Uma“radiografia” detalhada do Papa Prevost quando bispo em Chiclayo
As impressões se confirmam: amabilidade, firmeza, sensibilidade litúrgica, vida de oração, etc..
Foto: Vatican News
Redação (21/05/2025 17:29, Gaudium Press) Assim que ocorreu a eleição do novo pontífice, a atenção e os holofotes do mundo começaram a se voltar para seu passado, buscando obter declarações de seus irmãos, sobre como ele era na infância, seus gostos, suas máximas ou qualquer detalhe que pudesse revelar algo da personalidade do novo papa americano.
Muitos refletores também se dirigiram a Chiclayo, no Peru, onde o Papa Prevost foi bispo por mais de sete anos, de 26 de setembro de 2015 a 30 de janeiro de 2023, embora tenha sido anteriormente seu administrador apostólico.
“A maioria de nós não sabia nada sobre ele quando chegou; ele chegou em novembro de 2014 como administrador apostólico”, recorda o Padre Jorge Millán, da diocese de Chiclayo, em declarações ao site de notícias católicas The Pillar.
Foi o papa atual que nomeou o Pe. Millán pároco da Catedral.
“Ele era um homem muito aberto, muito acessível, não havia barreiras entre ele e seus sacerdotes, todos nós podíamos ligar para ele para conversar ou enviar uma mensagem, ele era muito próximo de todos nós”, acrescenta.
Esse aspecto é corroborado pelo Pe. José Luis Zamora, ex-reitor do Seminário de Chiclayo: “Ele sempre atendia o telefone e, se não pudesse falar com você, ligava de volta assim que tivesse tempo livre. Mais de uma vez, em situações de emergência, ele atendia o telefone, mesmo à meia-noite”. “Lembro-me inclusive de uma ocasião, em que um sacerdote sofreu um acidente no meio da noite em uma área rural, e ele foi imediatamente ver como poderia ajudar”, acrescenta o ex-reitor.
Um legado respeitado e enriquecido
A situação e a história da diocese de Chiclayo são singulares. Localizada no norte do Peru, a diocese foi criada em 1956. Após a morte de seu primeiro bispo em 1968, sucedeu-se Dom Ignacio Obergozo, um espanhol do Opus Dei, que, por sua vez, foi sucedido por Dom Jesús Moliné, membro da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, também ligada ao Opus Dei. Assim, durante 45 anos, prelados ligados à Obra, considerados conservadores, governaram essa jurisdição. Nesse período, foram estabelecidos um seminário e uma universidade católica, o número de paróquias dobrou e o trabalho da Igreja cresceu acentuadamente.
Quando o bispo Prevost chegou, ao contrário de qualquer desconfiança que pudesse existir, ele abraçou as instituições e o clero que lhe foram legados, trabalhando bem com todos, “fossem eles conservadores ou não”, de acordo com o The Pillar.
“Ele sempre se mostrou muito aberto para trabalhar com todos, inclusive conosco, sacerdotes do Opus Dei e da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, assim como com todas as congregações religiosas da diocese, que têm sensibilidades diferentes, ele trabalhava com todos”, diz o Pe. Millán.
Os relatos vindos de Chiclayo também se referem às posições doutrinárias de Leão XIV:
“Ele sempre demonstrou grande respeito pela doutrina, pelos ensinamentos morais católicos e pela doutrina social da Igreja. Nunca vi nada negativo que se destacasse, ele nunca foi ambíguo”, afirma o padre Zamora. “Em questões doutrinárias, ele sempre se caracterizou por grande caridade e clareza”, acrescentou.
“Ele era muito aberto, falava com todos, recebia a todos, mas era muito claro em questões doutrinárias. Falei muitas vezes com ele sobre essas questões e ele foi muito claro”, declarou o Padre Millán ao The Pillar.
Construindo sobre o que já foi construído
“Ele veio para a diocese com o propósito de aprofundar o que já havia sido realizado, sem fazer mudanças radicais. Veio com a intenção de conhecer o trabalho que estávamos fazendo e, pouco a pouco, foi dando seu toque pessoal, mas nunca veio com preconceitos por sermos ‘conservadores’; pelo contrário, sempre confiou em nós”, expressa o Padre Millán.
Por sua vez, Érika Valdivieso, que dirigiu o Instituto da Família na Universidade Católica Santo Toribio de Mogrovejo, em Chiclayo, confirma a capacidade de diálogo do bispo Prevost, mas também sua defesa da família tradicional:
“Ele sempre se interessou muito pelo trabalho que fazíamos, sempre nos incentivou a trabalhar em políticas públicas em favor da família e a promover uma mensagem pastoral e acadêmica em defesa da família”, afirma.
“Como bispo, ele sempre foi muito fiel à doutrina social da Igreja; ele nos chamou para proteger e cuidar da família, mas sempre com caridade. Nunca o ouvi usar palavras ofensivas, embora ele fosse muito claro quanto à doutrina da Igreja. Ele via todos como filhos de Deus, mas sempre falava com muita clareza em questões doutrinárias.
O bispo Prevost também se baseou na boa herança que havia recebido no seminário:
“Ele sempre incentivava as vocações nos grupos de jovens quando visitava o seminário. Ele era um homem ocupado, mas ia ao seminário sempre que os rapazes o convidavam. Lembro-me dele indo ao torneio de futebol para assistir aos jogos; ele sempre celebrava a missa nos dois grandes eventos de arrecadação de fundos do seminário e convidava as pessoas a irem”, conta o Padre Millán.
