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Santa Francisca Romana enfrentou os demônios

Durante o Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), terrível flagelo para a Igreja e a Cristandade, Roma foi devastada por invasões, peste, fome. Nesse ambiente, a Providência suscitou uma dama de alta nobreza, que enfrentou e descreveu os demônios instigadores dessas e outras calamidades: Santa Francisca Romana.

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Redação (06/12/2024 10:41, Gaudium Press) Nascida em 1384, pertencia a uma rica família de patrícios romanos. Desejava ser religiosa, mas seu pai, tendo ela treze anos, a encaminhou para o casamento com Lorenzo Ponziani, homem reto, nobre e de grande fortuna.

Passou a residir no palácio dos Ponziani e, por desejo do marido, apresentava-se em público conforme sua elevada categoria social, usando belas joias e suntuosos trajes sob os quais, por espírito de penitência, vestia uma tosca túnica.

Seu trato era ameno, bondoso, mas intransigente contra o mal. Certo dia, houve no palácio uma ceia da qual participavam vários nobres. Em certo momento, um deles entregou ao seu esposo um livro de magia. Imediatamente, ela o apanhou e atirou no fogo da lareira.

Roma foi invadida por três vezes

Roma estava dividida em dois grupos, chefiados pelas mais importantes famílias da Itália que guerreavam entre si: os Orsini e os Colonna.

A facção dos Orsini, à qual pertencia Lorenzo, defendia o papa. A dos Colonna se opunha ao pontífice e apoiava o Rei de Nápoles Ladislau, que invadiu Roma três vezes.

Na primeira invasão, seu esposo foi gravemente ferido em combate. Pouco depois, pela fé e dedicação de Francisca ficou curado.

Na segunda, as tropas napolitanas saquearam o palácio dos Ponziani, os bens da família foram confiscados, seu esposo e um filho partiram para o exílio.

No meio de tantas provações, Nosso Senhor concedeu-lhe – além de seu Anjo da guarda – o auxílio constante de um Arcanjo o qual irradiava uma tal luz que ela podia ler e trabalhar à noite, sem acender a candeia.

Em junho de 1414, o ímpio Ladislau tomou novamente a cidade de Roma e, dois meses depois, morreu. O esposo e filho de Francisca regressaram do exílio e recuperaram o palácio da família, bem como os outros bens que haviam sido confiscados.

Multiplicação do pão e do vinho

Ela rezava muito, fazia admiráveis penitências, era dadivosa para com os pobres.  E operou milagres, entre os quais a multiplicação do pão e do vinho.

Quando Roma foi afligida pela fome, seu sogro, vendo que ela conti­nuava doando alimentos aos desvalidos, proibiu-a de fazê-lo.

Ela obedeceu e, alguns dias depois, dirigindo-se ao celeiro e à adega que estavam quase vazios, pediu a intervenção de Deus: o pão e o vinho se multiplicaram…

Em 1425, com total concordância do marido, fundou com nove damas da nobreza romana uma sociedade denominada Oblatas da Santíssima Virgem a qual, após a morte da fundadora, passou a chamar-se Congregação das Oblatas de Santa Francisca Romana. Era uma instituição nova e original para seu tempo: religiosas sem votos, sem clausura, mas de vida austera e dedicadas a um genuíno apostolado social.

Em 9 de março de 1440, após ter confessado, comungado e recebido a Unção dos enfermos, rezou o Ofício da Santíssima Virgem. E, com um sorriso emoldurando sua face, entregou a alma a Deus.[1]

Tratado do Inferno

Santa Francisca teve muitas visões sobrenaturais. As mais impactantes estão relatadas no “Tratado do Inferno”.

O chefe dos demônios, Lúcifer, era o mais alto dos Serafins e seu vício capital é o orgulho. Submissos a ele, encontram-se três caudilhos: Asmodeu, instigador da luxúria; Mamon, promotor da avareza; Belzebu, divulgador da feitiçaria.

Conduzida ao Inferno por São Rafael, ela viu os terríveis padecimentos dos precitos, ou seja, seres humanos condenados àquele lugar de tormentos.

Por exemplo, os praticantes de certos pecados contra a castidade, e que morreram impenitentes, eram jogados pelos demônios numa fossa de lixo infecto e fervente. Em seguida, de lá retirados, cortados em pedaços. Estes se uniam e os precitos eram novamente precipitados naquela cloaca.[2]

 Na atualidade, o Inferno se abriu…

Transcrevemos a seguir alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito desse tema.

“Vemos que os dois principais anjos rebeldes são, em primeiro lugar, Lúcifer e depois Asmodeu, os demônios do orgulho e da sensualidade. Isso está de acordo com a nossa concepção de que o orgulho e a sensualidade são os elementos que impulsionam e dão rumo à Revolução.

“Os anjos maus, chamados demônios, estão no Inferno, e Deus só raramente permite que algum deles saia para produzir catástrofes. Mas tenho a impressão de que, na época atual, a chave do poço do abismo caiu e o Inferno se abriu, e esses anjos péssimos estão todos espalhados por aí, e que a presença de Lúcifer é mais assídua, mais contínua, mais forte do que em qualquer época da História, do que na crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Existem demônios que pecaram menos gravemente e estão na Terra ou nos espaços siderais, onde padecem grandes tormentos. No fim do mundo, após o Juízo Final, serão jogados no Inferno.

Eles tentam os homens para o pecado, enquanto que os Anjos da guarda os protegem e incentivam à prática da virtude. Há, portanto, uma batalha entre eles na qual, naturalmente, o predomínio é dos Anjos custódios sobre as almas que lhes são devotas.

Nessa batalha, em que todos estamos engajados, devemos nos recordar do conselho de Nosso Senhor: “É preciso vigiar e orar para não cairdes em tentação.” (cf. Mt 26,41). E ter sempre em vista o princípio, aceito pela maioria dos teólogos, segundo o qual todas as vezes que um homem tem uma tentação por uma causa natural, o demônio junta-se a esta para agravá-la.

Enfrentou, descreveu e intimou o demônio

E Dr. Plinio acrescentou:

“Fica-me a impressão de tê-la conhecido pessoalmente, porque a considero (…) como uma filha da Igreja dotada de determinadas características que, conhecendo o espírito da Esposa de Cristo, eu sei atribuir a ela através dos matizes de sua biografia.

“Percebo que era uma matrona romana firme, digna, e que olhava o demônio, não propriamente de modo ameaçador, mas com firmeza, de frente, cônscia de sua missão e do poder de Deus, enfrentando, descrevendo e intimidando. Ela considerava o que essas visões tinham, por assim dizer, de divino e amava o Criador através delas”.[3]

Roguemos-lhe que nos obtenha a graça de aumentarmos nossa devoção a Nossa Senhora, a qual é terrível para os demônios e os homens empedernidos no mal como um exército em ordem de batalha.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. IV, p. 272-292.

[2] Cf. SANTA FRANCISCA ROMANA. Tratado do Inferno. São Caetano do Sul (SP): Editora Santa Cruz. ISBN: 978-85-5932-015-2.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Francisca Romana: discernimento e firmeza face aos demônios. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XVI, n. 180 (março 2013), p. 30.

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