O suicídio do Padre Matteo Balzano: estresse e vida sacerdotal
Não se pode fazer afirmações sérias sobre o que levou o Padre Balzano a tomar essa terrível decisão sem fazer uma avaliação adequada, por exemplo, algo semelhante ao que se chama de “autópsia psicológica”.
Foto: Jacob Bentzinger / Unplash
Redação (15/07/2025 10:29, Gaudium Press) A comoção causada pelo recente suicídio do Padre Matteo Balzano na Itália — um jovem sacerdote, apreciado pela comunidade e sem motivos para reclamações — não se apaga e, em alguns ambientes, pelo contrário, suscita agora várias e necessárias reflexões.
Assim que soube do fato, rapidamente me vieram à mente notícias de fatos trágicos semelhantes. Em fevereiro de 2022, a Gaudium Press noticiou que no ano anterior havia ocorrido nove casos de suicídio de presbíteros no Brasil. Já em agosto de 2023, esse meio de comunicação divulgou que, desde 2016, 40 padres haviam se suicidado na América Latina. Ou seja, não era algo excepcional.
Evidentemente, assim como cada pessoa é um mundo, é única, o mesmo ocorre com cada caso clínico. Ou seja, não se pode fazer afirmações sérias sobre o que levou o Padre Balzano a tomar essa terrível decisão sem fazer uma avaliação adequada, por exemplo, algo semelhante ao que se chama de “autópsia psicológica”.
Entretanto, certas visões gerais podem trazer elementos importantes para a análise.
O suicídio
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde de março passado, mais de 720.000 pessoas podem estar se suicidando por ano em todo o mundo, e digo “podem” porque a própria OMS declara que, nessas áreas, os dados não são totalmente confiáveis.
O suicídio é a terceira causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Esse flagelo afeta mais os países de baixa ou média renda, embora cerca de 27% das pessoas tenham se suicidado em países de alta renda.
Como é sabido entre os profissionais, o suicídio é frequentemente a última etapa trágica de um processo depressivo, onde também frequentemente já houve uma tentativa de suicídio. Quando a OMS descreve os grupos de risco, afirma que está comprovada a relação entre suicídio e transtornos mentais, particularmente depressão e consumo de álcool, embora “muitos casos ocorram de forma impulsiva em situações de crise, quando a pessoa não se sente capaz de enfrentar fatores muito estressantes, como problemas econômicos, conflitos conjugais e doenças ou dores crônicas”.
“Viver em meio a guerras, desastres naturais, sofrer violência, abusos ou a perda de um ente querido, ou sentir-se isolado também são fatores que podem induzir comportamentos suicidas”.
Coincidindo com o anterior, efetivamente os poucos estudos sobre suicídio em sacerdotes enfatizam as correlações com sensações de isolamento e solidão, esgotamento profissional (síndrome de burnout), transtornos mentais, crises de fé, escândalos como, por exemplo, os relacionados com abuso, e uma sensação de desconfiança por parte do círculo social.
Vamos falar sobre um desses temas, sobre o qual já conversei com sacerdotes seculares.
Síndrome de Esgotamento Profissional (burnout)
Recentemente, a síndrome de Esgotamento Profissional (burnout) foi incluída na Classificação Internacional de Doenças CIE-11. Essa síndrome tem três dimensões: falta de energia ou esgotamento, com sensação de cansaço, mesmo no início do dia; sensação de distância mental ou sentimentos negativos ou cínicos em relação ao trabalho; sensação de ineficácia e falta de realização. Juntamente com sintomas físicos, destacamos os psicológicos, como ansiedade, preocupação excessiva, pensamentos catastróficos e lentidão, e “diminuição da autoestima e mudanças constantes de humor que, se não forem tratadas a tempo, podem ser causa de depressão e instabilidade emocional”.[1] É importante mencionar aqui que o burnout pode ser causa de depressão.
O burnout é o resultado de um estresse crônico e permanente no ambiente de trabalho, que não foi tratado. Saborío Morales e Hidalgo Murillo,[2] ao falar sobre sua etiologia, afirmam que é “um processo multicausal e muito complexo, no qual (além do estresse) estão envolvidas variáveis como tédio, crise no desenvolvimento da carreira profissional, más condições econômicas, sobrecarga de trabalho, falta de estímulo, orientação profissional deficiente e isolamento”. A essas variáveis, esses autores acrescentam vários fatores de risco, por exemplo, de natureza pessoal (idade, gênero, estabilidade familiar, personalidade), de formação profissional (conhecimentos teóricos excessivos, treinamento insuficiente em atividades práticas, falta de aprendizagem de técnicas de autocontrole emocional), fatores de risco específicos do trabalho (ambiente físico de trabalho deficiente, baixos salários, sobrecarga de trabalho, pouco trabalho em equipe), fatores sociais (necessidade autoimposta de prestígio social, desejo de alto status econômico), fatores ambientais (mudanças significativas na vida), entre outros.
