Alegria ou tristeza pela ausência do Senhor?
Vendo que o Mestre se afastava cada vez mais, os Apóstolos deviam escolher entre dois estados de espírito: alegria ou tristeza.
Foto: Sergio Hollmann
Redação (31/05/2025 20:17, Gaudium Press) Se estivéssemos em Betânia, no lugar dos Apóstolos, no momento em que Jesus subiu aos céus, qual seria nossa reação, alegria ou tristeza? A liturgia desta Solenidade da Ascensão, nos convida a subir um novo degrau na virtude da caridade, contemplando um dos benefícios da ausência física do Senhor.
Postura frente a ausência do Senhor?
“Então, Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu” (Lc 24,50-51).
Vendo que o Mestre se afastava cada vez mais, quantos sentimentos devem ter invadido as almas dos Apóstolos, acelerando as pulsações do coração ou provocando abundantes lágrimas. Certamente lhes ocorreu ao espírito que aquela voz, que tanto lhes ensinara, já não seria mais ouvida; aqueles olhos, que os fortaleciam e os encorajavam, ocultar-se-iam de suas vistas; o calor comunicativo daquele coração não seria mais sentido.
Diante dessa cena, dois estados de espírito poderiam ser assumidos: alegria, ou tristeza.
Comecemos pela tristeza. Durante os três anos de convívio próximo com Nosso Senhor, os Apóstolos constataram como Ele sempre resolvia toda e qualquer situação embaraçosa que surgisse. Se o problema eram os vendilhões no Templo? O Mestre sozinho, com um chicote na mão, os expulsava. Tempestade no mar com perigo de naufrágio? Bastava uma palavra sua para acalmar os ventos. Um cego ou um aleijado lhe pedia a cura? Com um simples gesto Jesus operava um milagre.
Agora, porém, o Mestre já não estava ao lado deles, e a segurança que eles sentiam com sua presença se dissipava.
Poderia, então, ter acontecido de algum Apóstolo se entristecer pela ausência desse conforto. Em tal caso, a tristeza teria seu fundamento no egoísmo, sendo consequência de uma vida centrada em função das próprias comodidades e interesses.
Ora, graças a Deus, o que aconteceu foi o contrário, porque os apóstolos “voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lc 24,52). Isso revela que eles se preocupavam mais com o gáudio que Jesus teria ao voltar para junto do Pai do que com suas próprias conveniências. Eles amavam tanto o Mestre que não se importavam com as vicissitudes que os assaltariam, pois, o que interessava para eles era o bem de Jesus. “Se o Mestre está bem, nós também estamos”, pensariam eles.
O segredo da alegria
Aqui se encontra um dos segredos para estar sempre alegre: sair de si e preocupar-se com os outros. Antes de tudo, preocupar-se com Deus, mas para que o amor a Deus seja autêntico, é preciso que ele se traduza no amor ao próximo. É de conhecimento geral que o pensamento excessivo em si mesmo acarreta uma série de problemas, como dificuldades no relacionamento com parentes e amigos, danos à saúde física e mental e, sobretudo, um distanciamento da união com Deus.
Por outro lado, aquele que pensa mais no bem alheio do que no próprio enternece o coração dAquele que disse “amai-vos como Eu vos amei” (cf. Jo 13,34), e coloca Deus em uma posição que, por assim dizer, O obriga a cuidar de um modo especial daqueles que se preocupam mais com o próximo do que consigo mesmos.
Felizes são aqueles que sabem confiar na Providência, pois se aquele que dá um copo de água a um profeta receberá uma recompensa de profeta,[1] o que dizer daquele que faz tudo o que está ao seu alcance para o bem material e espiritual dos filhos de Deus?
Por Rodrigo Siqueira
[1] Cf. Mt 10,41.
Deixe seu comentário