Cardeais preocupados: déficit anual do Vaticano entre 50 e 60 milhões
O atual Prefeito da Secretaria para a Economia afirma que, se o déficit do Vaticano fosse sanado apenas por meio de cortes orçamentários, seria necessário fechar 43 das 53 entidades da Cúria Romana.
Foto: Micheile Henderson / Unplash
Redação (01/05/2025 16:20, Gaudium Press) A situação econômica do Vaticano é tão preocupante que foi o tema central na Congregação Geral dos Cardeais, marcada por intensos debates.
Nos últimos dias, têm circulado análises sobre o assunto, especialmente após a primeira rejeição do orçamento de 2025 pelo Conselho de Economia, órgão responsável pela supervisão financeira do Vaticano, devido à ausência de um plano para o déficit. Somente agora foi aprovado um orçamento com um déficit menor, notícia que foi discretamente divulgada na mídia da Santa Sé.
Desse modo, o próximo pontificado não se limitará à nova evangelização, particularmente em uma Europa já sem fé, ou a uma Igreja renovadamente cristocêntrica, como solicitado por muitos cardeais, mas também à questão da subsistência econômica. Afinal, o homem não vive só de pão, mas também.
Em síntese, o balanço dos doze anos do pontificado que se encerra é considerado insatisfatório, especialmente ao se levar em conta o déficit anual que oscila entre 50 e 60 milhões de euros, que se acumula de dezembro a dezembro sobre os ombros da cúria vaticana (o déficit estimado para 2024 é de 70 milhões). Para ilustrar a gravidade da situação econômica do Vaticano, é pertinente realizar uma comparação: o prejuízo patrimonial da Santa Sé relacionado à propriedade da Sloane Avenue em Londres foi estimado em cerca de 130 milhões de euros, tão escandaloso e tão desastroso que envolveu até mesmo um cardeal sub iudice. Assim, dois anos de déficit equivalem a outra Sloane Avenue.
Quais são as questões críticas que permanecem pendentes? O tema do Fundo de Pensões que, na época, Francisco identificou como urgente e que requeria reforma, sob pena de comprometer as futuras pensões; a queda acentuada do Óbulo de São Pedro; a gestão questionável do patrimônio imobiliário e o que alguns denominam como “valorização incompleta dos fundos não contabilizados”, revelada pelo cardeal Pell. Vale ressaltar que o Cardeal Pell foi Prefeito da Secretaria de Economia antes de ser convocado à Austrália para responder a acusações que se mostraram infundadas, mas que resultaram em sua prisão por mais de um ano.
Em suma, a Santa Sé apresenta um patrimônio líquido de cerca de 4 bilhões de dólares, que, conforme já mencionado, registra periodicamente significativas perdas operacionais.
Adentrando em detalhes, o atual Prefeito da Secretaria para a Economia afirma que, se o déficit do Vaticano fosse sanado apenas por meio de cortes orçamentários, seria necessário fechar 43 das 53 entidades da Cúria Romana, algo impensável, mas que ajuda a evidenciar a gravidade da situação.
Por sua vez, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica reportou lucros em 2023, no valor de 45,9 milhões de euros. No entanto, alguns críticos apontam que o portfólio imobiliário internacional do Vaticano só rendeu 35 milhões de euros, apesar de possuir milhares de unidades. Durante o pontificado de Francisco, o Óbolo de São Pedro foi reduzido quase à metade, mesmo com o aumento das doações voluntárias. Para cobrir o déficit, os imóveis foram vendidos, gerando receita de vários milhões.
Quanto aos fundos não contabilizados, o Cardeal Pell descobriu, em 2014, que havia cerca de 1,4 bilhão de dólares não registrados nos balanços oficiais do Vaticano. O cardeal não mencionou a existência de fundos ilegais, ilícitos ou mal administrados, apenas aqueles que não foram adequadamente contabilizados. Esses fundos foram progressivamente incorporados ao patrimônio líquido, elevando o total para 4 bilhões de euros.
O fato é que, apesar dessa considerável injeção de capital anual, o déficit significativo continua a ser registrado a cada ano, o que os analistas interpretam como um indicativo da ausência de reformas estruturais eficazes.
Os dados principais são os seguintes:
Patrimônio líquido estimado: aproximadamente 4 bilhões de euros, incluindo o orçamento da Governadoria, o IOR, o Fundo de Pensão e as Fundações.
Déficit estrutural anual: entre 50 e 60 milhões de euros.
Orçamento de 2019: déficit de 11 milhões de euros, uma melhora significativa em relação aos 75 milhões de euros em 2018.
Orçamento de 2020: déficit de 66,3 milhões de euros, impactado pela pandemia de COVID-19.
Orçamento de 2021: déficit de 49,7 milhões de euros, atenuado pelo Óbolo de São Pedro.
Orçamento de 2022: alguns afirmam que o déficit operacional foi de cerca de 78 milhões de euros.
Orçamento de 2023: déficit operacional de 83 milhões de euros, com entradas de 1.152 milhões de euros e despesas de 1.236 milhões de euros.
Orçamento de 2025: rejeitado. A primeira versão do orçamento de 2025 foi rejeitada pelo Conselho de Finanças por não conter o déficit. Um novo orçamento com um déficit menor só foi aprovado recentemente.
Com informações blog MiL e Il Messaggero
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