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São Leonardo de Porto Maurício: patrono dos sacerdotes em missão

Hoje, 26 de novembro a Igreja celebra a memória de São Leonardo de Porto Maurício, sacerdote franciscano que dedicou sua vida à pregação. Escreveu diversos livros de piedade e participou de mais de trezentas missões na Itália.

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Redação (26/11/2024 09:32, Gaudium Press) O templo sagrado estava abarrotado para ouvir aquele grande pregador. Vestido com a túnica marrom dos filhos de São Francisco, poucos sabiam que sob ela se escondia um cilício que portava dia e noite.

Seus traços fisionômicos denotavam austeridade, mas os olhos e o tom que dava às suas palavras deixavam transparecer uma bondade própria a alguém que conhecia o infinito amor do Redentor, sempre disposto a perdoar o pecador arrependido. O Senhor acompanhou com seus dons esse fiel servidor, sempre disposto a trabalhar pelo bem das almas e da Igreja.

Pais que o iniciaram nas vias da santidade

Paolo Girolamo nasceu no dia 20 de dezembro de 1676, em Porto Maurício, hoje Impéria, na Ligúria italiana. Seus progenitores souberam educá-lo no temor a Deus. Sobretudo seu pai, Domenico Casanuova, era um homem de muita virtude. Na juventude, cioso de conservar intacta a castidade, fez um voto: sendo ele capitão de navios, não permitiria que nenhuma mulher mal-intencionada estivesse entre a tripulação.

A infância de Paolo transcorreu tranquila e saudável às margens das águas cristalinas do Mar Lígure. Jamais cultivou más amizades que pudessem desviá-lo do caminho do bem, e seus divertimentos, além dos que eram comuns às outras crianças, muitas vezes consistiam em improvisar um altar e simular uma Missa, com direito a sermão. Assim a Providência o preparava para o futuro.

Primeiros combates

Nesse período, contudo, o demônio de várias formas tentava perdê-lo. Certa vez Paolo voltava com seus amigos para casa, e no caminho passaram por uma bela praia onde o mar se mostrava aprazível. Um homem se aproximou do conjunto e logo entabulou um colóquio com eles, mas não demorou em mudar o teor da conversa para temas impuros. Imediatamente o jovem, percebendo suas más intenções, ordenou que todos os seus companheiros fugissem. Começaram a correr, e Paolo encabeçava a fuga. O desconhecido puxou a espada da bainha e começou a persegui-los! Contudo, sua idade não lhe permitiu alcançá-los.

Todos chegaram à marinha de Porto Maurício e se despediram, mas Paolo decidiu agradecer Nossa Senhora pela proteção, indo descalço até a igreja Madonna dei Piani, que ficava a pouco mais de três quilômetros.

Ida a Roma e confirmação da vocação religiosa

Um dos tios de Paolo, chamado Agostino Casanuova, o convidou para estudar em Roma, pedido que foi aceito com agrado. Na Cidade Eterna, deu a seus colegas um grande exemplo de virtude. Fazia de tudo para fugir de ocasiões pecaminosas, tais como conversas inconvenientes, brincadeiras fúteis e amizades censuráveis. Soube, ademais, encontrar bons companheiros e um confessor, o qual confirmaria depois sua vocação religiosa.

Neste período, entre os dezesseis e dezenove anos, cresceu enormemente sua devoção. Quando conversava sobre temas espirituais com o seu tio e seus criados, muitas vezes estes comentavam entre si que o jovem seria no futuro um grande pregador. Nas refeições discorria com tal entusiasmo sobre Deus que esquecia de comer. Certa vez não tiveram outra solução senão mandá-lo calar para que se alimentasse. Começou também a praticar inúmeras mortificações, como dormir no chão totalmente descoberto, flagelar-se e usar cilício.

Por fim, franciscano

Algumas vezes o jovem já comentara seu desejo de seguir a vida religiosa com seu confessor, o Pe. Grifonelli. Este, contudo, por prudência ainda não o confirmara no chamado, pois esperava um sinal patente.

Certo dia, enquanto Paolo caminhava pela Piazza del Gesù pensando em qual Ordem Religiosa ingressar, avistou dois homens vestidos com um pobre hábito escuro. Intrigado por saber de onde eram, começou a segui-los até que entraram numa igreja: eram franciscanos. Naquele momento os frades iniciavam o cântico Converte-nos, Deus, nosso salvador. Imediatamente sentiu-se tomado por uma graça. Parecia ouvir o próprio Redentor a falar-lhe no íntimo, convidando-o para essa augusta vocação.

Foi, então, contar o ocorrido a seu confessor, que afinal deixou-se convencer: o fervor que irradiava da alma do rapaz não poderia provir senão de Deus.

Finalmente, no dia 2 de outubro de 1697 vestiu o hábito franciscano. Passou um ano no noviciado, findo o qual professou os votos em 1698. Em 1703, foi ordenado sacerdote.

