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O apoio de Leão XIV à liberdade de imprensa como marca do seu pontificado

O Papa Leão XIV afirmou que a liberdade de imprensa “é um bem comum inalienável. Quem exerce esta vocação com consciência não pode ter a sua voz silenciada por interesses mesquinhos ou pelo medo da verdade”.

Leão XIV e a jornalista peruana Paola Ugaz. Foto: Vatican news

Leão XIV e a jornalista peruana Paola Ugaz. Foto: Vatican news

Redação (29/06/2025 13:26, Gaudium Press) Desde os primeiros dias de seu pontificado, Leão XIV tem demonstrado uma preocupação explícita e direta com a liberdade de imprensa. Em uma época marcada por polarização, desinformações (o Papa chegou a utilizar a expressão fake news recentemente) e crescente intimidação a jornalistas em todo o mundo, o Pontífice escolheu se posicionar não apenas como pastor, mas também como defensor da comunicação livre e orientada à verdade, particularmente no que diz respeito à cobertura dos casos de abusos no interior da Igreja Católica.

Essa postura tornou-se evidente desde sua primeira saudação à imprensa, poucos dias após sua eleição, e foi realçada em eventos subsequentes, como sua intervenção no caso da jornalista peruana Paola Ugaz, em 20 de junho passado, e seu forte discurso em defesa da liberdade de expressão e da imprensa.

A primeira mensagem aos jornalistas: sinal de um novo tempo

No dia 12 de maio de 2025, apenas quatro dias após sua eleição, Leão XIV se reuniu com jornalistas na Sala Paulo VI, tal como fizera seu antecessor, Francisco. Ali, pronunciou um discurso que rapidamente circulou nas redações do mundo inteiro.

“A Igreja reconhece nesses testemunhos – penso naqueles que relatam a guerra mesmo à custa da própria vida – a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito das pessoas de serem informadas”, disse na ocasião.

Ele ainda foi mais enfático ao afirmar: “Faço um apelo à liberdade de imprensa no mundo inteiro e peço a libertação de todos os jornalistas presos por cumprirem com honestidade seu dever de informar”.

A declaração, publicada em sites como People, AP e Washington Post, gerou grande repercussão. A imprensa vaticana também destacou esse gesto simbólico e firme.

A defesa da comunicação livre encontra respaldo na doutrina católica desde Inter Mirifica, documento do Concílio Vaticano II sobre os meios de comunicação. No entanto, Leão XIV reinterpreta esse legado diante das urgências contemporâneas e das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Para ele, a liberdade de imprensa não é apenas uma condição para a democracia civil, mas também um direito dos profissionais da comunicação social, termo cunhado pelo Concílio Vaticano II.

O Papa tem sublinhado, em diversas ocasiões, que o jornalismo pode ser um “instrumento de paz” quando comprometido com a verdade e com os mais vulneráveis. Essa forma de comunicação se caracteriza pela escuta, pela denúncia de injustiças, e ilumina. No âmbito do jornalismo investigativo, o Papa sublinha a necessidade de que este esteja voltado para o combate aos abusos de menores e vulneráveis dentro da Igreja, independentemente das consequências.

A mensagem à peça teatral sobre a jornalista Paola Ugaz

Em junho de 2025, um gesto inédito reforçou essa postura. Durante a estreia da peça “Proyecto Ugaz“, inspirada na vida e trabalho da jornalista peruana Paola Ugaz, o Papa enviou uma mensagem à produção e ao público, um ato raro por parte de um pontífice.

Ugaz, conhecida por suas investigações sobre abusos e corrupções no movimento Sodalitium Christianae Vitae, alega ter sido alvo de uma campanha de difamação e processos judiciais promovidos por juristas vinculados ou financiados por esta organização, a qual foi suprimida pelo Papa Francisco em abril deste ano. Ao manifestar seu apoio, Leão XIV deixou claro que quem denuncia com verdade não está contra a Igreja, mas pode estar a seu serviço mais profundo. “Onde um jornalista é silenciado, a alma democrática de um país se enfraquece”, afirmou enfaticamente Leão XIV em sua mensagem.

Com efeito, o artigo de Elise Allen, publicado no site Crux, Pope Leo delivers fiery defense of freedom of the press, supports Peru journalists, datado de 26 de junho de 2025, apresenta uma análise contundente. Allen descreve a firme defesa da liberdade de imprensa, feita por Leão XIV, como um marco inesperado – porém decisivo – de seu início de pontificado. O Papa manifestou apoio explícito à jornalista peruana Paola Ugaz, reconhecendo sua coragem diante de processos judiciais e campanhas difamatórias das quais a jornalista alega ser vítima.

Segundo a matéria, o posicionamento de Leão XIV vai além do simbólico; ele sinalizou que a liberdade de imprensa é uma prioridade de seu governo pastoral.

O Papa Leão XIV, em sua mensagem, afirmou que a liberdade de imprensa “é um bem comum inalienável. Quem exerce esta vocação com consciência não pode ter a sua voz silenciada por interesses mesquinhos ou pelo medo da verdade”, e reafirmou apoio a Ugaz e outros jornalistas peruanos que atualmente enfrentam processos judiciais em decorrência do exercício do jornalismo investigativo.

Segundo Elise Allen, Leão XIV inaugura também uma nova fase na relação entre o Vaticano e a imprensa: uma etapa que promete ser marcada por transparência, diálogo aberto e reconhecimento do papel fundamental da mídia como instrumento de justiça e reconciliação.

Não se trata, claro, de defender uma imprensa descontrolada. O Papa também alertou para o uso destrutivo da comunicação, quando usada para espalhar ódio, preconceito ou fake news. O que ele propõe é uma comunicação que edifica, que promove a dignidade e constrói a paz.

“A guerra das palavras é o prelúdio das guerras reais”, alerta o Pontífice.

Uma nova era para o jornalismo no Vaticano?

Desde João Paulo II, nenhum papa havia demonstrado tamanho respeito pela vocação jornalística. Com Leão XIV, a relação entre a Santa Sé e os comunicadores pode entrar em uma nova era: de escuta, confiança, e mesmo coragem para ser questionado.

Ao saudar os jornalistas poucos dias após sua eleição, Papa Leão XIV delineou as linhas de um pontificado que promete ser aberto, firme na verdade, e respeitoso da liberdade. Sua mensagem clara à imprensa internacional, o apoio concreto à jornalista peruana Paola Ugaz e suas declarações veementes em favor da comunicação livre indicam que, nesse aspecto, não haverá ambiguidade.

Será de grande relevância acompanhar como o Papa conduzirá as comunicações da Santa Sé nos próximos anos e, principalmente, observar se os órgãos de comunicação do Vaticano demonstrarão transparência e seriedade nas suas atividades, e a maneira como lidarão com as críticas ao pontificado.

Por Rafael Tavares, para Gaudium Press

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