Turquia planeja converter a histórica Catedral Armênia de Ani em uma mesquita
A Turquia planeja converter a histórica Catedral Armênia de Ani, um local cristão centenário em Kars, em uma mesquita. Construída no século X, a igreja é considerada um exemplo significativo da arquitetura medieval armênia.
Foto: Anatolian archaeology
Redação (14/07/2025 15:38, Gaudium Press) Depois de Hagia Sophia e Chora, as duas famosas ex-basílicas cristãs de Istambul transformadas primeiro em museus e agora em mesquitas pela política nacionalista e islâmica imposta pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, outro famoso local de culto cristão corre o risco de sofrer o mesmo destino.
O deputado armênio George Aslan, do movimento pró-curdo, apresentou uma moção parlamentar em referência a relatos de que a histórica catedral armênia de Ani, uma igreja secular de Kars, será reaberta como local de culto muçulmano. Os primeiros a dar a notícia foram os meios de comunicação estatais, que falaram da próxima abertura da “mesquita” sem mencionar as suas origens.
Na sua intervenção, Aslan, que é cristão, informou que a catedral de Ani, também conhecida como Surp Asdvadzadzin, ou Santa Mãe de Deus, é uma das centenas de igrejas e mosteiros históricos da Turquia que se encontram em estado de abandono. Salientando o valor histórico, cultural e religioso da catedral, o parlamentar citou notícias que circularam recentemente em diversos meios de comunicação que sugerem a intenção de mudar o destino do edifício.
Dirigindo-se ao ministro turco da Cultura e Turismo, Nuri Ersoy, ele perguntou se “é verdade que, após a restauração da catedral de Ani, ela será aberta como mesquita? Se sim, qual é o fundamento dessa decisão?”. “A decisão de mudar a identidade religiosa dessa estrutura histórica e transformá-la em mesquita”, acrescentou, “não estaria em contradição com o caráter multirreligioso e multicultural da Turquia?”. “A decisão de transformar a Catedral de Ani em uma mesquita”, continuou ele na interpelacão, “será reconsiderada em relação à sua identidade religiosa e cultural original?”. Por fim, Aslan também perguntou “quantas igrejas ou mosteiros foram transformados em mesquitas durante seu mandato? Quantas igrejas e mosteiros foram convertidos em mesquitas nos últimos 20 anos?”, além dos casos emblemáticos de Chora e Santa Sofia.
No último dia 3 de julho, a agência estatal Anadolu publicou um artigo intitulado “A ‘mesquita da conquista’ de Ani, onde foi celebrada a primeira oração de sexta-feira na Anatólia, está sendo restaurada”. Ao descrever o local de culto e sua história, o artigo se refere a ele apenas como “Mesquita de Fethiye (da Conquista)”, omitindo sua identidade cristã original e o nome histórico de catedral de Surp Asdvadzadzin. Além disso, a conversão da catedral é apresentada no contexto da “tradição da conquista turca”, sem reconhecer sua função religiosa original. Também não é mencionada especificamente a importância cultural da catedral para o povo armênio ou sua importância para as relações entre Armênia e Turquia.
A Catedral de Ani
A Catedral de Ani fica dentro das ruínas da antiga cidade homônima, na província de Kars, no nordeste da Turquia, perto da fronteira com a Armênia. Construída no século X, é considerada um dos exemplos mais significativos da arquitetura medieval armênia. Sua construção começou em 987, durante o reinado de Smbat II, e foi concluída em 1001 ou 1010. O arquiteto foi Trdat, também conhecido por ter restaurado, no mesmo período, a famosa cúpula de Santa Sofia na antiga Constantinopla (atual Istambul). O local de culto servia como centro religioso de Ani, que era a capital da Armênia Bagrátida. Atualmente, faz parte do local arqueológico de Ani, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. Em 1064, a catedral foi usada brevemente como mesquita com o nome de “Fethiye”. Em 1199, a dinastia georgiano-armênia dos Zakaríes recuperou o controle da cidade e devolveu o edifício ao uso cristão. A estrutura sofreu graves danos durante o terremoto de 1319, que destruiu sua cúpula, enquanto outro terremoto em 1988 provocou o desabamento do canto noroeste, deixando profundas rachaduras nas paredes.
Perseguição religiosa
Na Turquia existe liberdade de culto, mas nos últimos 20 anos foram registradas violações à prática religiosa, mudanças no uso de antigas basílicas cristãs e perseguição religiosa, como o assassinato do Padre Andrea Santoro em 2006 e do Monsenhor Luigi Padovese em 2010. Com efeito, a conversão em mesquitas de antigas basílicas cristãs — que eram museus no início do século XX — de Santa Sofia e Chora faz parte da política nacionalista e islâmica imposta por Erdogan para ocultar a crise econômica e se manter no poder. Após o decreto que sancionou sua transformação, as autoridades muçulmanas cobriram com uma cortina branca as imagens de Jesus, afrescos e ícones que atestam as raízes cristãs de Hagia Sophia, uma estrutura milenar dedicada à sabedoria de Deus, que data do século VI.
Com informações Asianews
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