Arquidiocese do Rio se posiciona diante de polêmica envolvendo o Centro Dom Bosco
Através de uma nota, se esclarece que o Centro Dom Bosco não possui qualquer reconhecimento canônico dentro da Arquidiocese, nem apresentou seus estatutos para análise das autoridades eclesiásticas.
Rio de Janeiro (17/06/2025 09:42, Gaudium Press) No dia 15 de junho de 2025, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro publicou um comunicado oficial em tom sereno, mas direto, assinado por Monsenhor André Sampaio, Delegado Episcopal para a atenção pastoral dos grupos ligados à liturgia anterior à reforma de 1970. O documento busca esclarecer a posição e os vínculos — ou a ausência deles — entre a Arquidiocese e a Associação Civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, sediada na capital fluminense. De fato, esclarece que “sua atuação se dá de forma independente e separada em relação às diretrizes e decisões da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro”.
Entidade puramente civil, sem status eclesial
Segundo o texto, o Centro Dom Bosco (CDB) não possui qualquer reconhecimento canônico dentro da Arquidiocese, nem apresentou seus estatutos para análise das autoridades eclesiásticas. Funciona, portanto, como entidade puramente civil, sem status eclesial. O alerta pastoral não se restringe a formalidades jurídicas. O esclarecimento expõe com clareza que a associação declarou submeter-se espiritualmente à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), organização em situação canonicamente irregular desde as ordenações episcopais não autorizadas realizadas em 1988 por Dom Marcel Lefebvre, fundador do grupo, que morreu publicamente excomungado, aponta o documento.
O texto também recorda que o Centro publicou recentemente uma tradução da obra “Os Erros do Catecismo Moderno”, de Michael Haynes, cuja edição original em inglês (“A Catechism of Errors”) traz prefácio do arcebispo italiano e ex-núncio apostólico dos Estados Unidos Carlo Maria Viganò, excomungado pela Santa Sé em 2024 pelo delito canônico de cisma. Trata-se de uma crítica frontal não apenas ao Catecismo da Igreja Católica promulgado por São João Paulo II, mas também aos princípios fundamentais da fé Católica, abordados sob a ótica do Concílio Vaticano II. A Arquidiocese, por meio do Delegado Episcopal, Monsenhor André Sampaio de Oliveira, adverte que o envolvimento de fiéis com entidades ligadas à FSSPX, como o Centro Dom Bosco, deve ser evitado por representar risco de confusão doutrinal e inclusive de ruptura com a comunhão eclesial.
Apelo à unidade eclesial e à comunhão com o Papa
A recomendação é clara: os católicos que se sentem ligados à forma extraordinária do rito romano devem procurar os templos e os sacerdotes designados pela própria Arquidiocese, todos em plena comunhão com a Sé Apostólica. O comunicado encerra com um apelo à unidade eclesial e à comunhão com o Papa, evocando o lema do Santo Padre, Papa Leão XIV: “In Illo uno unum”.
Nas redes sociais, a linha editorial do Centro permanece inalterada. A divulgação do “VIII Fórum Nacional da Liga Cristo Rei”, programado para agosto de 2025 e promovido em conjunto com a FSSPX, continua ativa. O tom geral segue centrado na crítica à modernidade e àquilo que denominam “deriva liberal” da Igreja pós-conciliar. Nenhuma menção à autoridade local, nenhuma retratação, nenhuma tentativa de conciliação.
Será o fim do Centro Dom Bosco?
A última live do Centro Dom Bosco no seu canal do Youtube criticava o rechaço de alguns católicos ao livro de Michael Haynes sobre os erros do catecismo, que levaram a uma “campanha de cancelamento” do CDB. O título da live é “A reação histérica dos católicos liberais!”, lançada no dia 16 de junho, pela manhã. A descrição da live diz: “Durante a semana passada, sofremos a maior tentativa de cancelamento até hoje. E ela não foi conduzida pela CNBB, mas pelos católicos liberais. Hoje, vamos responder às principais objeções levantadas – de forma não caridosa – pelas principais páginas do Instagram”.
Segundo a própria página oficial do Centro Dom Bosco, a iniciativa “é uma associação de fiéis católicos que se reúnem para rezar, estudar e defender a fé”, com a missão de resgatar a bimilenar Tradição da Igreja por meio de livros, aulas e ações apologéticas. Trata-se de homens e mulheres, leigos católicos, que se unem com o propósito de viver a serviço da Santa Igreja”.
“Estudamos a doutrina bimilenar a fim de resgatar o que foi perdido por causa do modernismo e das diversas infiltrações na estrutura eclesiástica”, afirma o site da iniciativa, que, segundo um dos fundadores, Álvaro Mendes, em live já citada, rejeita o rótulo de sedevacantista.
No título da ilustração desta mesma transmissão ao vivo, há ainda outro título proposto pela direção da instituição: “É o fim do CDB?”. Não sabemos se este será o fim do CDB, mas é certo que não será o fim da Igreja Católica, pois ela é imortal pela própria promessa de Cristo: “As portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Por Rafael Tavares
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