Pentecostes: a realização da promessa
Estando o Mestre ausente, tornava-se mais difícil confiar na realização de sua promessa.
Pentecostes – Igreja dos Servitas, Innsbruck (Áustria) Foto: Francisco Lecaros
Redação (08/06/2025 14:25, Gaudium Press) Normalmente um presente é proporcionado a quem o recebe, mas, ao tratar-se de graças, as regras da Providência são um pouco diferentes. A liturgia deste domingo de Pentecostes nos mostra um exemplo disso.
Se uma causa pode ser medida pelos efeitos que produz, o seguinte comentário pode esclarecer algo da importância capital da solenidade de Pentecostes, por seus manifestos efeitos:
“Apesar de tudo quanto fizera Nosso Senhor pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer – sem pretender fazer uma comparação exata – que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver, a pegar fogo no mundo e a contagiar o mundo até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.[1]
Com efeito, a descida do Espírito Santo transformou completamente os Apóstolos: de pescadores, tornaram-se os maiores pregadores da história – basta lembrar que, logo após Pentecostes, São Pedro fez um sermão que converteu três mil pessoas. De inseguros e temerosos, converteram-se em firmes e corajosos, capazes de enfrentar a perseguição, o ódio e a própria morte por amor a Cristo.
Uma graça merecida?
Contemplando todo esse panorama, uma pergunta se soma: o que eles fizeram para receber tão grande graça? Eles a mereciam?
Certamente não. Analisando-os antes de Pentecostes, encontraremos lacunas e defeitos em todos eles: João e Tiago, por exemplo, pediram à mãe que conseguisse de Nosso Senhor um lugar à esquerda e outro à direita; Filipe, depois de ter recebido tantas maravilhas no convívio com o Mestre, pediu-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” (Jo 14,8), ao que respondeu Jesus: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14,9); Pedro, por sua vez, além de O ter negado três vezes, foi chamado de Satanás… (cf. Mt 16,23).
Confiança na promessa
Mas o que fizeram então para receber tais favores? Eles não fizeram nada, pois não precisavam – o Preciosíssimo Sangue de Cristo já tinha comprado tudo; cabia-lhes somente confiar e perseverar até o cumprimento da promessa feita pelo Redentor: “Rogarei ao meu Pai e Ele há de enviar-vos um outro Paráclito, que há de permanecer eternamente convosco” (Jo 14,16).
Parece até bastante simples, mas na prática não o é…
Quando alguém nos promete algo, a nossa esperança de que aquilo se realizará é, em grande parte, uma esperança que depositamos no autor da promessa; ora, retirando-se o autor, torna-se mais custoso esperar. Foi o que se deu com os Apóstolos: após a Ascensão eles não tinham mais Nosso Senhor fisicamente; no entanto, os onze resistiram e viram o cumprimento da promessa.
A força da união
Então, o que os fez perseverar? A liturgia nos indica:
“Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam reunidos todos no mesmo lugar” (At 2, 1).
Eles ficaram todos unidos. Sem dúvida alguma, a união foi indispensável para a perseverança, pois eles apoiavam-se mutuamente. Se cada um tivesse voltado para seus egoísmos, com muito mais facilidade poderiam ter colocado em dúvida as palavras do Mestre.
Quem fica junto a Ela não esmorece
Contudo, não bastava estarem unidos, era preciso que essa união se desse em torno de Nossa Senhora, pois quem fica junto a Ela, participa das graças e da fidelidade d’Ela. Por isso nos narra a tradição que o Espírito Santo desceu primeiro sobre Maria, e de Maria passou aos doze.
Essa é a lição que a liturgia nos dá no dia de hoje: só aqueles que estiverem unidos em torno de Nossa Senhora poderão receber as graças necessárias para perseverarem em meio às dificuldades do mundo até a realização das promessas de Jesus e de Maria.
Por Artur Moraes
[1] Cf. CORRÊA DE OLIVERIA, Plinio. Conferência 6 de junho de 1986. Arquivo particular.
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