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Companhia de Jesus e espírito de Cavalaria

Santo Inácio de Loyola, considerando a decadência moral das sociedades espiritual e temporal, desejou fundar uma Ordem religiosa para combater esses males e glorificar a Igreja.              

Paulo III recebe as Constituicoes, Vitral do Santuario de Loyola, Espanha - Foto: Sergio Hollmann

Paulo III recebe as Constituicoes, Vitral do Santuario de Loyola, Espanha – Foto: Sergio Hollmann

Redação (09/08/2025 05:48, Gaudium Press) Regressando de Jerusalém, Santo Inácio chegou a Veneza em janeiro de 1524. Considerando a decadência moral das sociedades espiritual e temporal, desejou fundar uma Ordem religiosa para combater esses males e glorificar a Igreja. Compreendendo a necessidade de fazer estudos a fim de alcançar esse objetivo, decidiu ir a Barcelona. Caminhou a pé de Veneza até Gênova – cerca de 400 km –, onde conseguiu tomar um navio que o conduziu à capital da Catalunha, na qual passou a frequentar escola secundária para aprender latim. Seus colegas de classe eram meninos e ele contava trinta e três anos de idade…

A pedido de um sacerdote, pregou os Exercícios Espirituais no Convento dos Santos Anjos, cujas freiras estavam decadentes. Após o retiro, elas se corrigiram totalmente.

Os promotores do desregramento das religiosas ficaram furiosos e contrataram dois escravos para matarem Santo Inácio. Estando ele e o bom padre caminhando por uma estrada, foram atacados com tal violência que o sacerdote faleceu e o varão de Deus caiu desmaiado; julgando-o morto, os assassinos fugiram.

Conduzido para a casa de rica senhora, recebeu cuidadoso tratamento durante 53 dias. Restabelecido, dirigiu-se ao Convento dos Santos Anjos.

Caminhando pela rua, o instigador do crime se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdão, no que foi atendido. Mais adiante, ressuscitou um homem que se enforcara; voltando à vida, ele se confessou e em seguida morreu.

Encontro com o jovem Francisco de Borja

Terminado o curso de latim, foi cursar Filosofia na Universidade Alcalá de Henares – hoje bairro de Madri. Alojou-se no hospital da cidade e, além dos estudos, dedicou-se ao apostolado com os estudantes fazendo-lhes conferências. Muitos se converteram e comungavam todos os domingos.

Indivíduos ímpios espalharam calúnias contra nosso Santo dizendo que pregava doutrinas errôneas e, inclusive, praticava feitiçaria.

Convocado pelo chefe da Inquisição de Madri, ele caminhava pelas ruas da cidade, acompanhado de oficiais de justiça, quando se deparou com brilhante cortejo tendo à frente bela carruagem, na qual se encontrava o filho do Duque de Gandia, Dom Francisco de Borja, então com 17 anos de idade.

O varão de Deus tirou seu chapéu e saudou respeitosamente o jovem nobre, que desceu da carruagem e se prosternou diante dele, pois o considerava santo. Algum tempo depois, Dom Francisco entrou para a Companhia de Jesus e posteriormente tornou-se o Terceiro Geral da mesma.

Na sede do Tribunal, após ser examinado pelo Inquisidor, foi inocentado. Pouco tempo depois viajou à Barcelona onde decidiu ir a pé até Paris.

Basílica do Sagrado Coração de Montmartre

Era inverno. Sob um frio glacial, andando por veredas escarpadas, pedindo esmolas, ele transpôs perto de mil quilômetros e chegou à capital da França, em 2 de fevereiro de 1528.

Tendo conseguido abrigo num hospital e ajuda financeira de alguns homens ricos, frequentou a Faculdade de Artes da Universidade de Paris.

Terminado o curso de Humanidades, passou a morar nas proximidades dessa Universidade para cursar Filosofia. Tinha então 38 anos.