Religioso exemplar

Desde os primeiros dias, Frei Leonardo se mostrou um religioso exemplar. O zelo com que realizava as suas obrigações, a piedade no coro e a obediência perfeita impressionavam a todos e revelavam uma grande maturidade espiritual. “Se agora que somos jovens não fazemos conta das coisas pequenas e nelas falhamos com advertência, quando formos mais velhos e tivermos mais liberdade, consideraremos lícito faltar nas grandes”, disse certa vez.

Em relação a seus irmãos de hábito, esforçava-se por elevá-los ao máximo na vida espiritual. Por iniciativa de Frei Leonardo firmavam, por exemplo, o propósito de praticar com maior atenção determinada virtude durante a semana. Se, por debilidade, alguém cambaleasse, deveria se ajoelhar diante de um outro, pedir perdão e prometer emendar-se com o auxílio divino.

Através desse exercício, conseguiu diversos frutos. Transformou os divertimentos em devotos colóquios e numa escola de perfeição; encerrou as conversas ociosas, tratando sempre sobre temas espirituais e particularmente sobre a devoção a Nossa Senhora.

A trompa do Evangelho!

O martírio em terras longínquas por amor a Cristo era um chamado que impressionava o jovem franciscano. Certo dia apareceu-lhe uma oportunidade. Na China grassava uma cruel perseguição contra os cristãos, e o rebanho do Senhor que lá vivia precisava de pastores que o apoiassem. Mons. de Tournon, mais tarde Cardeal, procurava missionários que o acompanhassem em tal empreendimento.

Frei Leonardo não perdeu tempo. De imediato expôs seus desejos ao seu superior. Ficou decidido que ele e o Pe. Pietro de Vicovaro, companheiro no mesmo convento, iriam para o longínquo Oriente. Sua alegria, no entanto, durou pouco. Por razões diversas, o empreendimento não pôde ser concluído. Leonardo, inconsolado, não desconfiava que a Providência lhe preparava outras missões. Expondo seus anseios ao Cardeal Colloreto, este lhe respondeu que Deus destinava-lhe as terras da Itália como campo de apostolado.

Algum tempo depois, foi enviado a Roma para pregar seu primeiro retiro. Um sacerdote que o ouvia comentou: “Este jovem será uma trompa sonora do Evangelho, que reconduzirá muitos pecadores à via da salvação!” E o futuro mostraria a veracidade dessa afirmação.

De uma doença à Via-Sacra

A vida austera que levava o jovem franciscano aos poucos foi minando sua já débil saúde. Certa vez precisou ser encaminhado à enfermaria do convento, pois expelia considerável quantidade de sangue pela boca.

Os superiores determinaram que se transferisse para Nápoles, na esperança de lá encontrar possibilidade de repouso. Entretanto, como seu estado se agravasse durante o percurso, foi enviado a Porto Maurício. Em vão…

Vendo que nada lhe fazia recobrar o vigor, Frei Leonardo decidiu recorrer Àquela que é invocada sob o título de Saúde dos Enfermos. Pediu que intercedesse junto a seu Divino Filho, prometendo que, se obtivesse a cura, iria ocupar-se em pregar missões para a honra de Deus e a conversão dos pecadores.

Nossa Senhora nunca abandona aqueles que recorrem a seu auxílio. Passado pouco tempo a doença, que há um lustro o atormentava, desapareceu. Presto em cumprir o prometido, mas não tendo ainda autorização para isso, começou a escrever várias orações a respeito da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, à qual sempre nutriu entranhada devoção. Decidiu divulgá-las junto aos fiéis de Porto Maurício, e o fruto dessa primeira “missão” foi o de introduzir naquele lugar o piedoso exercício da Via-Sacra.

Essa foi a primeira das 576 Vias-Sacras que erigiu. Nos anos seguintes, por onde passasse em missão, sempre deixaria entre o povo o costume dessa prática que gostava de chamar grande bateria contra o inferno.

Início das missões

Finalmente, em 1708 o Bispo de Albenga o autorizou a realizar missões em sua diocese. Iniciou o apostolado na cidade de Artallo, distante pouco mais de três quilômetros de Porto Maurício. Todas as manhãs se dirigia para lá, retornando ao cair do sol. Sozinho realizava as pregações e ouvia as pessoas em Confissão. Organizava procissões e sempre instituía uma Via-Sacra. Pouco a pouco, sua atuação o tornou cada vez mais procurado pelos fiéis.

Certa noite, enquanto voltava para o convento onde estava hospedado, notou a presença de um homem que o seguia. Percebeu que estava aflito e que não tinha más intenções, e perguntou-lhe se precisava de ajuda. O homem caiu de joelhos e exclamou:

— Vós, padre, tendes aos vossos pés o maior pecador que existe sobre a terra.

— E vós, filho, encontrastes a mim miserável, que será para vós um pai amoroso – respondeu o franciscano, enquanto o pecador chorava amargamente.

Depois o conduziu ao confessionário do convento e o reconciliou com Deus.

