São João de Deus, o santo dos perdidos
São João de Deus, cuja memória é celebrada no dia 8 de março, depois de ter exercido as profissões de pastor, soldado e comerciante, converteu-se pela pregação de São João de Ávila. Fundou a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros.
São João de Deus. Catedral de Lima. Foto: Timothy Ring
Redação (08/03/2025 09:41, Gaudium Press) Qual é o limite máximo da vida para se tornar uma pessoa de sucesso? Até quando alguém deve tentar achar sua vocação?
São João de Deus tinha quarenta e três anos quando entendeu finalmente para o que tinha nascido. Acompanhemos, junto com os passos errantes que ele deu, a lição que São João aprendeu da Providência Divina.
Infância e juventude
O pequeno João era português, tendo nascido em Montemor-o-Novo, Alentejo, em 8 de março de 1495.
O primeiro fato que sabemos de sua infância é fugiu do lar, deixando consternados os pais, que nunca mais tiveram notícias dele! Não se sabe bem se foi por escolha própria ou se o menino foi sequestrado, mas aos 8 anos ele está na Espanha.
Talvez tenha sido vítima de um crime; quiçá se sentiu decepcionado com algo e fugiu.
Ele é o padroeiro dos perdidos, e de perdido teve muito! Infelizmente, sua mãe, sofrendo com a separação, falece logo em seguida.
Seu pai, pedindo para ser aceito em um mosteiro, encerra lá seus dias. Situação bem trágica para o jovem João que, um dia, voltaria à cidade natal e não encontraria mais ninguém dos seus.
Até seus quatorze anos, João de Deus esteve em Madri, acolhido por um pai adotivo, Francisco Cid, mayoral, — chefe dos pastores — do conde de Oropesa.
Francisco, quando seu pupilo atinge a maioridade da época, o toma como seu discípulo e o contrata para que trabalhe pastoreando seu rebanho.
Vale a pena notar que São João cresceu com a pequena filha de Francisco e, quando completou seus vinte e oito anos, este quis unir seus dois protegidos pelo Sacramento do Matrimônio.
Aqui, mais uma vez João mostra o quanto ainda está perdido. Sem saber se queria realmente casar-se, foge da casa de seu amado tutor e alista-se, em 1522, nas tropas espanholas enviadas para defender Fuenterrabia.
Exército e continente africano: dois caminhos de São João de Deus
São João lutou as batalhas dos outros, fugindo da sua: foi soldado de Carlos V, e venceu. Conseguiu um ordenado e também deixou o exército. Esse também não era seu lugar. Para onde iria o perdido João de Deus? Resolveu, então, se dirigir a Portugal a fim de rever os pais, depois de mais de vinte anos de ausência. Porém, ao chegar em sua cidade natal, encontrou apenas um velho tio. A mãe falecera pouco depois de sua saída de casa, tomada de desgosto pelo desaparecimento do filho, e o pai ingressara num convento franciscano, onde também não tardou a extinguir-se. Isso causou-lhe um enorme sentimento de culpa na alma.
Encontramo-lo no norte da África, agora trabalhando como vendedor ambulante. Nas quentes ruas da civilização africana, ele também não encontrou sua vocação. As circunstâncias da região e do próprio exército tornavam extremamente penosa a perseverança na Fé. Aconselhado por um sacerdote franciscano, logo retornou a Espanha.
O que faria São João, beirando seus quarenta anos, sem entender realmente quem era?
Após fazer diversos trabalhos avulsos, tornara-se livreiro ambulante. Conta-se que, certo dia, ao cruzar uma região desabitada, viu um menino solitário, descalço, machucando seus pezinhos nas pedras do caminho. Quis oferecer-lhe os próprios sapatos, mas estes ficaram enormes… Carregou-o então às costas por um longo percurso e, ao chegar numa fonte, depôs o pequeno à sombra de uma árvore e foi buscar água. Ao retornar, o encontrou resplandecente, tendo na mão direita uma romã — granada, em espanhol — aberta, sobre a qual reluzia uma cruz. Estendendo-lhe a fruta, exclamou:
— João de Deus! Granada será tua Cruz!
Dizendo isso, o menino desapareceu… João Cidade viu nessas palavras a resposta às suas orações: a vontade de Deus conduziu-o a Granada.
Aí os planos de Deus se concretizariam.
Conversão e encontro de si mesmo
Um dia, João de Deus foi ouvir uma pregação de um famoso padre da região: João de Ávila. No sermão, o famoso pregador discorreu ardorosamente sobre a penitência, o heroísmo do martírio, a entrega total a Deus e a imolação do próprio corpo para proclamar a verdade de Cristo.
Essas palavras penetraram a fundo na alma de João Cidade, e o fogo do Espírito Santo que inundava o coração do famoso Santo de Andaluzia passou para o do homem perdido, de um João para outro.
E, ali, ele entendeu. Entendeu que vivera uma vida errante, sem saber o que queria ser porque não fez a pergunta certa: “O que Deus quer de mim?”
Todos os caminhos, da Espanha a África, levaram-no para aquela igreja, naquele dia. Alguém o conduziu ao santo pregador, com o qual se confessou, expondo-lhe a situação de sua alma. Discernindo no penitente os sinais de uma grande vocação, o padre Ávila o tomou por filho espiritual.
Nada foi em vão. Nada que o fez sofrer deixou de ter um propósito maior.
Começou a penitenciar-se publicamente. Foram vários dias nos quais tomou atitudes tão estranhas para aquela gente de Granada, que o insultavam, agrediam e desprezavam como a um louco. Como tinha tão grande habilidade em simular a loucura, quase todos o tiveram por louco”, sendo, então, internado no Hospital Real, onde viviam em lamentável promiscuidade enfermos mentais, mendigos e doentes desamparados.
O principal “remédio” aplicado aos loucos nessa época eram chicotadas e algemas… para que, com a dor e o castigo, perdessem a fúria e voltassem a si. Assim se fez com São João de Deus: atado de mãos e pés, era impiedosamente açoitado.
Depois de alguns dias, julgou chegada a hora de sair de tal situação e passou a dar mostras de estar tranquilo e senhor de si. Libertaram-no, então, das algemas e o deixaram circular livremente pelo prédio, onde cuidava dos enfermos com carinho e bondade, e se incumbia das mais árduas tarefas.
Refletindo sobre como fazia falta na Igreja uma Congregação dedicada especialmente ao cuidado dos enfermos, João alugou uma pequena casa na qual instalou seu primeiro hospital: 46 leitos de velhas esteiras, guarnecidos de surrados cobertores. Para lá levou os enfermos e desamparados que encontrou. Durante o dia cuidava deles e vendia feixes de lenha; à noite, percorria a cidade pedindo esmolas.
Hoje São João de Deus é aclamado como o Fundador Ordem Hospitaleira, uma ordem religiosa aprovada pelo Papa Sisto V, em 1586, para atender aos pobres doentes mentais e idosos, com toda caridade e amor de Cristo.
No dia 8 de março de 1550 — quando completava 55 anos de idade —, João entregou sua alma a Deus.
Por anos São João não soube viver consigo mesmo. Talvez você, caro leitor, também não saiba. Isso, como vimos, não é motivo para desespero. Deus tem seus caminhos. São João de Deus é a prova viva disso.
Portanto, reze sempre ao Senhor, peça para que Ele desvende as suas vias. Mas, sobretudo, peça força pela longa caminhada que talvez você fará para se encontrar consigo mesmo.
Com informações arautos.org
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