Cardeal Damasceno: mensagem de Páscoa no Ano Jubilar
Dom Damasceno pede a Jesus Ressuscitado, por intercessão de Nossa Senhora, que conceda aos Arautos do Evangelho “as graças necessárias para viverem fiel, ardorosa e plenamente o seu carisma”.
Redação (25/05/2025 14:15, Gaudium Press) O Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis enviou uma mensagem aos Arautos do Evangelho, expressando o desejo de “que este Ano Santo seja um marco de graça e de renovação espiritual para cada um de nós em particular, assim também para as Sociedades e para a Associação dos Arautos do Evangelho”.
Ele destacou que, “na fase atual da história da Igreja, sobretudo no contexto do Ano Jubilar, com fé, espírito e coração abertos, devemos recordar que a nossa tarefa principal é pôr em prática a doutrina da misericórdia e a pastoral do perdão”.
Doutrina da misericórdia
O cardeal passa, então, a explicar que, no Antigo Testamento, o povo de Israel saiu da terra da escravidão graças à misericórdia, frisando que ele “entrou numa nova terra para viver um tempo novo e uma vida nova porque o Senhor estava com ele e permanecia firme na aliança prometida. A misericórdia é a especial força do amor, que prevalece sobre o pecado e sobre a infidelidade do povo eleito”.
Dom Damasceno faz uma distinção importante: enquanto, “no Antigo Testamento, a misericórdia era apresentada com expressões, palavras e manifestações divinas, no Novo Testamento, ela encarna tais conteúdos na própria figura de Cristo”.
Para compreender a plenitude da misericórdia, revelada na história da nossa salvação, é necessário “penetrar de maneira profunda no mistério da Cruz e da Ressurreição”. Como explicitou o cardeal, “a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova”.
Pastoral do perdão
Ademais, a misericórdia manifesta-se na disposição de perdoar e na compaixão para com o próximo. Segundo o purpurado, quando aparece no Cenáculo, Jesus “oferece a paz como manifestação do perdão e da misericórdia. Dizer: ‘a paz esteja convosco’ é o mesmo que dizer: ‘estejais em paz’, pois toda a negação e todo o abandono foram perdoados no mistério da cruz porque, nela, tudo foi redimensionado a partir da generosidade do amor de Deus. […] Nesse encontro, Jesus confere à comunidade o mais sublime dos dons, conforme prometera durante a última ceia, o Espírito Santo, o Paráclito (cf. Jo 14,16.26; 15,26), o qual sustentará a comunidade enviada (v. 22)”. E ressalta que, “Jesus soprou sobre Seus discípulos capacitando-os a serem seguidores de Sua missão e a renascerem pela potência da ressurreição”.
Em seguida, ele sublinha que a alegria “deve ser uma característica marcante da comunidade que vive e celebra a presença do Ressuscitado. […] Jesus deu uma responsabilidade aos Seus discípulos. Reconciliados, eles deveriam reconciliar o mundo. Pacificados, eles seriam arautos da paz. Convictos da vida de Cristo, eles precisariam levar o Ressuscitado a todas as pessoas, de todos os lugares e em todos os tempos, […] e seriam promotores do esplendor da Verdade e anunciadores da esperança do Evangelho”.
Nesse ponto, Dom Damasceno menciona este Ano Jubilar como um tempo de graça, que “permite a tantos filhos afastados encontrarem de novo o caminho para a casa paterna. No entanto, para receber as graças do Ano Jubilar, é necessário o “Sacramento da Reconciliação, onde todos os homens podem experimentar de modo singular a misericórdia, e que representa um passo decisivo, essencial e indispensável no caminho de fé de cada um”.
Proposta de trabalho aos Arautos do Evangelho
Nesse contexto, Dom Damasceno dirige-se ao ramo sacerdotal Virgo Flos Carmeli, apresentando uma proposta de trabalho que “diz respeito aos Sacramentos da Reconciliação e da Unção dos Enfermos”.
“Sabemos que os sacerdotes dos Arautos do Evangelho já atuam em muitos hospitais administrando aos doentes ali internados os sacramentos da Reconciliação e da Unção dos Enfermos. Nesse trabalho, é notável a disponibilidade dos Arautos em atender os enfermos internos, no entanto, há um sem-número de hospitais nos quais os enfermos não contam com nenhuma assistência por parte de nossa Igreja. Então, o que preconizo é que os sacerdotes dos Arautos do Evangelho busquem alcançar, por toda parte, o maior número possível de hospitais onde, em ação planejada, coordenada e sistemática, poderão visitar os enfermos, levando-lhes a Palavra de Deus e os sacramentos do perdão: Reconciliação e Unção dos Enfermos”.
Pena Temporal, indulgência, Ano Jubilar
Porém, ele ressalta que apesar do perdão concedido no Sacramento da Reconciliação, “carregamos na nossa vida as contradições que são consequências dos nossos pecados. […] Não podemos confundir o ‘perdão dos pecados’ com a ‘remissão da pena’”.
O cardeal emérito explica que, “quando nos confessamos ao sacerdote, caso tenhamos praticado um pecado mortal, obtemos a absolvição e o perdão da pena eterna do inferno. Contudo, o pecado deixa sequelas que têm de ser saldadas por uma pena temporal: o sofrimento do dia a dia aceito com paciência e resignação ou, então, as penas do purgatório depois da morte. […] O perdão não é a remissão da pena e a cessação das consequências intoxicantes e dolorosas do pecado”.
Entretanto, Deus em sua misericórdia nos concede o perdão dessa pena temporal através da indulgência.
“É por isso que, durante os anos jubilares, assumem relevância particular as indulgências, uma vez que a misericórdia de Deus se torna indulgência do Pai, que, através da Esposa de Cristo, ministra da redenção, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado (cf. Misericordiae vultus, n. 22). O dom da indulgência permite-nos descobrir a plenitude do perdão de Deus, que não conhece limites (cf. Spes non confundit, n. 23)”, esclarece Dom Damasceno. Em seguida, ele acrescenta que “a remissão da “pena temporal” do pecado é um sério compromisso com o dom oferecido pelo Senhor à sua comunidade, mas, ao mesmo tempo, é um compromisso com a própria Igreja. Trata-se, portanto, de um compromisso com uma vida na presença do Senhor, em que todo pecado e toda injustiça devem ser deixados de lado”.
Por fim, o Cardeal Dom Damasceno conclui a mensagem com palavras de esperança na Ressurreição de Cristo que “venceu o poder da morte e ilumina o presente de nossas vidas, não só nos abrindo um futuro novo, uma vida nova, mas também fazendo-nos participantes da Sua própria vida […]. A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte onde tudo parece acabar, através de Cristo e da Sua graça que nos foi comunicada no Batismo, temos a certeza de que a vida não acaba, apenas se transforma”. E se despede, pedindo a Jesus Ressuscitado, por intercessão da Santíssima Virgem, que conceda aos Arautos do Evangelho “as graças necessárias para viver fiel, ardorosa e plenamente o seu carisma”.
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