Gaudium news > Martírio de São João Fisher

Martírio de São João Fisher

Enquanto praticamente todo o clero da Inglaterra, traindo a Igreja Católica, se dobrou diante de Henrique VIII, São João Fisher opôs-se heroicamente contra esse tirano e defendeu a Esposa de Cristo.

Martirio de Sao Joao Fisher

Redação (11/06/2025 17:03, Gaudium Press) Filho de pequeno comerciante, São João Fisher nasceu em 1469 na cidade de Beverley, Inglaterra, e estudou na Universidade de Cambridge. Ordenado sacerdote, tornou-se confessor da mãe do Rei Henrique VII, fundador da dinastia Tudor.

Aos 35 anos de idade, foi eleito chanceler de Cambridge e logo depois sagrado Bispo de Rochester. A pedido da mãe do monarca, escreveu uma obra sobre os Salmos penitenciais que teve grande difusão no país.

O protestantismo se espalhava em todos os ambientes causando muitas apostasias. Em 1521, ele foi orador numa assembleia realizada em praça pública de Londres. Estavam presentes importantes autoridades eclesiásticas, entre as quais o Cardeal Wolsey, Chanceler do reino.

Em sua exposição, com firmeza, lógica e clareza, refutou a heresia e causou admiração pela sua notável cultura.

Pouco tempo depois, Henrique VIII – auxiliado por São João Fisher – escreveu uma obra contra os erros de Lutero e recebeu do Papa Leão X o título de “Defensor da Fé”.

Aprisionado na Torre de Londres

Nosso Santo redigiu contra Lutero e outros líderes protestantes diversos livros entre os quais o tratado sobre a Eucaristia, a mais importante de suas obras.

Opôs-se radicalmente contra o divórcio de Henrique VIII, o qual havia rejeitado sua legítima esposa Catarina de Aragão e se unira a Ana Bolena.

Em março de 1534, foi condenado à prisão perpétua bem como ao confisco de bens e conduzido ao calabouço da Torre de Londres.

Tomás Cromwell, poderoso ministro de Henrique VIII, apareceu na Torre e disse que ele precisava reconhecer o rei como chefe supremo da igreja na Inglaterra. Por ter recusado praticar tal abominação, o Santo foi condenado à morte.

O Papa Paulo III, ignorando esses fatos, nomeou São João Fisher cardeal, o que aumentou o furor do rei.

Despojado de suas vestes sacerdotais, jogaram alguns trapos sobre seu corpo e ele ali permaneceu durante 14 meses, quase sem alimentação.

Limpeza de consciência

Nas primeiras horas do dia 22 de junho de 1535, o oficial da Torre veio à sua cela e disse-lhe que, por ordem do rei, a execução seria efetuada naquela mesma manhã.

— Que horas são? perguntou o Santo.

— Cerca de cinco.

— Para que horas foi marcada a minha partida deste mundo?

— Às dez.

— Então, deixe-me repousar por duas horas, pois dormi muito pouco essa noite, não por medo, mas por causa de minhas doenças e grande fraqueza.

Ele recebeu a notícia da morte com toda a serenidade e, em seguida, pediu que lhe concedessem mais duas horas de sono. É uma extraordinária despreocupação diante de sua partida iminente deste mundo.

E adormeceu na paz de sua alma, pois estava pronto para comparecer diante de Deus que o levaria, em breve, para o Céu.

É, sem dúvida, uma impressionante manifestação de limpeza de consciência, como também a de um auxílio sobrenatural por onde ele teve essa tranquilidade na última hora de sua vida.

Martirio de Sao Joao Fisher 1

No patíbulo, querem pervertê-lo

Em seguida, pediu que lhe dessem seu manto forrado pois iria se encontrar com Jesus, Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Caminhou rumo ao cadafalso, endireitando seu corpo magérrimo.

No patíbulo, sofreu uma longa insistência por parte de seus algozes que queriam pervertê-lo renegando a Fé católica. Esse assédio no último momento não era gratuito: sabiam que se aquele homem aceitasse as propostas heréticas, seria um triunfo para o cisma anglicano.

Nada mais sedutor do que ter de escolher entre o dizer “sim” e a morte. Se ele concordasse, sairia daquele cadafalso cercado de honras e aplausos. Naquela noite dormiria em algum palácio, no meio do conforto, e com alguns anos de vida regalada pela frente.

Porém, São João Fisher receava uma tentação do demônio naquela hora. Reconheceu que poderia cair e, praticando a virtude da vigilância recomendada pelo Divino Mestre, pediu a oração dos outros em seu favor. Sobretudo, deve ter implorado a intercessão de Maria Santíssima junto ao trono de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ele se ajoelhou, rezou o Te Deum e foi decapitado. Sua cabeça, espetada numa lança, ficou exposta durante vários dias na Ponte de Londres. Mas adquiriu um encarnado sobrenatural e seus lábios pareciam se abrir para falar. Apavorado, Henrique VIII mandou que a jogassem no Rio Tâmisa.

Lampejos que provam a divindade da Igreja

Sobre São João Fisher Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:

“Na história da Inglaterra, vemos os grandes processos de atonia, de tibieza, de indiferentismo que prepararam depois toda a massa católica para as maiores defecções que deram no protestantismo.

“Mas, ao lado disso, nos deparamos com uma coisa bonita: a permanência da nota da santidade da Igreja. Porque, apesar de todas essas tristezas, é na Igreja que se vão encontrar os mártires, os homens de um caráter admirável que preferem tudo a ceder diante do adversário, e expõem tudo quanto têm, até a própria vida, para se manterem fiéis à verdadeira tradição e à continuidade eclesiástica.

“Quer dizer, mesmo quando a putrefação invade os meios católicos, a santidade da Igreja produz frutos excepcionais e tão maravilhosos como fora da Igreja não se encontram.

“Assim, ao mesmo tempo em que a Igreja é traída, renegada, vemo-la deitar uns lampejos memoráveis que provam a divindade dela. Nisto está uma espécie de afirmação contínua da assistência do Divino Espírito Santo na Igreja.

“Esta me parece ser a reflexão mais oportuna que podemos fazer sobre o martírio de São João Fisher.”

Por Paulo Francisco Martos

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas

  • Pentecostes: a realização da promessa

    Estando o Mestre ausente, tornava-se mais difícil confiar na realização de sua promessa. [caption id=”attachment_318517″ align=”aligncenter” w...

    Mais
  • Santo Efrém

    No Século IV, o Cristianismo emerge das catacumbas e Santos ilustres marcam a História, dentre eles Santo Efrém, o Sírio, diácono e Doutor da I...

    Mais