divina, tamanha a gravidade dos pecados da humanidade. E perguntou como despertar os povos deste mundo em perigo para que se deem conta da gravidade aterradora da situação atual. Com lucidez, lembrou palavras de autores que afirmavam que o homem se encontra sentado sobre a cratera de um vulcão, mas prefere ignorar o risco, ocupando-se com distrações superficiais. O sacerdote citou o livro As Profecias de Fátima, de Luciano Lincetto, que denuncia a frivolidade moderna: homens que gastam horas em frente à televisão, planejando férias ou assistindo corridas, mulheres voltadas apenas às modas e vaidades, jovens facilmente enredados pelas drogas, pela pornografia e pela violência. Poucos pensam em Deus, poucos recordam o destino eterno do homem, poucos refletem sobre a brevidade da vida.

Diante dessa realidade, o Pe. Manelli ressaltou mais uma vez a importância de oferecer ao mundo a graça do Imaculado Coração de Maria, caminho seguro de salvação, enraizado na conversão, na comunhão com Deus pela oração —especialmente a recitação diária do Rosário — e acima de tudo na consagração ao Imaculado Coração. Essa consagração, segundo ele, nos assimila a Maria, nos “marianiza”, e nos introduz em sua escola de vida e de amor. Trata-se de seguir Cristo por meio de Maria, de pertencer a Cristo em obediência amorosa, de cumprir o mandamento de Maria nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

O sacerdote sublinhou ainda a importância do título de Maria como Corredentora, convicção sustentada pela própria Irmã Lúcia, a vidente de Fátima. Essa doutrina, tantas vezes negligenciada, expressa a profunda participação de Maria na obra redentora de Cristo e ilumina a lógica espiritual da devoção ao seu Imaculado Coração; a Virgem não é um adorno na história da salvação, mas protagonista, associada intimamente à missão do Filho.

No plano histórico, a devoção ao Imaculado Coração se desenvolveu a partir do século XVII, com São João Eudes, que difundiu os cultos litúrgicos ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração de Maria. Posteriormente, essa devoção foi confirmada por diversos papas até que Pio XII a estendeu à Igreja universal, fixando sua festa no dia 22 de agosto, na oitava da Assunção de Maria. Com a reforma litúrgica, Paulo VI a transferiu para o sábado seguinte ao Sagrado Coração. Porém, é em Fátima que essa devoção adquire seu cunho profético, quando Maria afirma que Deus deseja estabelecer no mundo a devoção ao seu Imaculado Coração como meio para salvar as almas e alcançar a paz. Pio XII consagrou o mundo ao Coração de Maria em 1942, João Paulo II repetiu a consagração em 1984 e recentemente o Papa Francisco também consagrou a Rússia e a Ucrânia, em meio ao conflito, renovando esse gesto de confiança na presença da imagem peregrina de Fátima. O dia 22 de agosto é a Festa do Imaculado Coração de Maria no rito romano tradicional e a Memória da Bem-Aventurada Virgem Maria Rainha no Calendário Romano Geral. O Papa Leão XIV convidou os fiéis a celebrarem a festa, rezando e jejuando pela paz.

A longa vida do próprio Pe. Stefano Manelli é um testemunho de fidelidade à espiritualidade mariana. Nascido em 1933, recebeu a primeira comunhão das mãos de São Pio de Pietrelcina em 1938, ingressou no seminário franciscano aos doze anos e foi ordenado sacerdote em 1955. Inspirado por São Maximiliano Kolbe e por São Francisco de Assis, fundou em 1970, junto com o Pe. Gabriel Maria Pellettieri, a ordem dos Franciscanos da Imaculada, caracterizada pelo zelo missionário, pela promoção da devoção mariana e pela preservação da liturgia tradicional. Sob sua orientação, a ordem cresceu, expandiu-se pelo mundo e se destacou por manter vivo o espírito franciscano em íntima união com Maria.

Não obstante, entre 2013 e 2016, o Pe. Manelli sofreu um processo interno que o obrigou a se afastar da liderança dos Franciscanos da Imaculada. Durante aquele período, diversos meios de comunicação e figuras eclesiais lançaram dúvidas sobre sua pessoa, tentando manchar sua reputação. Contudo, ao fim das investigações, todas as acusações foram retiradas, e sua honra, plenamente restaurada. Hoje, Pe. Manelli se encontra em perfeita comunhão com a Igreja, em pleno vigor espiritual, dedicado à oração e à escrita. Sua figura emerge, portanto, não apenas como um teólogo, mas como um verdadeiro apóstolo do Imaculado Coração de Maria, cujo testemunho dá ainda mais força ao apelo de seu discurso em Londres.

O artigo de Edward Pentin assume especial relevância quando inserido no panorama internacional que vivemos. A guerra entre Israel e Hamas reacendeu o temor da instabilidade no Oriente Médio, arrastando consequências para comunidades cristãs já fragilizadas e ameaçadas. O espectro da guerra global, com o risco de escalada armamentista e nuclear, aproxima-se perigosamente da visão profética de Fátima, na qual Nossa Senhora alertava para o erro que a Rússia espalharia pelo mundo e para as perseguições que a Igreja sofreria. Os tempos atuais, marcados por confusão moral, divisões dentro da própria Igreja e ameaças externas, tornam ainda mais necessária a resposta generosa dos fiéis à devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Em agosto, a Igreja celebra a festa do Imaculado Coração de Maria no calendário tradicional e a memória de sua realeza no calendário reformado. São ocasiões providenciais para recordar que o triunfo do Imaculado Coração está assegurado, mas depende da colaboração dos homens. A vitória final virá, como Maria anunciou, mas até lá cabe aos cristãos corresponderem com sacrifício, oração e consagração. O Rosário permanece a arma espiritual mais eficaz, e a consagração pessoal e comunitária ao Imaculado Coração é o caminho de salvação para um mundo perdido em seus próprios labirintos. Se em 1917, diante dos horrores da Primeira Guerra Mundial, Maria urgiu os pastorinhos a rezarem, hoje esta devoção é ainda mais necessária.

Por Rafael Tavares

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