São Nicolau de Flue: guerreiro de bravura invulgar
São Nicolau de Flüe, casado e com dez filhos, renunciou a importantes cargos, abandonou o mundo aos cinquenta anos e fez-se eremita. É o padroeiro da Suíça. Sua memória é celebrada no dia 21 de março.
Redação (21/03/2025 09:42, Gaudium Press) Filho de pastores católicos fervorosos, que gozavam de bem-estar honesto, Nicolau nasceu na Suíça em 1417.
Desde menino, contemplando os lindos panoramas, sua alma estava sempre voltada para a fonte suprema do verdadeiro, bom e belo: Deus.
Mantendo ilibada sua inocência, recebeu diversas visões sobrenaturais. Almejando a santidade, intensificou suas orações e penitências, fazendo rigorosos jejuns, com fisionomia constantemente alegre e afável.
Entremeamos dados históricos[1] relativos a esse Santo com comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.
Era de estatura elevada, magérrimo, com pele bronzeada. Duas mechas de barba desciam de seu queixo. Possuía olhar enérgico e penetrante. O som de sua voz era varonil, digno e imponente.
“Como isso é diferente de certas imagens que se veem em igrejas, onde se tem a impressão de que se aquela figura falasse emitiria um som roufenho e amolecido!”
Suíça: período de glória militar
Aos 23 anos de idade, intimado pelos magistrados, empunhou armas contra o cantão de Zurique, que se opusera à Confederação Helvética.
“A Suíça era dividida, como hoje, em cantões, ou seja, províncias tão pequenas que quase poderiam ser comparadas a municípios.
“Na época de São Nicolau de Flue, esses cantões eram quase completamente independentes uns dos outros. Tinham uma vaga confederação e viviam numa certa luta entre si, porque a influência política dentro da Suíça era disputada pelos países vizinhos.
“Cada grupo de cantões – de língua francesa, alemã, italiana, etc. – era trabalhado pela potência que lhe era afim. Então, isso proporcionava um jogo político muito intenso.
“É preciso considerar que esse foi o século militar da Suíça. Foi nesse período que os suíços começaram a se revelar grandes militares, fornecendo tropas mercenárias para a Europa inteira.
“A Guarda Suíça, que ainda serve os Papas, é uma reminiscência dessa tradição. Portanto, nessa época a Suíça ia entrando no seu período, relativamente rápido, de glória militar.”
Fachada da casa de São Nicolau de Flüe, Sachseln (Suíça)
Beleza do espírito de hierarquia
Aos trinta anos, casou-se com uma virtuosa filha de fazendeiro e tiveram dez filhos. Continuou sua vida de orações e penitência.
Participou de outras batalhas nas quais lutava tendo numa das mãos a espada e, na outra, o escudo e o Rosário. Guerreiro de bravura invulgar, foi agraciado com a mais alta condecoração do país.
“Quem, vendo hoje um Rosário, diria: ‘Esse objeto me lembra um guerreiro’? Pelo contrário, a maioria das pessoas associará o Rosário a um símbolo do homem incapaz de guerrear, de tal maneira a mentalidade “heresia branca” [sentimental] foi transformando a fisionomia moral do católico, e a ideia do católico guerreiro foi se apagando. Ora, essa é uma grave injustiça para com o Rosário”.
Terminadas as refregas, quiseram fazê-lo prefeito, mas ele não aceitou por causa da humildade de sua origem.
“Vejam a beleza do espírito de hierarquia! Ofereceram-lhe um cargo público, mas ele declara não querer exercer tal função por ser de uma origem muito humilde, em respeito às pessoas de condição mais alta que havia em seu cantão”.
Visões sobrenaturais nas encostas dos Alpes
Mas concordou em ser juiz, cargo que exerceu com rara habilidade durante nove anos. Deixou-o para se dedicar ao pastoreio e continuou a receber muitas visões sobrenaturais.
“Que bela a simplicidade desse homem que, tendo sido guerreiro, escolhido para prefeito e juiz, recolhe-se à vida privada e vai guiar rebanhos!
“Há algo mais bonito do que um pastor ter visões nas encostas dos Alpes? Coisa maravilhosa! Naquela natureza poética, ele toca o olifante e, de repente, ouve um Anjo que continua o seu toque. Esse Anjo vai para os Céus e o gado se recolhe tranquilamente ao redil, guiado por outro espírito angélico.
“Está feita uma visão, num desses crepúsculos ou numa dessas auroras feéricas da Suíça, em que a neve fica rosada, azul-claro, e o céu se tinge de todas as cores. Um Anjo em meio à inocência daquela natureza é uma coisa absolutamente superior!”
Interior da casa de São Nicolau de Flüe, Sachseln (Suíça)
Por 20 anos, alimentou-se somente da Eucaristia
Com a aprovação de sua esposa e filhos, aos 50 anos de idade tornou-se ermitão, vivendo junto a uma capela onde participava da Missa diária. Por duas décadas, alimentou-se somente da Sagrada Eucaristia, recebida uma vez por mês.
Amado e venerado por seus concidadãos, que muitas vezes o chamaram para apaziguar contendas entre os cantões, ele sempre obteve êxito nessas missões.
“Notem o que era a visão política da Idade Média, apesar de já decadente. Aqueles cantões, como dissemos, tinham entre si rixas que chegavam a provocar guerras.
“Nessas contendas, com certeza, uma das partes não tinha razão – quando não acontecia de ambas as partes estarem de má-fé; para evitar o derramamento de sangue, os dois lados iam procurar o Santo. E São Nicolau de Flue nunca foi mal sucedido na sua missão.
“Ora, qual foi a missão em que a ONU foi realmente bem-sucedida? Ademais, com que confiança se procurava um Santo, e com que mil reservas se procura a ONU. Do que adianta um aparato jurídico quando falta a santidade?”
Restos mortais cobertos de condecorações
Pouco antes de completar 70 anos de idade, Nicolau foi atingido por dores violentas e dizia: “Ah, como a morte é terrível!” Mas, cheio de confiança em Nossa Senhora, exalou o último suspiro com grande calma, em 21 de março de 1487.
Seus restos mortais foram depositados sob o altar-mor da igreja de Sachseln – aldeia onde ele nasceu –, ornado de ouro e diamantes, trazendo ao pescoço condecorações de numerosas Ordens militares que foram conquistadas pelos seus descendentes ao servirem outros países.
“Os descendentes desse Santo, ao conquistarem insígnias, enviaram-nas para serem postas sobre o cadáver dele. Que respeito à tradição e que amor ao passado isso indica!
“Aqueles que negam qualquer valor à hereditariedade levam com isso um verdadeiro soco. O herói que tira a condecoração do peito para honrar o Santo, seu antepassado, dá a entender ser mais bonito descender de São Nicolau do que estar coberto de todas as honras da Terra. Essa atitude é densa, cheia de significado.”
“Peçamos a São Nicolau de Flue a graça de não vulgarizar, na vida de todos os dias, os favores celestes recebidos. Que ele se apiede de nós e se debruce sobre nossa fraqueza, e dê estabilidade aos bons pensamentos que possam passar por nossas almas”.[2]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 5. p. 390-411.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, PLINIO. Um guerreiro perfeito. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXI, n. 240 (março 2018), p. 26-30.
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