Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias entrega sua alma a Deus
“Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a Fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia” (II Tim 4, 7-8).
São Paulo (01/11/2024 06:18, Gaudium Press) Por volta das 2h30 da madrugada de hoje, 1º de novembro, confortado pelos Sacramentos da Santa Igreja e cercado por seus filhos espirituais, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, aos 85 anos entregou serenamente sua alma a Deus em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, após 14 anos de padecimentos decorrentes de um acidente vascular cerebral. Como fundador dos Arautos do Evangelho, deixa um legado de santidade de vida a milhões de católicos vinculados à instituição nos cinco continentes.
Mons. João nasceu em São Paulo, Brasil, a 15 de agosto de 1939, de mãe italiana e pai espanhol. Desde a mocidade, aspirava por congregar os jovens a fim de os formar e conduzir a Deus. Para tal missão, sonhava encontrar um homem inteiramente bom e desinteressado, em meio à soberba e concupiscência do mundo (cf. I Jo 2, 16). Em 7 de julho de 1956 conheceu Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, um dos mais insignes líderes católicos do Brasil no século XX, de quem se tornou ardoroso discípulo e fiel intérprete. A ele se uniu como membro da Ordem Terceira do Carmo e, passados alguns anos, da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
Em 1958 serviu o Exército Brasileiro, no qual foi condecorado com a mais distinta honraria militar no âmbito da formação, a medalha Marechal Hermes. Este período de sua vida influenciou consideravelmente a nota marcial que mais tarde imprimiria aos Arautos do Evangelho.
Após ter cursado Direito na Faculdade do Largo São Francisco da capital paulista, foi formado por eminentes catedráticos dominicanos da escola tomista de Salamanca, Espanha, como o Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez, Pe. Antonio Royo Marín, Pe. Arturo Alonso Lobo, Pe. Estéban Gómez, entre outros. Mais tarde obteve láureas em Psicologia e Humanidades, bem como doutorou-se em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum), de Roma, e em Teologia.
Fundou o Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista e o Instituto Teológico São Tomás de Aquino, assim como a revista científica Lumen Veritatis e a revista de cultura católica Arautos do Evangelho. Escreveu 27 obras, várias traduzidas a até sete idiomas e algumas com tiragem superior a 2 milhões de exemplares. Entre elas, destacam-se: Fátima, aurora do terceiro milênio; Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens; São José, quem o conhece?; O inédito sobre os Evangelhos; Dona Lucilia e O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira.
Discernindo os anseios de Dr. Plinio no sentido de constituir uma associação de caráter religioso, aprovada pela Santa Igreja e a seu serviço, na década de 1970 ele semeou, como na parábola do grão de mostarda (cf. Mt 13, 31), uma experiência de vida comunitária, num antigo imóvel beneditino em São Paulo. Após o falecimento de Dr. Plinio em 1995, o Espírito Santo irrigou essa iniciativa com novas graças, fazendo germinar as três entidades de direito pontifício fundadas por Mons. João: a Associação Privada Internacional de Fiéis Arautos do Evangelho, aprovada em 2001 pelo Papa João Paulo II, a Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e a Sociedade Feminina de Vida Apostólica Regina Virginum, ambas aprovadas pelo Papa Bento XVI em 2009.
Solícito para com toda a Igreja (cf. II Cor 11, 28), seu labor apostólico se estendeu por todo o orbe, em especial após a aprovação pontifícia dos Arautos do Evangelho. Fundou mais de 50 coros e orquestras e incentivou a edificação de quase trinta igrejas e oratórios – duas das quais receberam o título de basílica – no Brasil e em diversas nações da América, Europa e África.
Os milhões de membros e aderentes dos Arautos – sacerdotes, irmãos e irmãs associados, membros cooperadores ou participantes solidários – atuam hoje em mais de 70 países, empreendendo multiformes obras sociais e de evangelização, seguindo as trilhas abertas por seu fundador.
No plano espiritual, Mons. João propagou a devoção a Nossa Senhora por meio de cerimônias de consagração como escravo de amor, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, alcançando de modo remoto quase três milhões de fiéis, em 178 países. Também instituiu e incentivou a Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento nas principais casas das instituições por ele fundadas.
Em 2008, transcorridos três anos de sua ordenação sacerdotal, foi nomeado por Bento XVI Protonotário Apostólico e Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior, em Roma. Recebeu diversas condecorações e honrarias, no Brasil e no exterior, entre elas a Medalha Pro Ecclesia et Pontifice, pelo zelo em prol da Santa Igreja e do Sumo Pontífice. Em sua disponibilidade no serviço à Igreja, publicou em 2009 o opúsculo Por ocasião do Ano Sacerdotal, sugestões dos Arautos do Evangelho à Congregação para o Clero, escrito por solicitação do então Prefeito desta Congregação, e em 2010, o ensaio A Igreja é imaculada e indefectível, no qual denuncia as causas profundas dos abusos cometidos contra menores ou vulneráveis.
Outro pilar de seu apostolado foi o sentire cum Ecclesia – sentir com a Igreja –, mesmo quando injustamente vilipendiada. De fato, com o crescimento das instituições erigidas por ele, não tardou para que os inimigos da Esposa Mística de Cristo e do bem fervilhassem em calúnias contra elas e contra o próprio fundador, sobretudo a partir de 2017. Como filho da Igreja, Mons. João sempre procurou restabelecer a verdade sobre ela, sobre suas obras e sobre si mesmo. Desta forma, atravessou incólume as ondas de falsidades e difamações que contra ele se abateram, seja aceitando com benevolência as retratações – homologadas judicialmente – dos acusadores, seja amealhando inúmeras vitórias processuais, consignadas em sentenças e em arquivamento de inquéritos, tanto na esfera civil quanto na eclesiástica. Desta feita, parece não ser coincidência que ele tenha nutrido especial devoção a São Fernando de Castela: conta-se que o rei espanhol jamais foi derrotado no campo de batalha.
Quem conhece a História Eclesiástica perscruta nesses percalços não um fracasso da Igreja ou das obras partícipes de sua imortalidade, mas apenas a confirmação das palavras de Jesus: “Se Me perseguiram, também vos perseguirão” (Jo 15, 20). Nada de novo sob o sol: essa foi a via trilhada por tantos paladinos da Fé, como, por exemplo, Santa Teresa de Ávila, São Luís Orione ou São Pio de Pietrelcina. Nessa perspectiva bem se entendem as palavras que o Cardeal Franc Rodé, então Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, dirigiu a Mons. João em 15 de agosto de 2009: “Vós sois da estirpe dos heróis e dos santos!”
As biografias dos varões providenciais não se encerram nesta terra. Antes, sua passagem por este vale de lágrimas é apenas o preâmbulo de muitos outros capítulos a serem redigidos. Com razão Santa Teresinha do Menino Jesus apregoava: “Não morro, entro da vida” e “Passarei o meu Céu fazendo o bem sobre a terra”.
Inspirados por tantas conquistas de Mons. João, sob o influxo do Paráclito e o infalível amparo de Maria Santíssima, seus filhos espirituais continuarão, com serenidade, entusiasmo e concórdia, mas também vigilantes e destemidos, sua missão em prol da Santa Igreja e da sociedade civil.
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