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O fruto da generosidade

Podemos conhecer a sinceridade de nossa entrega a Deus pelos frutos nascidos em nosso coração.

Foto: Tamara Malaniy/ Unsplash

Foto: Tamara Malaniy/ Unsplash

Redação (01/03/2025 21:23, Gaudium Press) Ao tomar a figura dos frutos nascidos de boas e más árvores, Nosso Senhor compõe uma esplêndida imagem para ilustrar um princípio que hoje pode nos parecer evidente. No entanto, antes d’Ele ninguém tivera sabedoria para enunciá-lo:

“Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas” (Lc 6,43-44).

Bons e maus frutos nascidos do coração

Torna-se patente, por esse exemplo, não existir diferença entre aquilo que se é e o que se faz. Jesus mesmo dirá, mais adiante, recriminando a maldade dos fariseus perante o seu testemunho: “Se não fizer as obras de meu Pai, não acrediteis em mim. Mas se as faço, embora não acrediteis em mim, acreditai pelas obras que Eu faço” (Jo 10, 37-38). Quais eram, por exemplo, as obras dos fariseus? Uma aplicação da Lei tão inclemente que deixava a todos com as costas arqueadas de tanto sacrifício, e ninguém conseguia cumprir com perfeição. Quais eram as obras de Nosso Senhor? Uma doutrina nova, confirmada por milagres, ressurreições, expulsão de demônios, etc. Ou seja, as obras deram a conhecer quem eram eles.

A ausência de figos em espinheiros ou de uvas em plantas espinhosas mostra que o que sai de uma árvore é algo definidamente bom ou mau, pois nunca pode florescer algum tipo de fruto contendo veneno e servindo de alimento ao mesmo tempo. Podemos aplicar essa verdade às intenções do coração, pois, embora sejam impenetráveis por terceiros, cedo ou tarde se manifestam através de nossos atos.

Ninguém pode fingir ser uma pessoa virtuosa quando peca em seu interior, porque logo se revelará sua falsidade: “o homem atua em função do que é na realidade; embora utilize algum artifício dissimulador, seus atos e suas palavras são o reflexo exato do que é no mais profundo de si mesmo”.[1] Por isso, nunca devemos querer conciliar práticas boas com outras reprováveis, procurando estabelecer uma ponte entre Deus e o demônio. Da mesma forma como não nos alimentamos de espinhos, também não podemos assimilar uma má doutrina, nem permitir em nossas obras de apostolado o espírito do mundo, como pretendem alguns.

A esse respeito ensina Santo Agostinho: “A doutrina de Cristo, crescendo e se desenvolvendo, misturou-se com árvores boas e com sarças más. Pregam-na os bons e pregam-na os maus. Observa de onde procede o fruto, de onde se origina o que te alimenta e o que te aflige; ambas as coisas estão mescladas à vista, mas a raiz as separa”.[2] Este critério infalível sempre nos indicará a verdade, pois, como conclui Dom Chautard: “Deus deve […] subtrair ao apóstolo, cheio de arrogância, as suas melhores bênçãos para reservá-las ao ramo que humildemente reconhece que somente poder haurir a sua seiva no Tronco divino”.[3]

O fruto da generosidade

Por outro lado, sabemos que o ingresso no Reino dos Céus é franqueado aos bons de acordo com os frutos apresentados. Por eles se conhecerá a sinceridade de nossa entrega a Deus. Uma vez que Ele toma a iniciativa de nos amar por livre e espontânea vontade, arrancando-nos do pó e elevando-nos até o mais alto cume sobrenatural, a vida da graça, como Lhe retribuiremos? Este é o domingo da liturgia da generosidade, de nossa resposta a Deus por tudo quanto nos dá.

Tendo bem presente que esses frutos também se referem ao modo de conduzirmos o nosso próximo pelas vias da salvação, peçamos a insuperável intercessão de Maria Santíssima, para d’Ela obter a graça de sermos transformados em discípulos restituidores de tudo quanto recebemos de Deus e, mais ainda, em filhos cuja vida possa ser comparada ao cristal colocado no ostensório: um mero instrumento que não impede aos fiéis a contemplação de Jesus-Hóstia, mas, pelo contrário, revela-se de qualidade tanto melhor quanto mais transparente for.

Sejamos autênticos seguidores de Nosso Senhor e devotados filhos da Igreja que se empenham em espargir pelo mundo a luz recebida do Alto, e assim toda sorte de bons frutos sairá de nosso interior, porque “quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que se operam”.[4]

Extraído, com alterações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 6, p. 116-117, 121.


[1] MONLOUBOU, Louis. Leer y predicar el Evangelio. Santander: Sal Terræ, 1982, p. 162.

[2] AGOSTINHO DE HIPONA. Sermo CCCXL/A, n. 10. In: Obras. Madrid: BAC, 1985, v. XXVI, p. 37.

[3] CHAUTARD, Jean-Baptiste. A alma de todo o apostolado. São Paulo: FTD, 1962, p. 35.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002, p.132.

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