O acima exposto é apenas um esboço de um dos distúrbios que alguns estudos associaram ao suicídio de sacerdotes, que também são homens, seres humanos. E vemos como esse esgotamento tem origens amplamente multicausais e, por isso, altamente complexas de analisar.
A impressão que acreditamos já poder compartilhar neste momento é a grande conveniência de que cada jurisdição conte com um bom aconselhamento psicológico e com facilidade de acesso a ajuda terapêutica profissional – melhor se tiver prática nos meandros da vida sacerdotal, vida que, além de sacrificada, está sob o olhar atento e o escrutínio de muitos, nem sempre benevolentes, e também está frequentemente em contato com a tragédia do homem, para levar-lhe o consolo sobrenatural, mas também recebendo uma certa carga estressante natural.
Mas há mais. Dado que a missão sacerdotal pode frequentemente ser afetada por um estresse agudo, é claro que a própria seleção dos candidatos deve privilegiar certas condições psicológicas favoráveis ao cumprimento integral da missão.
Natural e sobrenatural
Nesse sentido, a leitura do importante documento “Orientações para o uso das competências da psicologia na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio”, da Congregação para a Educação Católica, nos deixa a dupla sensação do resultado de um trabalho sério (não esperávamos menos) e da necessidade de uma atualização. Por exemplo, no ponto 5, o documento afirma que “em alguns casos, pode ser útil recorrer ao psicólogo”. Eu diria que não. Esse recurso não deveria ser uma possibilidade, mas uma exigência. É claro que não estamos defendendo a entrada no seminário de qualquer psicólogo como se fosse o substituto da graça divina. Nem da entrada indiscriminada no seminário de psicólogos ou psiquiatras contrários à visão antropológica cristã. Mas, no final das contas, assim como o homem é corpo e alma, ele também é natural e sobrenatural, e uma e outra dimensão devem ser consideradas em harmonia para o desenvolvimento espiritual.
Para concluir, queremos insistir que não descartamos a primazia da graça, que pode transformar pedras em filhos de Abraão.
Para uma vida cuja missão é fundamentalmente de natureza sobrenatural, levar os outros ao céu, seria absurdo os bons recursos da psicologia competir com os infinitos recursos divinos. Sem o sobrenatural não há nada, já o disse o Rei do natural e do sobrenatural, Cristo Senhor.
Mas mesmo neste ponto, creio que a psicologia tem algo a dizer.
Sabe-se que, em quase todos os transtornos, um fator de risco ou um fator de benefício terapêutico é a fraqueza ou a fortaleza das redes de apoio ou da rede relacional. É quase um senso comum: a dor compartilhada se divide pela metade, e as alegrias compartilhadas podem alegrar os outros. Acredito que seria possível considerar redes relacionais de sacerdotes, permanentes, que se atualizem por meio de diversas atividades e que incentivem uma vida de piedade comunitária entre os sacerdotes. Porque existem aspectos que apenas um sacerdote pode compreender em outro sacerdote. Quem sabe uma vida em comunidade, com ajustes, para todos os sacerdotes, em que todos se incentivem mutuamente na busca pela santidade?
— Se refletirmos sobre isso, precisaríamos reduzir pela metade o número de presbíteros nas dioceses.
Não. Por isso digo, com adaptações.
Mas é que, como dizia recentemente o padre Santiago Martín, dos Franciscanos de Maria: o sacerdote é um bem valioso, muito valioso. E é preciso que todos, também os leigos, não pensemos apenas em nos beneficiar dele, mas sobretudo em valorizá-lo e cuidar dele.
Por Saúl Castiblanco
[1] Torres, Y. (2022, 7 de enero). OMS oficializa el Síndrome del Burnout como una enfermedad de trabajo. Medicina y Salud Pública. https://medicinaysaludpublica.com/noticias/salud-publica/oms-oficializa-el-sindrome-del-burnout-como-una-enfermedad-de-trabajo/12348
[2] Saborío Morales, L. Hidalgo Murillo, L. Síndrome de Burnout. Med. leg. Costa Rica vol.32 n.1 Heredia Jan./Mar. 2015. https://www.scielo.sa.cr/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1409-00152015000100014
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