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Ratzinger: O Papa? O Espírito Santo nem sempre é o “culpado”

Normalmente a Providência Divina age, respeitando a liberdade de seus “instrumentos humanos”, que muitas vezes utilizam essa liberdade em uma direção contrária aos desígnios do alto.

Cardinal

Redação (29/04/2025 10:09, Gaudium Press) Após as exéquias de Francisco, que atraíram a atenção de todo o mundo, é compreensível que agora todos se voltem – católicos e não católicos, uma vez que o que está em jogo é muito elevado, não só em termos de fé mas também geopoliticamente – para quem assumirá as rédeas da Igreja que atualmente se encontra sem um condutor.

É o Espírito Santo que guia de modo indefectível a eleição de um novo Pontífice?

Aparentemente, essa questão deveria estar clara na mente dos fiéis, mas as opiniões que circulam nas turbulentas redes sociais demonstram o contrário. Assim como há vários pontos de fé que não são tão evidentes como deveriam ser para os católicos, por exemplo, a presença real de Cristo na hóstia consagrada, este assunto se revela um pouco mais complicado.

Entretanto, esta questão já recebeu uma resposta clara do Papa Ratzinger, um teólogo de renome, quando não era papa, mas já estava há mais de 15 anos à frente da então Congregação para a Doutrina da Fé.

Em 1997, em uma entrevista concedida a um jornalista da televisão bávara, que lhe perguntou explicitamente se o Espírito Santo era responsável pela escolha do Papa (se pensarmos em alguns dos não tão ilustres que ocuparam o trono de Pedro ao longo da história…), Ratzinger afirmou:

“Não afirmarei dessa forma, no sentido de que seja o Espírito Santo que o escolhe. Eu diria que o Espírito Santo não assume exatamente o controle da questão, mas, como bom educador, Ele nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar completamente. Portanto, o papel do Espírito deve ser entendido em um sentido muito mais elástico, não como se ele ditasse o candidato em quem se deve votar. Provavelmente, a única garantia que Ele oferece é que a coisa não pode ser totalmente arruinada. Há muitos exemplos de papas que o Espírito Santo evidentemente não teria escolhido”.

Certamente, Ratzinger, um especialista em muitas áreas das ciências sagradas, também o era em História da Igreja, tendo atuado como professor de Patrística e História do Dogma. Ele, portanto, sabia o que estava falando.

Ademais, é assim que normalmente a Providência Divina age, respeitando a liberdade de seus “instrumentos humanos”, que muitas vezes utilizam essa liberdade em uma direção contrária aos desígnios do alto. Contudo, no fim, e essa é a Providência, todas as coisas concorrem para a maior glória de Deus, mesmo aqueles Papas “que o Espírito Santo não teria escolhido”, entre outras razões porque tornam mais explícita a ideia de que quem sustenta a Barca de Pedro é o próprio Deus, e não meros homens.

A Providência é a própria razão da ordem das coisas em direção ao seu fim, já conhecido pela mente divina, conforme expressa São Tomás (cf. S. Th. I q. 22 a. 2). E o fim último e supremo é a glória de Deus. Portanto, mesmo os papas “ruins” colaboram com a glória de Deus.

Essa certeza era sustentada, por exemplo, por Leão XIII, que não hesitou em permitir que o historiador Ludwig von Pastor investigasse as misérias que pudesse encontrar nos arquivos secretos do Vaticano. Para esse homem, hoje uma das vozes mais respeitadas na área da história eclesiástica, a verdade se impôs: não há problema em encontrar e relatar as misérias dos homens, nem mesmo aquelas da Igreja, porque, se dependesse deles, essa instituição teria desaparecido, como tantas outras. As misérias dos homens demonstram que é Deus quem sustenta a Igreja.

Entretanto, os homens são responsáveis perante Deus por suas ações, inclusive quando se trata de eleger um papa… Por essa razão, devemos pedir luzes do Espírito Santo, ser dóceis à Sua voz e rezar. (SCM)

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