Dicastério para a Doutrina da Fé não levou em conta as opiniões do Cardeal Ruini sobre Medjugorje?
A nota sobre Medjugorje elaborada pelo Dicastério da Doutrina da Fé recebeu a aprovação de Francisco em 28 de agosto, e o documento foi divulgado ao público em 19 de setembro.
Redação (26/09/2024 10:05, Gaudium Press) Resumindo, de forma muito sucinta, a declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre Medjugorje: são reconhecidos os abundantes “frutos positivos” que derivam de Medjugorje, como numerosas conversões, retorno aos Sacramentos e vocações religiosas, e foi concedido um Nihil obstat que “não implica uma declaração do caráter sobrenatural do fenômeno em questão (cf. Normas, art. 22, § 2). Ressalte-se que os fiéis não são obrigados a crer, o nihil obstat indica que estes podem receber um estímulo positivo para sua vida cristã por meio dessa proposta espiritual e autoriza o culto público”.
O Dicastério reconhece, porém, que, apesar de muitas mensagens serem positivas e estarem alinhadas com o ensinamento do Evangelho, há algumas que contêm expressões teologicamente imprecisas ou confusas. Não se descarta também a possibilidade de que “certas mensagens – na opinião de alguns – possam apresentar contradições ou estarem relacionadas aos desejos ou interesses dos supostos videntes ou de outras pessoas”.
O Dicastério também orienta que os peregrinos devem visitar Medjugorje com o objetivo de aprofundar sua fé, e não com a intenção primordial de encontrar os “supostos videntes”.
Mons. Hoser e Cardeal Ruini
Entretanto, o recente documento parece não ter levado em conta as declarações, feitas em 2017 ao jornal L’Avvenire pelo então Visitador Apostólico e Arcebispo Emérito de Varsóvia, Dom Henry Hoser, sobre a divisão das mensagens de Medjugorje em duas partes.
Nessa entrevista à mídia italiana, Dom Hoser comentou sobre o vazamento do relatório da Comissão Teológica presidida pelo Cardeal Ruini a respeito das aparições, que expressava “uma opinião positiva sobre as primeiras sete aparições (aquelas entre os dias 24 de junho e 25 de julho de 1981)”.
Essa divisão das aparições de Medjugorje em duas partes — primeiras sete e as subsequentes — parece refletir uma solução semelhante àquela adotada nas aparições em Kibeho, Ruanda, mencionadas por Monsenhor Hoser na mesma entrevista.
As aparições de Kibeho foram aprovadas por Mons. Augustin Misago, bispo da diocese de Gikongoro, em 29 de junho de 2001, em conjunto com a Congregação para a Doutrina da Fé, sendo uma das poucas que receberam aprovação eclesiástica. Contudo, somente as aparições nas quais Nossa Senhora se apresentava como “Mãe do Verbo” foram aprovadas, excluindo aquelas em que Jesus teria se manifestado.
Consideraram-se apenas os primeiros dois anos dos eventos sobrenaturais, de 1981 a 1983, descartando o período posterior. Mons. Hoser, que fora missionário palotino em Ruanda desde 1975, permanecendo lá até os anos 90, estava bem familiarizado com essa distinção cronológica. Ademais, em 1994, ele atuou por um breve período como Visitador Apostólico no país durante a ausência do núncio.
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