No local onde residia, conheceu Pedro Fabro, francês, e Francisco Xavier, nobre espanhol que, aos 18 anos de idade, era professor de Filosofia. Ambos se tornaram discípulos de Inácio. Pouco depois, Fabro foi ordenado sacerdote.

Nessa ocasião, chegaram a Paris três espanhóis e um português para completarem seus estudos na Universidade dessa cidade. Todos eles integraram-se no Grupo de Inácio, que passou a ter sete membros, incluindo o Fundador.

Em 15 de agosto de 1534 – solenidade da Assunção de Nossa Senhora – eles se dirigiram à capela do subsolo da Basílica do Sagrado Coração de Montmartre, em Paris, onde Padre Pedro Fabro celebrou Missa.

Antes da comunhão, estando o celebrante segurando em suas mãos a Hóstia, todos pronunciaram os votos de castidade, pobreza e obediência ao Papa. Tinha nascido a Companhia de Jesus.

Inquisidor-mor da França venera Inácio como santo

Alguns estudantes da Universidade de Paris fizeram ao Inquisidor-mor uma queixa contra Inácio, dizendo que ele fundara uma sociedade secreta e pregava heresias em retiros baseados num livro estranho chamado “Exercícios Espirituais”.

O Fundador entregou um exemplar da referida obra ao Inquisidor, que a leu e muito apreciou. O Santo apresentou-se de novo a ele, acompanhado de um escrivão e três doutores da Sorbonne, e pediu-lhe um documento declarando formalmente que todas aquelas acusações eram caluniosas.

O Inquisidor o atendeu e juntou à sua declaração um texto por ele redigido, no qual fazia o mais completo elogio de Inácio, afirmando que o venerava como santo.

A fim de renunciar os bens que ele e outros três discípulos possuíam na Espanha, Inácio para lá viajou a cavalo.  Ao aproximar-se do Castelo de Loyola, onde nascera e do qual se ausentara por treze anos, um cortejo de clérigos, religiosos, magistrados e principais habitantes de Azpeitia caminhavam ao seu encontro para saudá-lo.

Seus irmãos rogaram-lhe que se hospedasse no castelo, frisando que era propriedade sua, mas ele, agradecendo, abrigou-se no hospital daquela cidade.

Fez pregações que operaram muitas conversões. Dos castelos e cidades das proximidades vinham pessoas para ouvi-lo.   Curou doentes e expulsou o demônio de possessos.

Após renunciar aos seus bens, viajou a outras cidades nas quais regulou os negócios de seus três discípulos. Recebeu notícia de que Padre Fabro fizera apostolado com três doutores em Teologia da Universidade de Paris, os quais se tornaram membros da Companhia.

Aprovação pontifícia da instituição de Santo Inácio

Convocou seus filhos espirituais para um encontro em Veneza, onde Inácio e seus discípulos – exceto Pedro Fabro que já era sacerdote – foram ordenados presbíteros, em 24 de junho de 1537.

Viajaram a Roma onde o Papa Paulo III os recebeu e, pela bula de 27 de setembro de 1540, erigiu o Grupo em Ordem religiosa, com o nome de Companhia de Jesus. Em abril de 1541, Santo Inácio foi eleito seu Superior Geral.[1]

A respeito do nome escolhido por Santo Inácio para sua instituição, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:

“Quando ele fundou a Companhia, não ousou chamá-la “Cavalaria” porque esse ideal já estava aviltado, mas tudo quanto a Companhia realizou em sua época áurea foi feito com espírito de Cavalaria. Aquela vontade inquebrantável! Era tomar as atividades da inteligência, do espírito, e vivê-las a la cavaleiro.”[2]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. DAURIGNAC, JMS. Santo Inácio de Loyola – Fundador da Companhia de Jesus. Porto: Livraria católica portuense.1896, p. 81-262.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Mons. João Scognamiglio Clá Dias – II Bela caminhada. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXVII, n. 321 (dezembro 2024), p 20.

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