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O que distingue um discípulo de Jesus?

Os milagres e prodígios operados pelos apóstolos também os identificavam como seguidores de Cristo, mas não era o aspecto principal. O Divino Mestre quis que eles fossem reconhecidos pelo cumprimento do mandamento novo.

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Redação (18/05/2025 13:13, Gaudium Press) As leituras da liturgia deste Quinto Domingo da Páscoa apresentam o vínculo existente entre o amor a Deus e ao próximo que se manifesta através da aceitação do sofrimento.

No Reino de Deus, não se entra sem sofrimento

Na leitura dos Atos dos Apóstolos, São Lucas relata os derradeiros momentos da primeira viagem missionária dos apóstolos Paulo e Barnabé. Após evangelizarem a cidade de Derbe, tomaram o caminho de regresso, revisitando os lugares por onde haviam passado.

“Naqueles dias, Paulo e Barnabé voltaram para as cidades de Listra, Icônio e Antioquia. Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecerem firmes na fé, dizendo-lhes: ‘É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus’” (At 14,21b-22).

Não foi sem propósito que os Apóstolos insistiram no papel do sofrimento com esses discípulos, uma vez que eles testemunharam com os próprios olhos os padecimentos suportados pelos enviados de Deus nas suas cidades: em Antioquia, a rejeição à pregação da Boa-Nova praticamente expulsou os dois Apóstolos, forçando-os a sacudirem a poeira dos pés contra os opositores; em Icônio, ambos foram obrigados a fugir para não serem lapidados; em Listra, judeus oriundos das outras duas cidades apedrejaram a São Paulo a ponto de o darem por morto.

Entretanto, em nenhuma dessas circunstâncias os Apóstolos manifestaram o menor sinal de abatimento. Pelo contrário, a cada nova aflição seus corações abrasados pulsavam mais forte, não cabendo em si de alegria por verem-se encontrados dignos de sofrerem por amor a Jesus.

Munidos, então, com a força do exemplo, os dois Apóstolos exortavam seus discípulos a seguirem seus passos.

Deus enxugará as lágrimas dos servos fiéis

No livro do Apocalipse, São João Evangelista vê a Jerusalém Celeste descendo de junto de Deus e apresentando-se vestida qual esposa enfeitada para seu marido (Ap 21,2).

A imagem descrita pelo discípulo amado é um reflexo do vínculo matrimonial da Igreja com nosso Senhor, pois assim como a esposa não deve se enfeitar para agradar a qualquer um, mas sim ao seu marido, do mesmo modo a Esposa Mística de Cristo se orna a fim de comprazer a Jesus.

De que modo a Igreja agrada ao seu Esposo?

Basta ver o exemplo dado pelos Apóstolos na primeira leitura. Eles, quais pedras vivas da Igreja, não recuaram diante das perseguições, nem se recusaram a cumprir a missão que lhes foi confiada pelo Espírito Santo.

São João prossegue em sua visão, dizendo:

“Esta é a morada de Deus entre os homens. Deus vai morar no meio deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles. Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 21,3-4).

Ao dizer que Deus vai morar “no meio dos homens”, não se deve entender “junto com todos os homens”. Com efeito, nos versículos anteriores, São João descreve a cena da segunda morte, em que são atirados no lago de fogo aqueles que não tinham seus nomes inscritos no livro da vida. De modo que os bem-aventurados a que se refere o autor são os que atravessaram os sofrimentos da luta contra os seguidores de Satanás e não se deixaram seduzir por seus atrativos.

A estes, “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos”. Quem poderia imaginar prêmio maior? A criatura ser consolada pelo Criador! Sim, depois de terem sofrido por amor a Deus, gozarão de imensa alegria.

Sinal distintivo do seguidor de Jesus

No Evangelho, o mesmo Apóstolo narra os últimos instantes da vida do Homem-Deus antes da paixão. Quando o traidor saiu do cenáculo, Jesus manifestou ter chegado a hora em que seria glorificado.

Neste momento auge, em que o Redentor se despedia dos seus mais íntimos amigos preparando-se para a subida ao Calvário, Jesus concentrou o seu ensinamento e o resumiu dizendo:

“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13-34).

Outrora, Jesus respondera a um fariseu, dizendo: “amarás teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Mas aqui ele dá um matiz novo.

Àqueles que conviveram de perto e que puderam contemplar os gestos e o modo de ser do Mestre, Jesus convida à perfeição do amor ao próximo, não simplesmente amando-o como a si mesmo, mas indicando o novo modo de amá-lo, isto é, “como Eu vos amei”.

“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,35).

Eis, afinal, o sinal distintivo de um discípulo de Jesus.

Ele poderia dizer que os Apóstolos seriam reconhecidos pelos milagres e sinais que operassem. Mas, não! Quis o divino Mestre destacar o papel do exemplo de vida que eles deveriam dar ao mundo – e nada faz com que vida seja mais exemplar que o amor.

Amar é sofrer pelo próximo com alegria

Há um vínculo estreito entre o amor ao próximo e o sofrimento, e este é o ponto de convergência das leituras na liturgia de hoje, pois o convívio humano também é uma cruz.

Quantas vezes somos feridos por uma palavra agressiva ou por um gesto de ingratidão, por um desprezo ou por uma rejeição de alguém a quem queremos bem? E é ainda verdade que, quanto maior a relação de proximidade, tanto mais profunda será a chaga aberta.

Cabe aqui citar o exemplo de Santa Mônica, uma mãe que sorveu o cálice da amargura dado pelo próprio filho. É difícil imaginar cena mais pungente do que ver um filho crivar de desgostos o coração de sua mãe.

Entretanto, as lágrimas que ela derramou pela conversão do jovem Agostinho não foram em vão. Ela viu seu filho erguer-se do abismo do pecado, receber o batismo e tornar-se ministro do Senhor. E se hoje temos a ventura de ter um filho espiritual de Santo Agostinho sentado no trono de São Pedro, foi porque um dia, houve alguém que soube sofrer pelo próximo com alegria.

Por Rodrigo Siqueira

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