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Uma súplica ardente

Nem sempre é fácil ter a presença real de Jesus resplandecente no ostensório. Porém, Ele está permanentemente acessível em todos os tabernáculos.

Uma suplica ardente

Redação (21/10/2024 10:45, Gaudium Press) “Vou fazer uma hora de adoração na paróquia”, “tenho que honrar o meu compromisso semanal com o Santíssimo Sacramento”, “este mês é a minha vez de fazer a adoração noturna”. Estas e outras formulações semelhantes sugerem que quem as diz irá rezar diante da Eucaristia exposta na custódia ou reservada no sacrário. Nem sempre é fácil ter a presença real de Jesus resplandecente no ostensório. Porém, Ele está permanentemente acessível em todos os tabernáculos; está “escondido” ali, e muitas vezes, sozinho… à nossa espera.

Ele está no tabernáculo “como se” dormisse, mais ou menos como na barca fustigada pela tempestade no Mar da Galileia. Os tabernáculos são oásis de paz nas agitadas cidades dos nossos dias. O Evangelho narra que os apóstolos, “homens de pouca Fé”, acordaram o Mestre para pedir ajuda: “Salva-nos, estamos perecendo!” (Mt 8, 25-26). Mas em nossas cidades, tão cheias de perigos, quão poucos acodem ao tabernáculo!

Mas sim, graças a Deus, há pessoas que visitam o Santíssimo Sacramento; vão rezar pela solução dos problemas que mais lhes afligem: uma enfermidade, falta de trabalho, crise na família, dificuldades espirituais, etc. Aliás, o Senhor gentilmente acolhe o pedido e a pessoa sai de lá reconfortada. Ora, muitas vezes acontece que as necessidades urgentes da Igreja, as do próprio país e as da humanidade como um todo, são pouco levadas em consideração. E nisso os critérios deveriam ser melhor ajustados.

No dia 15 de outubro o calendário litúrgico celebra Santa Teresa de Jesus, mística e doutora da Igreja. Ela pode nos orientar sobre uma maneira de rezar diante do Santíssimo Sacramento; sem dúvidas não é a única, mas é, como se verá, uma modalidade esplêndida. Com o amor e a ciência que a caracterizam, nos dá uma pista para fazer o que chamamos de um “ajuste de critérios”. Recordemos que a Igreja concede o título de Doutor àqueles que se caracterizaram pela sua erudição em reconhecimento como eminentes mestres da Fé para os fiéis de todos os tempos. A súplica, tirada do “Caminho da Perfeição”, é sempre atual, mesmo havendo passado ​​quase cinco séculos!

“Pai Santo, que estais nos céus, não és ingrato para que pense eu que deixarias de fazer o que lhe suplicamos, em honra do vosso Filho. Não por nós, Senhor, que não o merecemos, mas pelo Sangue do vosso Filho e seus méritos, e de sua gloriosa Mãe, e de tantos mártires e Santos que morreram por Ti.

Ó Pai Eterno! Veja que tantos açoites, insultos e tormentos tão graves não podem ser esquecidos. Pois bem, meu Criador, como podem entranhas tão amorosas como as vossas terem sofrido tanto e o que foi feito com tão ardente amor por seu Filho seja tão pouco considerado?

O mundo está em chamas, querem condenar novamente a Cristo, querem colocar a sua Igreja no chão: os templos são desmantelados, tantas almas são perdidas, os sacramentos são tirados. Pois bem, o que é isso, meu Senhor e meu Deus?! Ou ponha fim ao mundo, ou remedie tão graves males, pois nenhum coração pode suportá-los, mesmo entre nós que somos mesquinhos.

Rogo-te, portanto, Pai Eterno, que não sofras isto e que apagues este fogo, Senhor, porque, se quiseres, podeis; algum meio deve existir, meu Senhor; coloque sua Majestade nisso. Tenha piedade de tantas almas que se perdem e favoreça a sua Igreja. Não permitais mais danos ao Cristianismo. Senhor: dê luz a esta escuridão. Agora, Senhor, agora. Senhor, acalme este mar; não ande sempre em tal tempestade este navio da Igreja, e nos salve, meu Senhor, porque perecemos. Amém”.

Adoração não politicamente correta

Esta forma de rezar não é, como se costuma dizer, “politicamente correta”, foge aos esquemas clássicos. Entretanto, do ponto de vista teológico e literário – em ambas as áreas a Santa é insuperável – a sua pena é de uma ortodoxia impecável e de uma elegância requintada. Nas expressões que utiliza é possível perceber o brio próprio de sua terra natal e um estilo muito próprio do Século de Ouro espanhol. Mas estes predicados tão apreciáveis ​​são qualidades naturais. O que há de mais valioso na oração é o fogo do Espírito Santo vivendo em uma alma apaixonada pela Igreja. Deve-se dizer entre parênteses que esta forma de orar está em plena harmonia com o que vemos no Salmo 119 ao louvar a Lei Divina: “É hora de agir, Senhor, violaram a tua lei. Amo os teus mandamentos mais do que o ouro puríssimo; por isso aprecio os vossos decretos e detesto o caminho da mentira (…)”.

Não esqueçamos que na oração é necessário estarmos atentos à voz do Senhor que se comunica de forma íntima e misteriosa com os fiéis, porque a oração é um diálogo, pede interlocução, não deve ser um solilóquio estéril; Deus não é surdo nem mudo…

Além disso, digamos que o culto eucarístico envolve aquele aspecto reparador que esta oração destaca; o desejo de que a justiça seja satisfeita, o bem seja exaltado e o mal humilhado. Porque diante das ofensas cometidas contra Deus, um católico militante, consciente dos seus compromissos batismais, não pode contentar-se com lamentações desoladas; sua inconformidade deve levá-lo a orar e fazer tudo o que estiver ao seu alcance, por menor que seja, para que as coisas possam mudar.

Este texto inspirado bem poderia ser meditado diante do Santíssimo Sacramento, por que não? Aliás, nos seus mosteiros, os filhos espirituais da Santa Mãe (frades e religiosas) deleitam-se com os seus escritos e ensinamentos, subsídios indispensáveis ​​para cultivar e testemunhar o carisma teresiano.

Diante do Santíssimo Sacramento, peçamos com Teresa de Jesus: “Não permitais mais danos ao cristianismo. Senhor: dê luz a esta escuridão agora. Senhor, acalme este mar; que este navio da Igreja não ande sempre em tal tempestade, e nos salve, meu Senhor, porque perecemos.”

Por Padre Rafael Ibarguren, EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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