Faleceu Álvaro Mangino, um dos sobreviventes do Milagre dos Andes
Álvaro Mangino, sobrevivente do acidente aéreo de 1972 nos Andes, faleceu aos 71 anos de idade em Montevidéu, após lutar contra a pneumonia.
Redação (02/04/2025 11:50, Gaudium Press) No último sábado, dia 29 de março, a “Sociedade da Neve” perdeu um de seus membros mais queridos: na véspera de seu aniversário, Álvaro Mangino, aos 71 anos, em Montevidéu, depois de uma longa luta contra problemas respiratórios devido a uma pneumonia. Sua partida deixa um vazio na história de uma das tragédias mais comoventes e admiradas da humanidade, aquela ocorrida com o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, que caiu na Cordilheira dos Andes, em 13 de outubro de 1972.
Álvaro Mangino Schmid nasceu em Montevidéu, em 31 de março de 1953. Aos 19 anos de idade, ele viveu uma das experiências mais extremas que alguém poderia imaginar: sobreviveu a um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes, no qual 16 pessoas escaparam da morte de um total de 45 passageiros. Apesar de ter participado do acidente em um convite de última hora, a tragédia forjou seu destino de sofrimento e resistência.
72 dias de luta
Após a queda do voo 571, Mangino sofreu fraturas graves na perna esquerda, o que o deixou imobilizado. No entanto, apesar das condições extremas, da falta de alimentos, da escassez de recursos e do frio rigoroso das montanhas, Mangino demonstrou uma enorme capacidade de resiliência.
“A primeira lição que aprendemos com essa experiência é que sempre podemos estar em uma situação pior na vida e que devemos ser gratos pelo que temos. Em segundo lugar, aprendemos que, com atitude, trabalho árduo, esforço e fé, podemos alcançar o que quisermos na vida”, disse Mangino. Sua fé e determinação, juntamente com o apoio de seus companheiros, foram fundamentais para sua sobrevivência naqueles longos e angustiantes 72 dias.
Em seus dias na montanha, Mangino não apenas lutou por sua vida, mas também se envolveu em tarefas vitais para o grupo, como derreter a neve para obter água. Inicialmente isolado por não conhecer a maioria dos sobreviventes, ele logo conquistou o respeito e a admiração de seus companheiros. “Todos nós enfrentamos nossas próprias cordilheiras. A de cada um é sempre a pior, mas temos de saber que sempre podemos nos levantar”, refletiu Mangino, colocando em palavras a experiência de luta que viveram juntos.
Todas as noites, os jovens rezavam o terço, que era conduzido por Carlos Pérez, conhecido por Carlitos. Eles tinham apenas um rosário, feito de contas de vidro, que passavam de mão em mão, o qual além de atrair graças, os mantinha unidos e confiantes na ajuda divina.
Em dezembro de 1972, quando a esperança parecia estar se esvaindo, dois dos sobreviventes, Fernando Parrado e Roberto Canessa, conseguiram atravessar a cordilheira e pedir ajuda. Mangino, que não havia caminhado por 72 dias, foi um dos primeiros a embarcar no helicóptero de resgate.
Mangino e o filme “A sociedade da Neve”
Após a tragédia, Mangino reconstruiu sua vida com Margarita Arocena, sua noiva desde antes do acidente. Juntos, eles tiveram quatro filhos e moraram no Brasil antes de retornar a Montevidéu, onde Mangino trabalhou no setor de aquecimento e ar condicionado. “Todas as noites, na solidão da montanha, eu me agarrava ao este crucifixo e falava com ela [a noiva], pedindo-lhe que não se preocupasse, dizendo-lhe que eu estava bem por enquanto”, contou ele sobre aqueles momentos de angústia.
Nos últimos anos de sua vida, Mangino manteve viva a memória da tragédia, participando ativamente de documentários, entrevistas e produções cinematográficas.
Em 2023, o filme A Sociedade da Neve, dirigido por J.A. Bayona, o trouxe de volta ao centro do cenário. Interpretado pelo ator argentino Juan Caruso, Mangino foi um dos protagonistas mais destacados da história. “Ele sempre foi muito discreto, mas tem uma história tão bonita, tão rica, tão poderosa”, salientou Caruso sobre o homem que conheceu pessoalmente.
Além de seu envolvimento no filme, Mangino também prestou homenagem a seus colegas falecidos criando uma linha de vinhos chamada O Vale das Lágrimas, o mesmo nome do local onde ocorreu o acidente. Em 2023, quando já estava sofrendo da doença respiratória, ele compartilhou uma foto de sua última visita ao local, onde escreveu emocionado: “O céu nos deu um arco-íris duplo. Gosto de pensar que foi um sinal dos meus amigos que ficaram na montanha”.
Despedida de Álvaro Mangino
Em sua despedida, o diretor J.A. Bayona escreveu nas redes sociais: “Ele será lembrado por nunca ter parado de trabalhar na montanha, derretendo neve constantemente para poder fornecer água a seus companheiros”.
Mangino será lembrado não apenas como um dos sobreviventes do Milagre dos Andes, mas como um símbolo de resiliência, fé e força. Com sua morte, já são três sobreviventes partiram, deixando atrás um legado de amizade e sobrevivência que jamais será esquecido.
Com informações Religión en Libertad
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