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Um católico pode ser cremado após a morte?

A escolha pela cremação está acompanhada de gestos que contrariam o ensinamento da doutrina católica no que diz respeito à ressurreição, pelo modo como as cinzas dos falecidos são tratadas.

Foto: Wikipedia

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Redação (01/07/2025 11:42, Gaudium Press) Já em seus primórdios, a Igreja Católica adotou o costume de sepultar os corpos dos cristãos falecidos. Prova disso são as catacumbas – que ainda existem e recebem muitos visitantes –, onde os fiéis se reuniam para rezar e assistir à Santa Missa em épocas de perseguição.

Tinha-se tal hábito em preferência à cremação não porque esta fosse, em si, um mal, mas pelo respeito devido à sensibilidade humana, à qual repugna colaborar para a destruição do corpo de um parente amado. Por outro lado, a incineração do cadáver era um ato ritual de alguns cultos pagãos, o que levou a Igreja, sempre zelosa na defesa da Fé, a optar pelo sepultamento.

Verbrennung eines Toten in einem Krematorium 2009 09 05É simples e clara a doutrina católica a esse respeito, recolhida pela então Congregação para a Doutrina da Fé: “A Igreja continua a preferir o sepultamento dos corpos, uma vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos; todavia, a cremação não é proibida, a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã” (Ad resurgendum cum Christo, n.4). Também o Catecismo da Igreja Católica nos ensina: “A Igreja permite a cremação, a não ser que esta ponha em causa a fé na ressurreição dos corpos” (CCE 2301).

São Paulo nos ensina na Primeira Carta aos Coríntios que, “se por um homem veio a morte, por um Homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, por ocasião de sua vinda” (15, 21-23). E o mesmo professamos no Credo: “Creio na ressurreição da carne, na vida eterna”.

A Liturgia, por meio das palavras, mas também por gestos, movimentos e símbolos, continua a realizar a obra de Jesus Cristo. Por isso Santo Agostinho indica que, ao enterrar os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne (cf. De cura pro mortuis gerenda, c.3, n.5). Desse modo se manifesta o que afirma Tertuliano: “A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: acreditando nisso, somos o que professamos” (De resurrectione carnis, c.1, n.1).

Por essa razão, àqueles que fazem a opção pela cremação não se deve negar os Sacramentos nem mesmo as exéquias, a não ser que em vida a pessoa tenha expressado o desejo de ser cremado por razões contrárias à Fé. Neste caso, a norma da Igreja é negar as exéquias, segundo determina o direito (cf. CIC, cân. 1184 § 1, 2º).

Com efeito, com frequência a escolha pela cremação está acompanhada de gestos que contrariam o ensinamento da doutrina católica no que diz respeito à ressurreição, pelo modo como as cinzas dos falecidos são tratadas. Por isso, recentemente a Igreja determinou cuidados especiais quanto a este ponto, como, por exemplo, que as cinzas sejam conservadas em cemitérios ou columbários, e proibiu espalhá-las – seja no ar, na terra ou na água – ou mesmo dividi-las em locais diferentes, assim como transformá-las em “joias” e outros objetos.500px US Navy 030501 N 6141B 022 Officers sailors aboard the Arleigh Burke class guided missile destroyer USS Donald Cook DDG 75500px US Navy 030501 N 6141B 022 Officers sailors aboard the Arleigh Burke class guided missile destroyer USS Donald Cook DDG 75 1

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500px US Navy 030501 N 6141B 022 Officers sailors aboard the Arleigh Burke class guided missile destroyer USS Donald Cook DDG 75Claro está que nada disso seria impedimento ao poder de Cristo, que no fim dos tempos ressuscitará todos os que morreram. Mas gestos como esses podem induzir à confusão na Fé, por terem a aparência de crenças panteístas, naturalistas ou niilistas, entre outras.

Em sentido contrário, a Igreja nos ensina que “as exéquias devem exprimir melhor o sentido pascal da morte cristã” (CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum concilium, n.81), razão pela qual se introduziu o costume de colocar o Círio Pascal junto ao caixão ou à urna contendo as cinzas do falecido.

Por fim, seja qual for o rito escolhido – o sepultamento, mais adequado, ou a cremação – não se pode perder de vista a meta de todo católico, que Santa Teresinha do Menino Jesus resumiu de forma poética, pouco antes de deixar esta terra: “Não morro, entro na vida”!

Extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 282, junho de 2025. Por Pe. Ricardo José Basso, EP.

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