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Amado desde toda a eternidade!

Aos seus eleitos, Deus dá todos os dons necessários para o cumprimento de sua missão específica. Qual terá sido o quilate das dádivas celestiais concedidas por Nosso Senhor ao homem que Ele mais amou na terra?

“Coroação de São José”, por José Ibarra - Museu Nacional do Vice-Reino, Tepotzotlán (México) Foto: Reprodução

“Coroação de São José”, por José Ibarra – Museu Nacional do Vice-Reino, Tepotzotlán (México) Foto: Reprodução

Redação (16/03/2025 12:13, Gaudium Press) À relação amorosa entre Deus e sua excelsa Mãe, Filha e Esposa, associa-se alguém escolhido para uma missão toda especial no mistério da Encarnação: São José.

Aos olhos de Deus, a Sagrada Família de Nazaré participa de um mesmo plano salvífico de Deus, desde o decreto de predestinação, único para Jesus, Maria e José, sendo eles, de modo conjunto e hierárquico, os primeiros predestinados com vistas à Redenção. Assim, diante do egrégio chamado que recebeu São José – nada menos do que velar sobre os maiores tesouros de Deus –, nos perguntamos: com que dádivas e graças não terá sido sua alma enriquecida?

Certos teólogos, como o Cardeal Lépicier, no intuito de delinear o perfil moral deste insigne varão, explicam que sua grandeza deriva de três fontes: em primeiro lugar, de suas relações com o Verbo Encarnado; em segundo, de suas relações com a Santíssima Virgem; e, por fim, de suas relações com a Santa Igreja.

Analisemos, portanto, ainda que num relance, os dons incomparáveis que foram confiados por Nosso Senhor a seu castíssimo pai, a fim de melhor admirarmos a envergadura deste tríplice chamado.

Participação na união hipostática

A ordem da criação encontra seu apogeu na união hipostática do Homem-Deus, em que a natureza humana e a divina estão unidas, como num suporte, na Pessoa do Verbo. Desta união somente a humanidade santíssima de Jesus Cristo participa de modo absoluto. Nossa Senhora, por sua vez, participa desta ordem de maneira extraordinária e intrínseca, não substancial, mas real, por sua cooperação necessária no plano divino da Encarnação.

Junto a Maria, São José foi chamado a pertencer de forma muito próxima a esta altíssima realidade, dada sua função diretamente ligada à Pessoa do Redentor. Como ressalta Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, em sua obra São José, quem o conhece?…, a cooperação do Santo Patriarca para a concepção de Cristo não ocorreu do ponto de vista biológico, mas sim moral, que é o aspecto mais nobre. Assim, essa cooperação com o plano da união hipostática foi verdadeira, moralmente necessária e íntima pois, por sua disposição de cumprir a vontade divina com toda a radicalidade e nos pormenores, pode-se afirmar que, de modo implícito, ele acatou na alegria de sua alma o plano de Deus sobre a concepção virginal, ainda que não o conhecesse em seus detalhes.

Ademais, sem a aceitação de São José em desposar Maria, o Verbo Encarnado não poderia entrar no mundo como o Criador desejou desde os primórdios da humanidade, ou seja, no seio de uma família bem constituída. Somente seu consentimento tornaria possível a Nossa Senhora ser Virgem e Mãe de maneira digna e conveniente; e a ele, pelo direito a tudo o que pertencia à sua esposa, ser também virgem e pai, ou melhor, pai virginal de Jesus, “o título mais perfeito para referir-se à sua relação com o Filho de Deus”.

Um “deus” para o próprio Deus

É preciso também considerá-lo como pai real de Nosso Senhor. Em primeiro lugar, porque as palavras de Deus não somente simbolizam, mas, gozando de eficácia própria, realizam de fato aquilo que significam. Ora, Jesus evidentemente chamou São José de “pai”, o que é, em si, uma prova flagrante de sua verdadeira paternidade. Além disso, a própria Virgem Santíssima confirmou a paternidade virginal de seu esposo, ao encontrar o Menino Jesus no Templo e dizer: “Teu pai e Eu Te procurávamos” (Lc 2, 48).

