Sala das Lágrimas: onde o Cardeal se converte em Papa
Monsenhor Marco Agostini, Cerimoniário Pontifício, reflete sobre um dos momentos mais delicados do conclave e seu significado espiritual.
A “sala das lágrimas” durante o conclave de 2013. Foto: Vatican news
Redação (07/05/2025 09:54, Gaudium Press) Na parede do Juízo Final, na Capela Sistina, em ambos os lados do altar, há duas portas pequenas e fechadas. A da esquerda leva à chamada “sala das lágrimas ou choro”. Logo após a eleição, para se recolher em oração por alguns minutos, o papa recém-eleito entra nessa sala e encontra três batinas brancas, uma pequena, uma média e uma grande, preparadas previamente para vestir o escolhido como Sucessor de Pedro.
Monsenhor Marco Agostini, Cerimoniário Pontifício, explica: ali, o papa toma consciência do que ele se tornou, do que ele é a partir daquele momento.
Em uma das paredes da Sala das Lágrimas ou do Choro, há uma lápide datada de 31 de maio de 2013 que diz:
“Nesta sala, chamada ‘das lágrimas’ desde que Gregório XIV, que aqui, em 5 de dezembro de 1590, recém-eleito Papa, derramou lágrimas de emoção, o novo Pontífice, depois de aceitar a eleição, veste o traje apropriado”.
A sala das lágrimas é o local onde o Papa recém-eleito se recolhe em oração e troca suas vestes. Quais são as características formais dessa pequena sala?
É uma sala muito pequena, até mesmo estreita, composta por duas escadas – uma para subir e outra para descer – e uma janela. Está localizada logo atrás da grande obra de Michelangelo sobre o Juízo Final, na parede onde também foi pintado o afresco de Perugino sobre a Assunção, que não vemos mais, mas que podemos imaginar e que conhecemos graças a um desenho. Portanto, é nesse local que o Papa troca suas vestes com um olhar sobrenatural.
O que acontece nesse local é importante do ponto de vista simbólico. Nesse momento, o Papa toma consciência do que ele se tornou, do que ele é a partir desse momento. A mudança de vestes expressa a profunda mudança em sua existência. Nesse lugar, ele entende que o ofício é maior do que a pessoa. Talvez venha daí o nome “sala das lágrimas”: porque no momento em que o novo Pontífice se dá conta de que a figura do Papa é muito maior do que a pessoa que a encarna, ele também entende que, sob esse papel, terá de morrer todos os dias, para que não sua pessoa, mas o ofício se sobressaia; para que o Vigário de Cristo, o sucessor de Pedro, possa emergir hoje, depois de mais de duzentos Papas.
O papa recém-eleito fica sozinho ou alguém o auxilia?
Geralmente ele é auxiliado pelo mestre de cerimônias. Não posso dizer mais nada porque nunca estive presente e não vi a cena diretamente. Sabemos que o cardeal eleito é escoltado até aquela porta, sob o Juízo Final, à esquerda do altar, e desaparece com o mestre de cerimônias; e de lá ele sai com as vestes pontifícias.
Estamos vivendo o Ano do Jubileu, estamos atravessando a Porta Santa. Cruzar o limiar do Salão das Lágrimas também marca uma mudança profunda?
É uma mudança muito profunda, e um limiar muito especial é cruzado, porque toca a intimidade da pessoa que se torna Papa. Poderíamos dizer que isso toca o coração do Ministério Petrino: um homem que se torna Papa, um cardeal que se converte em Papa. Nós o chamamos de Papa, mas quando usamos a terminologia com a qual os Pontífices foram historicamente designados, dizemos Vigário de Cristo, Sucessor de Pedro e, como Santa Catarina de Sena o definia, o “doce Cristo na terra”. É esplêndido! Mas, repito, para contemplar essa visão, precisamos de um olhar sobrenatural, precisamos do olhar da fé.
Com informações Vatican News
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