Papa Leão XIV às Igrejas Orientais: é fundamental valorizar suas tradições sem diluí-las
Em seu discurso por ocasião do Jubileu das Igrejas Orientais, Leão XIV valorizou as liturgias orientais, fez alusão à diáspora dos cristãos do Oriente, citou Santo Efrém, o Sírio, e Santo Isaac de Nínive.
Redação (14/05/2025 10:39, Gaudium Press) Em audiência com 5 mil pessoas na Sala Paulo VI, Leão XIV proferiu um discurso por ocasião do Jubileu das Igrejas Orientais. Ele expressou sua admiração por essas Igrejas, elogiou a riqueza de sua liturgia, ressaltou que toda a Igreja precisa delas e, como muitas delas estão em regiões que sofrem com a violência, mais uma vez, pediu o silêncio das armas.
Ele acolheu os fiéis orientais com uma saudação que o “Oriente cristão repete incansavelmente neste tempo pascal”: “Cristo ressuscitou. Ressuscitou verdadeiramente!” Com estas palavras, o Papa Leão XIV iniciou seu discurso na Sala Paulo VI, repleta de fiéis das Igrejas Orientais: “E é bom vê-los aqui justamente por ocasião do Jubileu da Esperança, do qual a ressurreição de Jesus é o fundamento indestrutível: Bem-vindos a Roma! Estou feliz por conhecê-los e por dedicar um dos primeiros encontros do meu pontificado aos fiéis orientais”.
O Pontífice tocou os corações dos fiéis orientais
“Vocês são preciosos. Quando os vejo, penso na diversidade de suas origens, na história gloriosa e nos duros sofrimentos que muitas de suas comunidades padeceram ou padecem”.
Depois de citar Francisco, bem como São João Paulo II e Leão XIII, seus antecessores na Cátedra de Pedro, ele elogiou a riqueza litúrgica das igrejas:
“É significativo que algumas de suas liturgias – que nestes dias vocês estão celebrando solenemente em Roma de acordo com diferentes tradições – ainda utilizem a linguagem do Senhor Jesus. Mas o Papa Leão XIII expressou um apelo sincero para que a “legítima variedade de liturgia e disciplina orientais […] reverta em […] grande decoro e utilidade para a Igreja” (Orientalium dignitas)”.
O pesadelo da guerra
Uma riqueza que não deve ser perdida pelos cristãos que precisam emigrar para o Ocidente: “[…] porque em nossos dias muitos irmãos e irmãs orientais, inclusive muitos de vocês, forçados a fugir de suas pátrias por causa da guerra e da perseguição, da instabilidade e da pobreza, correm o risco, ao chegar ao Ocidente, de perder não apenas a pátria, mas também sua própria identidade religiosa. E assim, com o passar das gerações, perde-se a inestimável herança das Igrejas Orientais”.
Circunscrições orientais na diáspora
Leão XIV insistiu no que já havia sido apontado pelo anterior Papa Leão, que “a preservação dos ritos orientais é mais importante do que se pensa’ e, para esse fim, até prescreveu que ‘qualquer missionário latino, seja do clero secular ou regular, que por conselho ou ajuda atraia qualquer oriental para o rito latino” deveria ser ‘demitido e excluído de seu ofício’. “Aceitemos o apelo para proteger e promover o Oriente cristão, especialmente na diáspora; aqui, além de erigir, onde possível e oportuno, circunscrições orientais, é necessário sensibilizar os latinos”.
A esse respeito, o Papa pediu ao Dicastério para as Igrejas Orientais que o ajudasse a definir princípios, normas e diretrizes pelas quais os pastores latinos possam apoiar concretamente os católicos orientais na diáspora.
Leão XIV destacou a importância dos cristãos orientais
“Quão grande é a contribuição que o Oriente cristão pode nos dar hoje! Quanta necessidade temos de recuperar o sentido do mistério, tão vivo em suas liturgias, que envolvem a pessoa humana em sua totalidade, cantam a beleza da salvação e despertam o deslumbramento pela grandeza divina que abraça a pequenez humana!”
E sublinhou a necessidade de o Ocidente redescobrir a espiritualidade oriental, que deve ser preservada.
“E como é importante redescobrir, mesmo no Ocidente cristão, o senso da primazia de Deus, o valor da mistagogia, a intercessão incessante, a penitência, o jejum, o choro pelos próprios pecados e pelos de toda a humanidade (penthos), tão típicos das espiritualidades orientais! Portanto, é fundamental valorizar suas tradições sem diluí-las, talvez por conveniência e conforto, para que não sejam corrompidas por um espírito consumista e utilitarista”.
Depois de citar Santo Efrém, o Sírio, e Santo Isaac de Nínive, o Papa abordou a dramática situação no Oriente Médio:
“Quem, então, mais do que vocês, pode cantar palavras de esperança no abismo da violência? […] E sobre todo esse horror, sobre os massacres de tantas vidas jovens que deveriam provocar indignação, porque, em nome da conquista militar, são pessoas que morrem, faz-se um apelo: não tanto o do Papa, mas o de Cristo, que repete: ‘A paz esteja convosco!”
Papa lembra que a paz não pode ser a paz dos cemitérios
“A paz de Cristo não é o silêncio sepulcral após o conflito, não é o resultado de uma imposição, mas um dom que se dirige às pessoas e reativa suas vidas. Oremos por essa paz, que é a reconciliação, o perdão, a coragem de virar a página e começar de novo.
Ele também se comprometeu a lutar para alcançar a paz verdadeira.
“Farei todo o possível para que essa paz se difunda. A Santa Sé está à disposição para que os inimigos se encontrem e se olhem nos olhos, para que os povos redescubram a esperança e a dignidade que merecem, a dignidade da paz”
Apelo aos governantes
“Os povos querem a paz, e eu, com o coração na mão, digo aos líderes das nações: encontremo-nos, dialoguemos, negociemos! A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem silenciar, pois não resolvem os problemas, mas os aumentam; porque entrará para a história quem semeia paz, não quem que cria vítimas; porque os outros não são, antes de tudo, inimigos, mas seres humanos: não vilões a serem odiados, mas pessoas com quem falar.
Depois de assegurar que “a Igreja não se cansará de repetir: que as armas se calem”, agradeceu aos cristãos “que, especialmente no Oriente Médio, perseveram e resistem em suas terras, mais fortes do que a tentação de as abandonar”.
Depois de uma nova citação de um santo oriental, São Simeão, o Novo Teólogo, o Papa concluiu seu discurso afirmando que “o esplendor do Oriente cristão exige, hoje mais do que nunca, a liberdade de toda dependência mundana e de toda tendência contrária à comunhão, para ser fiel na obediência e no testemunho evangélico”.
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