Haiti: Igreja apela para acabar com o derramamento de sangue, a impunidade e o medo
Após o recente sequestro de nove pessoas no domingo, 3 de agosto, no orfanato Sainte-Hélène, a Arquidiocese da capital condena veementemente o incidente e “o fracasso do Estado e da sociedade, que está perdendo sua sensibilidade pela vida”, e convoca o povo a “levantar suas vozes, unir-se em oração e tomar medidas para rejeitar esse clima de desumanização”.
Foto: Wikipedia
Redação (10/08/2025 10:29, Gaudium Press) Na capital haitiana e em outras regiões do país, “o crime não conhece mais limites”, constata a arquidiocese de Porto Príncipe. E, segundo a ONU, os grupos criminosos ampliaram e intensificaram seus ataques fora da capital. Pelo menos 3.141 pessoas foram mortas no país entre 1º de janeiro e 30 de junho, alertou em julho passado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. A organização teme que a violência das gangues, que se intensifica desde 2024, desestabilize outros países do Caribe.
Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, cresce a onda de violência entre gangues em Porto Príncipe, a capital do país. De acordo com a ONU, os gangues controlam atualmente cerca de 85% da cidade.
O sequestro de nove pessoas, incluindo uma missionária leiga irlandesa e uma criança de 3 anos com deficiência, foi descrito como “um novo ato de barbárie”, um “ato vergonhoso” e uma expressão do “colapso moral” que envolve toda a sociedade haitiana. Esta é a denúncia feita pela Arquidiocese de Porto Príncipe em um comunicado condenando o que ocorreu no domingo, 3 de agosto, no Orfanato Sainte-Hélène, em Kenscoff, a sudeste da capital. A Igreja apela, portanto, tanto aos fiéis, chamados a responder com orações e ajuda humanitária concreta, quanto às instituições, para que garantam a ordem, a segurança e a justiça.
Violência, ataque à sociedade
A Arquidiocese descreve o sequestro como “um ataque ao que há de mais nobre numa sociedade: o serviço gratuito ao próximo, a inocência da criança indefesa, a fé encarnada em obras de misericórdia”. Para a Igreja, essa violência afeta não apenas as vítimas diretamente envolvidas, mas também mina os próprios fundamentos da coexistência civil e da dignidade humana.
No comunicado, os bispos expressam “profunda tristeza” e “grande indignação”, enfatizando como tais crimes revelam “o fracasso do Estado e de uma sociedade que perde o sentido da vida e da dignidade humana”. É um grito de alarme diante do agravamento do clima de impunidade, onde “o inimaginável se torna rotina” e “locais dedicados ao cuidado, à educação, ao refúgio e à esperança estão se tornando alvos”.
Responsabilidade das autoridades
A Igreja continua a denunciar a gravidade da situação, fazendo um apelo concreto a toda a comunidade, convidando “todos os fiéis, todas as pessoas de boa vontade a levantarem suas vozes, unirem-se em oração e tomarem medidas para rejeitar este clima de desumanização”. Também exorta as autoridades civis, militares e policiais a “assumirem suas responsabilidades com vista a garantir a segurança dos cidadãos e obter a libertação das pessoas sequestradas”. A mensagem afirma claramente que o futuro do Haiti não pode ser construído “sobre derramamento de sangue, impunidade e medo” e que “chegou a hora de dizer juntos: basta! E agir”.
Indiferença e crise humanitária
Por fim, a Igreja adverte contra “cair na indiferença e nas disputas internas”, pois isso levaria a tornar-se “insensível ao sofrimento das vítimas” e, assim, “cúmplice da lenta, mas certa destruição do país”. De acordo com um relatório publicado pelas Nações Unidas, pelo menos, 185 sequestros foram registrados entre abril e junho. O relatório descreve a situação dos direitos humanos como “extremamente preocupante” nesta nação insular, atolada em uma prolongada crise sociopolítica que até agora resultou em milhares de mortes e milhões de pessoas deslocadas.
Apelo de Leão XIV
Após a recitação do Ângelus, o Papa Leão XIV dirigiu sua atenção ao Haiti:
“A situação da população haitiana é cada vez mais desesperadora. Há relatos recorrentes de assassinatos, violência de todos os tipos, tráfico de pessoas, exílios forçados e sequestros. Faço um apelo sincero a todos os responsáveis pela libertação imediata dos reféns e peço apoio concreto da comunidade internacional para criar as condições sociais e institucionais que permitam aos haitianos viver em paz”.
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