Outros trechos da Escritura ainda comprovam ser real, e não só simbólica ou jurídica, a paternidade de São José. São Mateus, por exemplo, elenca a genealogia de Cristo a partir do Santo Patriarca (cf. Mt 1, 16) pois, para o povo judeu, a hereditariedade sempre provinha do varão. E o Anjo confia a José a função paterna de impor o nome a Jesus (cf. Mt 1, 21), tarefa simples, mas na qual se consigna todo o ofício paterno do esposo de Maria.

Desta prerrogativa legal concedida a São José decorre sua autoridade sobre o Filho Unigênito do Padre Eterno. Deparamo-nos, então, com a imensa majestade de um homem “encarregado da conduta de um Deus e colocado como superior d’Aquele em cuja presença a mais elevada das criaturas, as supremas hierarquias angélicas, os Serafins e os Querubins, se prostram e se aniquilam, lançando suas coroas a seus pés”. Na bela expressão de Thompson, “José foi, de certa forma, designado a ser um deus para o próprio Deus”.

Capacidade de amar “proporcional” ao Filho de Deus

No coração de um pai verdadeiramente digno deste nome encontramos um entranhado amor por seu filho. De que modo, todavia, poderia um homem tributar ao próprio filho o amor devido a um Deus, como se deu no caso de São José? Já dissemos que a Divina Providência sempre concede a seus eleitos todas as graças necessárias para o cumprimento de uma missão específica. Desta maneira, “Deus terá comunicado também a José o amor correspondente, aquele amor que tem a sua fonte no Pai ‘do qual toda a paternidade, nos Céus e na terra, toma o nome’ (Ef 3, 15)”.

É por isso que alguns autores chegam a afirmar que em São José havia uma capacidade de amar, de certa forma, proporcional ao Filho de Deus: “Ou [Deus Pai] formou em José um coração inteiramente novo, ou infundiu um superabundante afeto no coração que ele já possuía. Certo é que Deus o preencheu de um amor que supera em generosidade e fervor o de qualquer outro pai, pois era necessário que o amor paternal de José alcançasse uma medida proporcional às perfeições desse adorável Filho”.

Portanto, apesar de não ter contribuído biologicamente para a geração de Jesus, São José O amou como pai algum jamais amou seu filho em toda a História. Longe de diminuir o afeto, a virgindade ilibada deste santo varão o dilatou e purificou pois, possuindo um coração puro, nada de terreno ou humano se imiscuía no carinho paterno por ele devotado ao Menino-Deus.

Embaixador do Espírito Santo junto a Maria

A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade também atuou de maneira eminente em relação ao Santo Patriarca no tocante à Encarnação. Nossa Senhora é Esposa do Espírito Santo, pois concebeu por obra d’Ele (cf. Mt 1, 20; Lc 1, 35). Mas Maria é igualmente Esposa, e Esposa real, de José! Como explicar este paradoxo? Sendo invisível, o Paráclito concedeu à sua virginal Esposa, como substituto, um esposo visível, que deveria acompanhá-La em todos os lugares e prestar-Lhe fiel serviço. Como disseram alguns teólogos josefinos, ele foi um “vice-Paráclito”.

E há mais. O Santo Patriarca foi o modelo adotado por Deus para a geração da humanidade de Jesus. Assim, o Divino Espírito Santo fez com que o temperamento, as disposições e as inclinações de José, bem como sua própria aparência física, se assemelhassem ao máximo aos do Salvador. Tal semelhança era de inegável conveniência para que Jesus fosse, aos olhos de todos, considerado filho real de São José.

Troca de corações com a Rainha dos Anjos

Todos os privilégios do Santo Patriarca até aqui analisados decorrem, de certa forma, do seu matrimônio com a Virgem Santíssima. Tanto sua paternidade virginal quanto a participação no plano hipostático só foram possíveis devido ao verdadeiro e real conúbio contraído entre ambos.

Apesar de haver quem levante objeções à perfeição desta união, todas as condições requeridas para a autenticidade do matrimônio estão nela reunidas: o consentimento e dom que os esposos fazem reciprocamente de si mesmos, o significado espiritual desta união – que representa o desponsório entre Jesus Cristo e a Igreja (cf. Ef 5, 32) – e o Filho.

