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São Tomás Morus

Varão de elevada cultura, São Tomás Morus opôs-se aos erros nefandos de Henrique VIII e defendeu a Igreja Católica até o derramamento de sangue.

Sao Tomas Morus

Redação (18/06/2025 17:53, Gaudium Press) Filho de um advogado, São Tomás Morus nasceu na cidade de Londres, em 1478. Viveu durante quatro anos num mosteiro da Ordem dos Cartuxos, onde recebeu excelente educação. Ingressou na Universidade de Oxford e formou-se em Direito.

Professor de ciências jurídicas, tornou-se membro do Parlamento aos 26 anos de idade, casou-se e teve quatro filhos.

O Rei Henrique VII obrigou que a população pagasse um imposto para financiar a guerra contra a Escócia. Tomás, no Parlamento, discursou contra tal medida e o monarca mandou prendê-lo.
Ele, então, mudou-se para a França onde permaneceu até 1509, quando o novo soberano Henrique VIII subiu ao trono. Grande era seu prestígio e os habitantes de Londres o elegeram como juiz.

Tendo sua esposa falecido, contraiu matrimônio com uma viúva que possuía dois filhos. Sabedor de suas elevadas qualidades, Henrique VIII o nomeou seu Conselheiro e, pouco depois, tesoureiro da Casa real.

Celebridade europeia

Escreveu sete obras contra o protestantismo e, após a condenação do Cardeal Thomas Wolsey, Henrique VIII o nomeou Chanceler do reino, com o objetivo de comprá-lo. Perseguiu líderes protestantes que difundiam a heresia de Lutero, um dos quais foi queimado.

Tomás Morus “era uma celebridade europeia, um dos mais profundos conhecedores das obras da Antiguidade clássica, e não menos da literatura eclesiástica; um pensador claro e original, animado de Fé na verdade e na Revelação.

“Conhecia mais do que ninguém o Direito inglês. Em sua vida privada e pública era de total retidão, eloquente, pleno de engenho, historiador e mestre de música.”

Enfrentou o rei, o Parlamento e a própria família

Opôs-se radicalmente a Henrique VIII, que rejeitara sua legítima esposa Catarina de Aragão para se unir a Ana Bolena e se intitulou chefe supremo da igreja.

Em abril de 1534, foi preso na Torre de Londres, onde ficou durante 14 meses e redigiu a obra “Maneira de suportar a adversidade”.

Além do rei, ele enfrentou o Parlamento, a quase totalidade dos elementos do clero e a própria família.

Certo dia, sua esposa o visitou na prisão e pediu-lhe que concordasse com o rei para o bem de seus filhos. Ele respondeu: “Quereis que eu troque a eternidade pelos vinte anos que eu ainda possa viver?”

Após ter rezado o Salmo Miserere, declarou diante das pessoas que ali se encontravam: “Morro na Fé da Igreja Católica Apostólica Romana”.

Sua cabeça foi cortada e exposta sobre a Ponte de Londres durante quatorze dias.

Livro que causou muita discussão

Escreveu a obra “História do Rei Ricardo III”, que embora inacabada difundiu-se pelo reino.

Mas o livro de sua autoria que alcançou grande repercussão nos meios humanistas foi o intitulado “Utopia”, palavra que significa coisa irrealizável, quimera, fantasia.

Ele imagina uma ilha com esse nome cujos habitantes vivem num regime igualitário, onde tudo é comum; não há propriedade particular nem dinheiro.

Essa obra causou muita discussão ao longo dos tempos. Alguns autores defendem a tese de que São Tomás Morus não professava aquelas ideias absurdas. Ele quis satirizar a mania de certos filósofos eivados de espírito renascentista que sonhavam com um regime social, político e econômico, o qual era ateu e igualitário.

Qualquer que seja a interpretação dada às intenções de Morus ao escrever esse livro repleto de erros, devemos ter em vista um ponto fundamental: ele derramou seu sangue recusando as nefandas exigências de Henrique VIII e defendendo a Igreja Católica Apostólica e Romana. E foi canonizado como mártir pelo Papa Pio XI, em 1935.

A Inglaterra católica se precipitou na heresia

Um dos episódios mais tristes da História da Igreja é a passagem quase maciça da Inglaterra da plena observância da Religião Católica para o anglicanismo, no século XVI.

Como explicar que esse fato tão escandaloso tenha sido praticado, ao mesmo tempo e por tantas pessoas, pelo simples sopro de um rei?

Sintetizamos as considerações feitas por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito desse importante tema.

Acompanhando a História da Inglaterra vê-se que houve uma lenta e progressiva invasão do Estado sobre os poderes da Igreja. Esta era cada vez mais garroteada, enquanto os eclesiásticos tinham cada vez menos coragem de lutar em defesa da Esposa de Cristo.

Como resultado, a catolicidade desse país tornara-se tão superficial que foi possível derrubar a Igreja naquele reino mais ou menos como se abate uma árvore em cuja raiz há cupim: com um solavanco ela cai.

Com exceção do Cardeal João Fisher, todos os bispos do país apostataram. Os padres e as freiras, na sua quase totalidade, aceitaram a passagem para o protestantismo com uma passividade simplesmente vergonhosa.

A Inglaterra aderiu ao protestantismo não com explosões de ódio como aconteceu, por exemplo, na Alemanha, nem com uma espécie de crise de consciência coletiva que cortou o país ao meio, como se deu na Revolução Francesa, mas sim na indolência e na inexistência de qualquer reação.

Últimos bruxuleares da Idade Média

Henrique VIII encontrou em São Tomás Morus, seu primeiro Ministro, um adversário irreconciliável da anulação de seu casamento. Profundamente católico, ele recusou-se a abjurar a Fé. Foi condenado à morte. Sofreu o martírio e hoje brilha nos altares da Igreja universal com a auréola da santidade.

Pode-se dizer que, com o desaparecimento de São Tomás Morus, extinguiam-se também os últimos bruxuleares da Idade Média — moribunda naquele século XVI — e da monarquia orgânica, a qual se baseava no princípio da subsidiariedade.

Por Paulo Francisco Martos

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