Quando o pecado é a regra
Houve um tempo em que as pessoas tinham medo de pecar; a simples ideia de terem pecado afligia seus espíritos, e elas tudo faziam para obter o perdão, pelo horror de terem ofendido a Deus e o temor de não se salvarem. Hoje, infelizmente, as pessoas têm medo de não pecar e serem “canceladas”.
Redação (12/01/2025 10:10, Gaudium Press) O Jubileu, também chamado de Ano Santo, nos oferece a oportunidade de obter indulgências plenárias. Porém, enquanto os fiéis católicos se organizam para viver esse período de graças, atravessando as Portas Santas, muitos estão interessados apenas em atravessar a larga porta do pecado e se perder na maldade, nos prazeres e nas ilusões.
Nos últimos tempos, temos visto muitos pecados serem cometidos: pecados graves, pecados de violência e morte, contra familiares, contra crianças, até contra pais e mães.
Sequestros, roubos, corrupção e golpes dos mais diversos são praticados com muita frequência. E tudo isso nos chega tão logo acontece, sendo trazido para dentro de nossas casas – invadindo até a privacidade de nossos quartos – pela internet, da qual não nos desligamos.
Esses pecados são os mais gritantes e extremos, e ainda nos causam repulsa. Mas os pecados a que me refiro são os mais genéricos, que se tornam rotineiros, mas que são graves também: os pecados veniais. Eles são considerados, erroneamente pelas pessoas sem fé, de “pecadinhos”, contudo, qualquer pecado é sempre uma ofensa a Deus.
Quem não peca sofre rejeição
Tempo houve em que a pior situação que poderia acometer uma pessoa era a lepra. Deformados e malcheirosos, os leprosos eram condenados a viverem isolados, separados dos demais, e tinham que usar um sino ou um chocalho que indicavam sua presença quando se aproximavam de lugares habitados.
Todos tinham horror à lepra e evitavam tocar num leproso para não serem contaminados com a doença. Era uma situação muito dolorosa, e essas pessoas viviam à margem da sociedade, tomadas pelo sofrimento e pela amargura.
Há uma lepra, porém, que não ataca o corpo, mas, sim, a alma: a lepra do pecado. Igualmente devastadora, ela vai, pouco a pouco, deformando o espírito.
E a deformação do pecado, embora menos visível, costumava causar repugnância. Os pecadores contumazes eram tidos por más companhias e evitados.
Os devassos, corruptos, aduladores, mentirosos, adúlteros, pessoas de má vida, ladrões, abusadores, soberbos, preguiçosos, obscenos, hereges: o proceder dessas pessoas causava repulsa.
Mais tarde, começou um movimento de acolhimento e aceitação. Não um acolhimento que incentiva o arrependimento, o perdão e um novo começo de vida ao qual podemos chamar de processo de conversão, mas uma aceitação deformada que afirma: “Você pode continuar pecando, ofendendo a Deus, prejudicando a si mesmo e aos outros que será acolhido mesmo assim; afinal, cada um precisa ser aceito como é!”
A princípio, isso pareceu louvável, mas tratava-se de uma armadilha… Como a lepra contamina, contamina também o pecado, e os “sintomas” dos pecadores acabaram por se fixar nas pessoas antes corretas e, quando se deram conta, estavam começando a pecar também…
Entretanto, ainda havia algum escrúpulo e vinha o arrependimento, a confissão, o perdão sacramental e um novo começo.
Então, iniciou-se um processo estranho. As pessoas passaram a sentir vergonha de se arrepender. Não vergonha do padre, de si mesmas ou de Deus, mas vergonha dos pecadores.
Era como se se sentissem mal por usar vestes limpas em meio a pessoas de vestes sujas; medo de serem honestas e taxadas de escrupulosas, e, assim, ofenderem aqueles que, voluntariamente, se entregavam ao pecado.
O medo, em vez de ser o de pecar, passou a ser o de sofrer rejeição. “Ser cancelado”, como se diz na linguagem atual.
Pecar, então, tornou-se a regra
Pecar, então, tornou-se a regra; afinal, o importante é o acolhimento e a igualdade, não ter preconceito, não ter senso crítico, não ter vergonha.
E a religião passou a ser vista apenas como regra, lei, hierarquia, preceitos, disciplina, algo que incomoda. Todavia, a religião nos ensina a conduta ensinada por Jesus, que resumiu a Lei e os Profetas em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
No entanto, quem ama a Deus, evita o pecado para não O ofender, e quem ama o próximo, deseja tirá-lo do pecado e do erro, e não pecar e errar junto com ele, justificando a sua má conduta com um falso amor.