Sabemos que o matrimônio não consiste somente em mera união material, mas também, e sobretudo, no estreito vínculo que produz, entre os cônjuges, “a unidade dos corações, dos espíritos, dos sentimentos e dos afetos”. Para São Tomás, a própria essência do matrimônio consiste nessa união indissolúvel dos espíritos. O que dizer então do desponsório virginal entre José e Maria? Como Mons. João Scognamiglio Clá Dias afirma, tal era a afinidade entre os dois que houve uma verdadeira troca de corações, “pela qual as graças que habitavam o interior de um eram vividas pelo outro, permitindo-lhes compartilhar os mesmos anseios”.

Imaculado em sua concepção, e corredentor

Um homem chamado a ter tal relacionamento com Nossa Senhora, só poderia ter uma estatura moral que fugisse de qualquer padrão humano. Certamente não era oportuno que a Rainha das Virgens convivesse com um varão tisnado pela concupiscência e sujeito às desordens do pecado: “Se somente aos Anjos foi dado cuidar do Paraíso Terrestre após o pecado, o normal seria que Nossa Senhora fosse desposada por um homem angélico”, uma vez que Ela é o Paraíso do Novo Adão.

Seguindo, pois, a hipótese teológica da qual Mons. João é fervoroso adepto, podemos conjecturar que, assim como a Virgem Santíssima foi isenta da mancha do pecado original com vistas à sua Maternidade Divina, convinha também a São José – por um dom subordinado ao privilégio da Imaculada Conceição de Maria, o qual é exclusivo d’Ela – a preservação de toda mancha de pecado, tendo em vista sua paternidade virginal e sua cooperação com o Salvador e sua Mãe na obra da Redenção.

O Pe. Llamera recorda que a cooperação redentora de São José “é muito real e objetiva, ao mesmo tempo que singular […]. Se consideramos o livre consentimento que prestou aos planos divinos, aceitando seu ministério, sobre cujo conteúdo lhe foram dadas luzes muito particulares, não cabe dúvida de que sua intenção abarcou diretamente a entrega de si mesmo para a empresa de regenerar os homens”.

Dessa forma São José, por possuir uma missão tão estreitamente unida à de Maria Santíssima, não só teria sido imaculado em sua concepção, como também recebido o ministério de corredentor!

Patriarca da Santa Igreja

Resta-nos ainda considerar um aspecto muito importante da missão de São José: aquele que fora chamado a custodiar na terra “as primícias da Igreja”, deveria continuar, do Céu, o seu ofício junto ao Corpo Místico de Cristo. Em outras palavras, pelo fato de ser pai de Jesus, José deveria também ser pai da Igreja, pois não se pode separar a Cabeça de seus membros.

E como este ofício se exerce? De modo paralelo à Maternidade espiritual de Maria para com todos os homens, São José possui um incalculável desvelo paternal por cada um de nós. Ele se preocupa, como um bom pai, com as nossas necessidades, corrige nossos defeitos e pecados, e nos defende de nossos inimigos, sobretudo do demônio e suas insídias.

“José era justo”

Quanto maiores os dons recebidos de Deus, tanto maior serão a gratidão e o amor a Ele devidos. E com que generosidade São José os tributou!

Ao qualificá-lo de varão “justo” (Mt 1, 19) na Escritura, o Espírito Santo apontou o grau imenso de caridade que inundava sua alma imaculada, pois “um homem justo é, fundamentalmente, um homem entregue; é um homem que reconhece ter recebido tudo e que, por consequência, se considera obrigado a devolver a Deus a honra, a glória, o louvor, a adoração e a gratidão por tudo o que recebeu […]. Numa palavra: ser justo é ser santo”.

Santidade: eis a maneira pela qual podemos render a Deus um amor sem medidas. É o que a vida do Glorioso Patriarca nos ensina; é o que ele, sem dúvida, deseja ardentemente para cada um de nós do alto do Céu, de junto de seu Filho Divino e de sua Esposa Santíssima.

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 267, março 2024. Por Vinícius Niero Lima.

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