Mas também, e isso ajuda a confirmar a impressão de um homem “completo” que tanto circula, o então bispo Prevost demonstrou em sua passagem por Chiclayo suas qualidades como bom administrador e líder:
“Ele era simplesmente um homem que deixava você fazer seu trabalho. Ele nunca veio com ordens ou imposições. O único pedido direto que ele me fez em oito anos foi para rezar a Liturgia das Horas com os fiéis na catedral, então começamos a rezar as laudes e as vésperas com o povo e ele sempre nos acompanhava”, disse o Padre Millán.
Érika Valdivieso descreve o Papa como um bom ouvinte e um líder que confiava em sua equipe:
“Como grão-chanceler da universidade, ele participava de decisões importantes, mas deixava que fizéssemos nosso trabalho. Ele nos dava diretrizes, mas confiava em nós e sempre nos lembrava de que o trabalho científico de uma universidade católica é, em última análise, a busca da verdade, unindo, assim, o intelectual ao pastoral”, disse ele.
“Ele sempre soube equilibrar um bom administrador e tomar decisões com calma em seu escritório, sendo também um bispo gentil e atencioso que cuida de seu rebanho. Ele é um ótimo administrador”, disse o Padre Millán. “Eu o definiria como um homem equilibrado.
O Pe. Bernardino Gil, ex-vigário geral de Chiclayo, confirma suas impressões e revela novas facetas do que hoje é o Papa Prevost:
“Ele era um homem muito paciente, agia com rapidez, mas sem pressa”, contou o Pe. Gil ao The Pillar.
“Ele também era muito gentil e generoso… Tinha uma grande capacidade de fazer amigos”, acrescenta.
Sobre sua preocupação com os migrantes, apenas um exemplo de seu amplo zelo caritativo, o Pe. Millán relata que “ele sempre nos pedia para cuidar da Caritas na diocese. Quando a situação na Venezuela piorou, ele esteve à frente da Caritas, desenvolvendo projetos para cuidar dos refugiados venezuelanos”.
“A maior missa da diocese é a de Corpus Christi, que celebramos no maior estádio da cidade, com capacidade para 10.000 pessoas, e estava lotado. Um ano, ele solicitou que a arrecadação dessa missa fosse destinada a projetos com refugiados venezuelanos, e ele pediu isso publicamente, e os fiéis foram muito generosos e ficaram muito felizes em ajudar”, acrescentou o Pe. Millán.
Muitas atividades, que não comprometiam, mas surgiam de sua vida espiritual: “Ele tinha uma vida de oração muito disciplinada. Sempre rezava pela manhã, ao acordar, em sua capela e, em seguida, ia à catedral para as Laudes. Depois do café da manhã, ele ia para o trabalho e nós costumávamos rezar o rosário juntos por volta do meio-dia”, diz o Pe. Millán.
“Achei muito interessante o fato de ele gostar de celebrar a missa à noite, às oito horas da noite, porque tinha a mente mais clara e ele estava mais tranquilo porque não tinha nenhum trabalho em mente. Após a missa, ele dedicava outro momento à oração e depois jantava”, acrescenta.
Cuidado com a liturgia
Embora a temperatura às vezes suba bastante em Chiclayo, um lugar com muita umidade, o Padre Millán nunca o viu celebrar sem uma casula por causa do calor:
“Ele sempre estava bem vestido… sempre colocávamos um ventilador perto dele para que não ele não sentisse tanto calor”, acrescentou o padre.
O padre Millán comentou sobre uma correção fraterna que recebeu do bispo, o que demonstrou sua sensibilidade litúrgica.
“Na catedral, há muitos anos, temos o costume de sempre ter confissões disponíveis enquanto a catedral estiver aberta. Como pároco, eu costumava estar sempre no confessionário, mas às vezes tinha que sair para conversar com as pessoas ou tratar de assuntos relacionados à paróquia, então eu costumava confessar usando uma estola, mas não a alva. Certa vez, ele me viu assim e me disse que, por favor, sempre usasse a alva e a estola para confessar.
Mesmo como bispo, o bispo Prevost procurava estar disponível no confessionário.
“Ele costumava nos ajudar com as confissões na catedral quando havia grandes necessidades, como pouco antes da Páscoa ou do Natal, mas ele sempre entrava no confessionário sem que ninguém percebesse, de modo que ninguém sabia que era ele”, disse o Padre Millán.
“Quando havia crismas ou alguma festa do padroeiro em áreas rurais, às vezes nas montanhas, ele costumava ir no dia anterior para ajudar o sacerdote que estava lá com as confissões, e ele sempre tinha tudo o que precisava para celebrar a missa com dignidade; ele sempre cuidava bem desses detalhes”, acrescentou. Essa tradicional sensibilidade litúrgica do Papa, que surpreendeu alguns, não foi surpresa para os sacerdotes de sua antiga diocese.
Em suma, um homem que constrói pontes, com zelo apostólico:
“Acho que as grandes virtudes que se destacaram nele foram sua grande humildade e simplicidade. Ele era um de nós. E era um grande missionário; ele sempre queria chegar àqueles que não conheciam Jesus ou àqueles que, conhecendo-o, precisavam aprender a doutrina”, diz o Pe. Zamora.
“Ele era uma presença tranquilizadora e sempre soube como liderar confiando em seus sacerdotes”, diz o Pe. Millán. “Ele nunca impôs uma maneira de trabalhar, simplesmente respeitava o que fazíamos.
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