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Uma conversão retumbante

Decidido a romper com a vida de pecado, Brentano declinou no confessionário o pesado fardo que o oprimia. Após a absolvição sacramental, em sua fisionomia se espelhava a felicidade da alma na qual voltara a habitar a graça de Deus.

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Redação (25/03/2025 17:27, Gaudium PressAos trinta e oito anos de idade, Clemente Brentano era um poeta de grande destaque nos meios literários alemães. Segundo os critérios mundanos, tinha tudo para ser um homem feliz: boa saúde, cômoda situação financeira, vida despreocupada, amplo círculo de amigos, facilidade para usufruir de todos os prazeres lícitos ou ilícitos. Entretanto, a felicidade não habitava em sua alma.

Duas tremendas decepções

Brentano recebera fraca formação religiosa na infância e não tardou a abraçar costumes contrários aos Mandamentos da Lei de Deus. Em consequência, aos poucos foi-se apagando nele a luz da fé. A certa altura, porém, a voz da consciência causou-lhe uma salutar inquietação. Expôs então sua situação a alguns de seus melhores “amigos”, na esperança de receber estímulo para uma mudança de vida.

Tremenda decepção: obteve em resposta somente menosprezo e zombarias.

Encontrava-se nesse lastimável estado quando, em 1816, travou amizade com a poetisa Luísa Hensel. Filha de um pastor luterano, ela contava apenas dezoito anos de idade, mas já se habituara a perscrutar com límpido olhar os grandiosos horizontes do Evangelho e estava a meio caminho de converter-se ao Catolicismo. Assim, ao entrar em contato com o brilhante literato católico, acendeu-se em sua alma a aspiração de ser por ele instruída na doutrina da Santa Igreja.

Luíza sofreu também uma terrível desilusão: da Religião Católica, Brentano conhecia tão pouco quanto ela, ou talvez menos…

Vá confessar-se! Vá confessar-se!”

Restavam na alma de Clemente Brentano fiapos de fé suficientes para suscitar-lhe remorsos por sua má conduta e, quiçá, saudades da inocência perdida. Por isso ele gostava de conversar com aquela jovem poetisa, cuja retidão e firmeza de caráter muito lhe agradavam.

Apesar da grande diferença de idade entre ambos, certo dia ele lhe manifestou confidencialmente a triste situação moral em que se encontrava, na expectativa de receber dela algumas palavras de alento. Qual não foi sua surpresa ao ouvir esta resposta:

— Por que dizer isso a mim, uma moça inexperiente e, ademais, luterana? O senhor é católico e, como tal, tem a felicidade de poder se confessar. Vá, pois, desabafar seu coração aos pés do confessor!

Atônito diante de tão inesperada réplica, Brentano raciocinou: “Meus amigos zombam de minha desgraça, e a filha de um pastor luterano me dá esse bom conselho!…”

— Não há outro recurso – insistiu a jovem. – Se eu fosse católica e tivesse à minha disposição o Sacramento da Penitência, como me sentiria feliz!

Brentano não tinha dúvida de ser aquela a única solução para o seu problema, mas precisou travar árdua luta para se decidir. E Luísa o ajudava, repetindo-lhe com frequência:

— Vá confessar-se! Vá confessar-se!

Conversão sincera e radical

Por fim, saiu vencedor: tomou a firme resolução de romper definitivamente com a vida de pecado.

Em fevereiro de 1817, após uma cuidadosa preparação, procurou o sacerdote cisterciense João Ambrósio Taube, ao qual fez uma Confissão geral, depondo-lhe aos pés o pesado fardo que havia tantos anos oprimia sua alma. Depois de dar-lhe a absolvição sacramental, o confessor se levantou e abraçou aquele penitente, em cuja fisionomia radiante se espelhava a felicidade da alma em que voltara a habitar a graça de Deus.

No dia seguinte, ele recebeu a Sagrada Eucaristia. Nunca se sentira tão feliz!

A notícia da conversão de Brentano foi recebida com vitupérios nos círculos intelectuais anticatólicos da Alemanha. Ele, porém, a exemplo dos beduínos que seguem tranquilamente adiante enquanto os cães ladram, limitou-se a dar abundantes provas de que se tratava de uma conversão radical: morto estava o poeta romântico; doravante todo o seu talento seria posto a serviço da Igreja.

Adotou um regime de vida de penitente, com Missa diária e frequência assídua aos Sacramentos. Ademais, distribuía aos necessitados o considerável produto da venda de suas obras.

Maior era, contudo, sua preocupação pelo bem das almas. Não perdia ocasião de fazer apostolado. Atuou de modo especial na conversão de Luísa Hensel e, mais tarde, na da pintora Emilie Linder. E não poupou esforços para favorecer o renascer do espírito religioso em sua pátria.

Discípulo e secretário de uma Bem-Aventurada

Anna Katharina Emmerick Saint VisionaryEntretanto, o grande trabalho de sua vida foi o de transcrever e ordenar os relatos das revelações sobrenaturais recebidas pela Bem-Aventurada Ana Catarina Emmerich, a conhecida freira estigmatizada que residia numa pobre casa em Dülmen, Alemanha.

Visitou-a pela primeira vez em 24 de setembro de 1818. Para ele, esse encontro foi uma emocionante surpresa. Catarina Emmerich, ao contrário, já o esperava desde muito tempo, pois sabia que o literato tinha uma missão a cumprir junto a si.

Acolheu-o como quem revê um velho conhecido e o convidou a retornar todos os dias. Além de instruí-lo em importantes pontos da doutrina católica, a santa vidente o orientava na sua vida espiritual, fazendo com que a cada dia aumentassem o enlevo e entusiasmo de Brentano por ela. “Agora eu vejo, compreendo, sinto e sei o que é a Igreja”, afirmou ele em carta a Luísa Hensel.

Transcorridos alguns meses, mudou-se para Dülmen, alojando-se num desconfortável hotelzinho onde viveu até a morte de sua mestra. Tomava diariamente notas dos relatos de suas visões. Lia depois essas anotações em seu quarto de hotel, completava de memória diversos detalhes que não tivera tempo de registrar e, por fim, reescrevia tudo. No dia seguinte, apresentava à vidente o trabalho por ele feito. Esta aprovava algumas passagens e corrigia outras. Brentano então retocava sua redação uma, duas, tantas vezes quanto fosse necessário para ser aprovada por ela.

Após a morte de Catarina Emmerich, Brentano passou o resto de sua vida no ingente labor de ordenar e dar a lume aquela grande massa de manuscritos. Não conseguiu terminar a obra. Publicou apenas o primeiro volume: A dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Encontrava-se no prelo o segundo volume – A vida da Santíssima Virgem Maria – quando faleceu, em 28 de julho de 1842.

Os preciosos registros passaram às mãos de outros literatos, entre os quais Luísa Hensel, que assumiram a incumbência de levar a cabo sua divulgação.

Assim, é sobretudo a Clemente Brentano que devemos a publicação das visões e revelações da Bem-Aventurada Ana Catarina Emmerich, que tanto bem fizeram e ainda farão in universo orbe.

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho, março 2020. Por Pe. Francisco Teixeira de Araújo, EP

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