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Santo Antonino conteve a onda renascentista

Florença — a cidade das flores — floresceu de modo especial no século XV, quando homens de grande talento realizaram obras de arte que alcançaram enorme prestígio em todo o Ocidente.

Uffizi Sant Antonino

Redação (10/02/2025 18:38, Gaudium PressNa cidade de Florença houve, no campo artístico, um choque do paganismo renascentista contra o espírito medieval.

As pinturas elaboradas pelo Beato Angélico estavam imbuídas do espírito medieval, exaltando as virtudes cristãs, de modo especial a castidade.  E muitos renascentistas representavam figuras que incitavam a impureza.

Nesse ambiente, Deus suscitou um arcebispo que lutou contra os desvios da Renascença.

Pequena estatura, mas grande memória

Filho de importante personagem de Florença, ele nasceu nessa cidade em 1389 e recebeu o nome Antônio. Devido a sua pequena estatura, passou a ser chamado Antonino.

Sendo adolescente, assistia com frequência às pregações do Beato João Dominici, Prior do convento dominicano das cercanias de Florença, e pediu-lhe que o recebesse como religioso.

Considerando-o muito frágil, Dominici prometeu atendê-lo quando houvesse decorado a obra “Decretos de Graciano”, a qual continha, sistematizada, a legislação canônica existente antes do século XIII.

Menos de um ano depois, Antonino voltou ao convento e disse que cumprira a ordem recebida. Após ser examinado, ficou demonstrado que ele decorara a obra e, assim, recebeu o hábito de noviço aos dezesseis anos de idade.

Lutou contra os vícios do clero

Ordenado sacerdote, levou uma vida exemplar e tornou-se prior de conventos dominicanos de Florença, Nápoles e Roma.

Certo dia, o Papa Eugênio IV pediu ao Beato Angélico que se tornasse arcebispo de Florença. Compenetrado de que sua missão era conduzir as almas a Deus através da pintura e combater o espírito renascentista, ele não concordou, mas recomendou Antonino.

Este, ouvindo rumores de que seria nomeado arcebispo, fugiu para um bosque acompanhado de um frade. Pouco depois, foi encontrado e recebeu ordem para aceitar o cargo.

Em 1446, o Santo com numeroso séquito entrou na Catedral de Florença com pompa magnífica, mas suprimindo o que havia de profano em cerimônias análogas.

Cosme de Médicis, banqueiro riquíssimo e grande mecenas, o tinha em alta consideração, e afirmava que a cidade de Florença tudo devia às orações do santo arcebispo.

Lutou com tanto zelo contra os vícios existentes em pessoas do clero e da sociedade temporal, que o Papa Pio II o escolheu para promover a reforma da Cúria Romana.

Mas antes que pudesse iniciar esse importante mister, Deus chamou-o a Si. Era o ano de 1459. Seu corpo, intacto, é venerado na Basílica São Marcos, em Florença[1].

Conflito entre tradição medieval e Renascença

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários a respeito desse Santo que a seguir sintetizamos.

Nessa época, configurava-se um conflito entre a tradição medieval e os fortes ventos da Renascença que ameaçavam tudo destruir. Entretanto, havia ainda possibilidades de sensibilizar a opinião italiana, caso grandes santos combatessem de frente a Renascença então vicejante.

Florença era propriamente o foco da Renascença. Encontravam-se lá os maiores talentos renascentistas, capazes de irradiar sobre a Itália o seu novo estilo, e que realizavam, na própria cidade, obras de arte de um valor extraordinário.

Capital do Grão-ducado de Toscana, possuía uma dinastia que se ligou, por vários laços de casamento, com a Casa da França, e haveria de dar mais de um Papa ao sólio pontifício: os Médici, uma das famílias mais poderosas e importantes da Europa.

“Servir a Deus é reinar”

E a Providência suscitou ali grandes santos.

O Beato Angélico, varão recolhido, diáfano e robusto na Fé, possuía um talento artístico repleto de delicadeza, candura e, quase se afirmaria, de santa ingenuidade.

Não obstante, demonstrou sagacidade e perspicácia quando indicou Santo Antonino para assumir o Arcebispado de Florença.

Quando este tomou posse, foi realizada grande solenidade. Pode-se imaginar os magníficos veludos e damascos com os quais foram confeccionadas as roupagens dos personagens que tomaram parte no cortejo. Entretanto, dessa pompa, ele retirou sabiamente tudo quanto havia de profano.

Grande orador, sua santidade e cultura levaram-no a ser consultado pelos grandes da época, passando a ser chamado “Antonino, o Conselheiro”. Seu lema de vida era “servir a Deus é reinar”.

O poder de um Santo

A História pouco conta sobre a ação desenvolvida por ele a favor da austeridade de costumes, como também o combate frontal às influências maléficas da Renascença.

Dos historiadores renascentistas vários reconhecem que, pela presença de Santo Antonino na Sé de Florença, o movimento da Renascença perdeu em algo seu vigor e sua velocidade em contagiar a cidade e, consequentemente, toda a Itália.

Conclui-se a partir disso quanto é grande o poder de um Santo, ao ponto de uma das figuras mais eminentes e talvez mais condenáveis do Renascentismo, Cosme de Médici, afirmar que a cidade devia tudo às orações de Santo Antonino.

Vê-se o quanto este Santo podia realizar, e quanta receptividade ainda havia em relação a ele.

Qual é o alcance histórico do fato de a Providência ter colocado Santo Antonino em Florença? Ele conteve a onda renascentista durante algum tempo, contribuindo assim em alto grau à glória de Deus.

Empunhar a tocha da reação antirrenascentista

Há um outro aspecto digno de consideração. Deveriam haver almas aptas a dar continuidade à obra iniciada por Santo Antonino e pelo Beato Angélico. Apoiadas pelo Papado, prosseguiriam a ofensiva contra a Renascença.

Com pesar, pode-se constatar que essas almas não corresponderam ou não obtiveram o apoio necessário, e então a obra ruiu.

Caso as almas eleitas para empunhar a tocha da reação antirrenascentista fossem fiéis, possivelmente a cidade que irradiava a intemperança para o mundo inteiro teria se convertido. Se Florença se convertesse, era bem possível que a História do mundo fosse completamente diversa.

Portanto, se a História não mudou e a humanidade desceu pelo despenhadeiro iniciado pela Renascença — sucedido pelo protestantismo, Revolução Francesa e comunismo —, isto se deve a algumas almas que foram fracas e não tiveram generosidade. Disseram “não”, ou um “sim” incompleto ao convite da Providência.

Não é devido ao grande talento de algum renascentista que a obra de Santo Antonino não vingou. Se todos os eleitos por Deus fossem de fato fiéis, não haveria quem impedisse os planos da Providência de se executarem.

Não serei eu também chamado a lutar pela Igreja que está humilhada e conspurcada em toda a Terra? Não será que uma pequena falta de generosidade de minha parte determinará um recuo notável nos planos da Providência?[2]

Peçamos a Santo Antonino a graça de batalharmos ardorosamente contra a Revolução e pelo advento do Reino de Maria.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Liège: J. G. Lardinois. 1847. v. 22, p. 210-211.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santo Antonino de Florença, In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIII, n. 146 (maio 2010), p. 13-14.

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