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Exagero na hora de regar?

As pessoas ainda têm muita dificuldade em discernir a verdade e assumir a responsabilidade por seus atos, suas escolhas, suas falhas e suas omissões.

Foto: Cassidy Phillips/ Unsplash

Foto: Cassidy Phillips/ Unsplash

Redação (10/12/2024 10:15, Gaudium Press) Duas mulheres conversavam e não tive como não ouvir, pois se tratava de uma discussão acalorada e o assunto parecia da mais alta importância. Tratava-se da morte aparente de uma planta ornamental com a qual uma delas tinha presenteado a outra, e ambas se mostravam indignadas com o “falecimento” do pobre vegetal.

As duas senhoras, que depois soube serem irmãs, não se opunham uma à outra, antes, pareciam concordar e as duas voltavam o seu descontentamento a uma terceira pessoa, não presente na conversa que se deu na sala de espera de um consultório médico.

A questão era que, uma delas, que morava em um apartamento, havia dado à outra uma planta que não ia bem em seu lar, devido à falta de iluminação natural. A outra morava numa casa, e a planta fora posta em sua sala, muito bem iluminada e ventilada e se desenvolvera admiravelmente.

Essa explicação, a deram para outras duas pacientes que entraram na conversa. E, como o médico demorasse, o assunto acabou ficando meio geral, e praticamente todos os que estavam naquele ambiente acabaram dando sua opinião.

O bem trazido pelo sol

– Na minha sala bate o sol da manhã e a planta estava linda! O verde das folhas saltava aos olhos!

– E o tamanho, então? As folhas nunca estiveram tão grandes e tão viçosas! No meu apartamento, ela não crescia.

­– Mas bastou que fulana elogiasse e comparasse com a dela, que não crescia tanto, e a pobrezinha começou a murchar!

– Definhou!

– E de uma hora pra outra! De manhã estava linda, de tarde já estava toda murcha!

– Nossa, que dó!

– Coitadinha! Estava com duas flores!

– Já era a terceira vez que florescia! Lírios da paz!

– Olhar de seca pimenteira!

– É, a inveja é um problema!

– Nem me fale! A gente tinha uma vizinha que não podia elogiar uma planta que a planta morria!

– Melhor que essa energia negativa pegou na flor, né? Já pensou se pega em vocês?

– É mesmo, capaz de derrubar a gente!

– Pessoas tóxicas, está cheio por aí!

– Tem muita gente que não acredita em “maloiado”, mas existe mesmo, a prova “taí”?

– Mau-olhado, a senhora quer dizer?

– É isso mesmo, “maloiado”. Às vezes pega nos animais também. E até nas crianças!

Os cuidados na hora de regar

Uma quinta pessoa, uma senhora mais idosa, que olhava uma revista, entrou no colóquio.

– Escuta, a senhora disse que era um lírio da paz. Será que ele não murchou por falta de água? Essa planta precisa de bastante rega.

– Imagina! Eu ponho água todo dia!

– Ontem à noite mesmo, antes de dormir, eu reguei.

– E eu também reguei hoje de manhã, porque ela já estava meio murcha.

– Nossa! Eu já tinha regado ontem à noite, você regou de novo?

– Reguei, pois ela estava murchando…

Fui chamado pela secretária e entrei para a minha consulta, com a conversa ecoando em minha mente.

No caminho de volta para casa, como não estava dirigindo, para me livrar de vez dos resquícios da conversa, não resisti a uma breve pesquisa no Google sobre o que leva uma planta ornamental a murchar e morrer repentinamente e, entre outras possibilidades, uma delas era o excesso de água que, encharcando a terra, impede a oxigenação da planta, apodrece as raízes e faz com que as folhas murchem, e a planta feneça.

Claro que, se procurasse um pouco mais, encontraria também a explicação do poder da inveja e do “mau-olhado”, aos quais as mulheres se referiram…

Boa vontade não basta!

A verdade é que, quando acontece algo errado, nunca fazemos um exame de consciência para ver nossos próprios erros; a culpa é sempre dos outros. Foi o que se deu com as duas irmãs, que, de imediato, acusaram uma terceira por ter tido um olhar destrutivo para sua planta. Atravessamos situações em que é mais fácil atribuir aos outros as consequências de nossos atos, nossas escolhas, nossos erros, nossos descuidos, nossas omissões.

As irmãs idosas, no afã de bem cuidar da planta, em vez de conversarem uma com a outra sobre o momento certo de regá-la e decidirem quem faria isso, certamente, com muito boa vontade, encharcaram a pobrezinha e a levaram a óbito por afogamento.

Isso nos leva a refletir que, na vida, a vigilância em relação aos outros e a boa vontade não bastam para nos santificar; é preciso também discernimento e coerência para vermos nossos defeitos e combatê-los. As pessoas ainda têm muita dificuldade de discernir entre a inveja, o mau-olhado e o exagero na hora de regar…

Quanto nos falta ainda, Senhor, a caminhar na humildade e no reconhecimento dos nossos erros!

“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas” (Pv. 3, 5-6).

Por Afonso Pessoa

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