No dia de São Bartolomeu, foi enviado a pregar uma missão em Caramagna. O povo da cidade havia transformado a celebração desse Apóstolo num verdadeiro carnaval. Enquanto todos estavam distraídos, e homens e mulheres dançavam ao embalo das paixões desregradas, entrou no recinto em que se encontravam e fez uma prédica tão penetrante que a festa profana tornou-se ocasião de arrependimento e de lágrimas.

Durante a pregação, um dos braços do crucifixo que levava na mão se destacou e caiu por terra, e todo o povo começou a pedir misericórdia. Aproveitando tal incidente, falou com mais força contra aquela profanação e acrescentou que Deus fazia conhecer por tal sinal sua disposição de castigar os participantes do baile, se não prometessem nunca mais realizar tal ato.

Superior de São Francisco do Monte

O grão-duque da Toscana, Cosme III de Médici, edificado pela santidade dos franciscanos, solicitou ao Papa Clemente XI autorização para abrir uma casa semelhante em Florença. Quatro religiosos, dentre os quais Frei Leonardo de Porto Maurício, foram para lá enviados em 1709.

Já no ano seguinte, fez sua primeira pregação no mosteiro de São Francisco do Monte, onde residiam. Isso bastou para que sua fama se espalhasse. Desde então, não faltaram pedidos para que fizesse missões na região.

Em 1713, esteve na cidade de Prato. Sua primeira atuação na catedral impressionou de tal maneira que os fiéis prorromperam em lágrimas, levantando os braços e pedindo misericórdia a Deus por seus pecados. A Via-Sacra e outras devoções foram acompanhadas assiduamente, de modo que, ao fim da missão, a cidade parecia um jardim de boas obras e pios propósitos.

Sua frutuosa atuação na Toscana certamente pesou muito para que fosse eleito superior do Convento de São Francisco do Monte, governando-o por nove anos, durante os quais trabalhou arduamente para atrair religiosos dispostos a uma fidelidade adamantina e para reorganizar outras casas da Ordem.

Itinerário de perfeição

Datam desse período os conhecidos Propósitos, que escreveu quando ainda superior do mencionado convento. Nele delineou sessenta e seis máximas, um verdadeiro programa de perfeição, que se propôs a seguir por toda a vida.

A Santa Missa seria sempre celebrada com cilício e precedida de Confissão, e a meditação da Paixão acompanharia o Ofício Divino. Como penitência, realizaria a Via-Sacra frequentemente, e cada falta cometida deveria ser reparada de imediato por uma oração. Quanto à devoção a Nossa Senhora, propunha-se a pregar com especial fervor a respeito de suas virtudes, e traria sempre sobre o peito uma cruz com sete pontas, em honra às Sete Dores de Maria. O último dos propósitos era estar constantemente na presença de Deus.

Ele os recopiou por cinco vezes ao longo dos anos, sempre pedindo a assinatura de seu confessor, a fim de praticá-los sob obediência. O último registro é de quando contava sessenta e nove anos de idade, o que demonstra não serem esses propósitos frutos de um fervor primaveril e passageiro. Pelo contrário, constituíram eles o corolário de vinte anos de vida religiosa perfeita.

Missão e solidão

“Missão, estando sempre ocupado por Deus; solidão, estando sempre ocupado em Deus”, escreveu ele certa vez a respeito de sua vocação.

De fato, o trabalho missionário não lhe constituía um obstáculo ao recolhimento; antes, era visto como uma campanha contra os infernos, em função da qual abandonava momentaneamente a paz do claustro conventual para o bem das almas.

Em 1712, compôs um regulamento que ordenava esse gênero de atividades. Cada missão devia durar de quinze a dezoito dias. Começava com a entronização de um grande crucifixo, pois a Paixão do Redentor era o objeto das pregações e meditações, e contava com procissões, meditações e momentos de direção espiritual. O término era sempre marcado com a ereção de uma Via-Sacra.

Frei Leonardo percorreu durante quarenta e nove anos os penosos caminhos da Itália de então. “Desejo morrer em missão, com a espada na mão contra o inferno”, eis o ideal que o animou ao longo das 339 missões que pregou.

“Quando morrer, revolucionarei o Paraíso”

Frei Leonardo de Porto Maurício rendeu sua alma a Deus no dia 26 de novembro de 1751, aos setenta e quatro anos de idade, e foi canonizado no dia 29 de junho de 1867. Seu ingente esforço apostólico lhe valeu o título de patrono dos sacerdotes em missão, dado pelo Papa Pio XI em 1923.

Em certa ocasião de sua vida comentou: “Quando morrer, revolucionarei o Paraíso e obrigarei os Anjos, os Apóstolos e todos os Santos, a fazerem santa violência à Santíssima Trindade, para que mande homens apostólicos e faça chover um dilúvio de graças eficacíssimas que convertam a terra em Céu”.

Unamos nossas orações e intenções às dele, para que possamos o quanto antes ver esse anseio realizado.

 Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 263, novembro 2023. Por Gabriel Denkiewicz.

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