Surgiu assim uma geração que é a favor de tudo o que é contra o bem, e contra tudo o que é a favor do bem. O mal prevaleceu e iniciou-se, então, a época da grande apostasia, prevista nas Sagradas Escrituras, abrindo caminho para a grande abominação.
E, por apostasia, não devemos entender apenas as pessoas deixarem a Igreja para se entregarem aos pecados do mundo. Pior do que isso, muitas continuam na Igreja e trazem o pecado para dentro dela!
Se os vendilhões do templo Jesus enfrentou com brados e chicotadas, como não agirá com essa geração degenerada e adúltera, que peca diante do sacrário e ainda acha que está agradando a Deus?
Antigamente as pessoas faziam penitências e sacrifícios para receberem a absolvição. Hoje, sequer querem se confessar. É mais fácil pregar que essas coisas não são necessárias, porque Deus é amor e, no fim, todos acabarão indo para o Céu, independentemente dos pecados praticados e dos crimes cometidos.
Sim, Deus é amor, mas também é justiça. Ele tem sido continuamente ofendido pelas piores ações, mas fica à espera do pecador arrependido no Sacramento da Reconciliação, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo quando, na tarde de Páscoa, se mostrou aos Apóstolos e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes serão retidos” (Jo 20, 22-23).
Neste Sacramento, o sacerdote, na pessoa de Cristo, nos dá a absolvição e nos impõe uma penitência para reparar o dano causado pelo pecado.
Para que servem as indulgências?
Quando nos confessamos – arrependidos e com o propósito de não pecar mais – e somos absolvidos, a culpa do pecado é removida, mas ainda resta a pena temporal, cuja reparação é exigida pela Justiça Divina, devendo o pecador expiar, aqui na Terra ou no Purgatório, para purificar sua alma das sequelas do pecado, reparar pela glória de Deus ofendida, restaurar os danos causados à sociedade e à integridade da ordem universal.
Desse modo, o cristão é perdoado e volta a merecer o Céu, no entanto, só poderá usufruir do prêmio da salvação depois de estar com as vestes limpas, ou seja, após purificar-se pela prática de penitências e obras de caridade, procurando viver em santidade.
Além disso, há um tesouro comprado por Jesus para ser distribuído aos pecadores: as indulgências, uma das maiores obras de misericórdia da Igreja com o poder de apagar ou diminuir a pena temporal.
As indulgências podem ser parciais ou plenárias, e cabe à Igreja determinar as condições para que elas sejam obtidas. Neste Ano Jubilar de 2025, serão distribuídas Indulgências plenárias de forma especial. Podemos ganhá-las para nós mesmos e para as almas do Purgatório,
A vida é muito séria. Os pecados não mudaram. O que era pecado ontem, continua sendo pecado hoje e assim permanecerá. Deus oferece misericórdia para aqueles que a desejam, mas a justiça permanece para os pecadores empedernidos.
Não é a Igreja que nos condena
Iludem-se aqueles que acreditam que a modernização do mundo “atualiza” os pecados e que hoje tudo é permitido, tudo está liberado. Isso não é verdade. Na Igreja primitiva, São Paulo já dizia: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém!”
Não é necessário que se escreva uma interminável lista do que se pode e do que não se pode fazer, do que é lícito e do que é ilícito, porque Deus nos deixou os 10 Mandamentos e tudo está escrito dentro dos nossos corações.
Cada um de nós sabe o que é certo e errado, por isso, ao escolher o que é errado para estar bem com o mundo que atualiza a moral o tempo todo, uma das primeiras ações do pecador é afastar-se da Igreja. Para ele, a Igreja passa a estar errada e “ultrapassada”, mas Ela não está. Quem nos acusa, não é a Igreja, mas a nossa consciência e, diante dela, deveríamos ter muito medo de pecar. Nossa consciência sabe o que está errado, por isso, ela grita, mas deixamo-nos ensurdecer tanto pelos ruídos do mundo que ficamos cada dia mais insensíveis à voz que pode impedir a nossa queda.
Contudo, a Igreja está sempre à espera do pecador arrependido para reconciliá-lo com Deus e ajudá-lo a trilhar o caminho da santidade. De que adianta ganharmos o mundo inteiro, com milhares de likes e milhões de “amigos” que nem conhecemos, e perder as nossas almas?
Por Afonso Pessoa
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