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Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável

Em sua obra “Os Lusíadas”, Camões se refere quatorze vezes a Nuno Álvares Pereira, chamando-o de “Nuno fero” e “pal da pátria”, por exemplo.  Glória incomparável maior ele recebeu quando a Igreja o elevou à honra dos altares.

nuno alvares pereira

Redação (11/09/2024 15:03, Gaudium Press) Nuno nasceu numa cidade próxima de Lisboa, em 1360. Recebeu excelente educação, destacando-se pela sua piedade e destreza nos exercícios militares. Leu diversos livros sobre a Cavalaria e fez o firme propósito de manter a virgindade.

Entretanto, por injunção de seu pai, contraiu matrimônio aos dezesseis anos com Leonor de Alvim, jovem viúva sem filhos, bastante rica.

Tiveram uma filha, Beatriz, que se casou com o Duque de Bragança Dom Afonso I, em 1401, fundador da Casa de Bragança, a qual reinou em Portugal de 1640 a 1910. Leonor morreu no início de 1388 e Nuno Álvares, com 28 anos de idade, não mais voltou a se casar.

Participava quotidianamente de duas Missas – três, nos dias santificados – e nas viagens fazia-se acompanhar de um sacerdote para não faltar ao Santo Sacrifício.

De estatura média e bem proporcionada, Nuno tinha cabelos ruivos, barba pouco espessa em ponta, sobrancelhas arqueadas, olhos vivos e expressivos, nariz fino e pontiagudo, boca pequena. Sob uma aparência franzina, sua constituição física era robusta, própria a suportar a vida guerreira. E sua nobre alma, sempre voltada para Deus e a Igreja, aspirava a santidade.

Viveu alguns anos na corte do Rei de Portugal Fernando I e foi armado cavaleiro, vestindo uma armadura emprestada por Dom João, o Mestre de Avis, o qual se tornou grande amigo de Nuno. Por especial graça de Nossa Senhora, da qual era ardente devoto, ele não se deixou macular pelo ambiente mundano da corte.

Para uma obra santa era necessário um santo

Em outubro de 1383, faleceu Fernando I sem deixar herdeiro varão. E João I Rei de Castela, que se casara com a filha de Fernando I, proclamou-se rei de Portugal.

Em defesa da independência dessa nação, ergueu-se o Mestre de Avis, comandante de uma Ordem de Cavalaria, que designou Nuno Álvares como chefe supremo de seu exército, e posteriormente lhe concedeu o glorioso título de Condestável.

Durante o Grande Cisma do Ocidente, iniciado em 1378, Castela se aliou ao antipapa Clemente VII, o qual se alojara em Avignon, França. Se Portugal, tendo permanecido fiel ao Papa Urbano VI estabelecido em Roma, fosse dominado por Castela passaria a obedecer ao antipapa.

E isto, afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, “os portugueses, que sempre se salientaram pela inquebrantável fidelidade, absolutamente não queriam. O rei de Castela, por seguir o antipapa, era para eles herege e cismático, e simplesmente não era possível que Portugal tivesse um rei herege e cismático.

“Mas havia ainda outro motivo, que estava apenas nos desígnios da Providência: o Portugal da Casa de Avis ia ser o grande Portugal missionário, cuja preocupação era o serviço de Deus, e cujo ideal era a dilatação dos limites da Cristandade.

“E para estabelecer as bases de uma nação apostólica, confirmar um reino cuja razão de ser era a Fé, a Providência enviou a Portugal o santo Condestável. Para uma obra santa, era também necessário um santo.”[1]

O Mestre de Avis é nomeado Rei de Portugal

Em abril de 1384, um exército de Castela invadiu Portugal e Nuno, com suas tropas, partiu ao seu encontro. Os castelhanos eram em número de 5.000 homens, e os portugueses somavam apenas 1.400.

O choque ocorreu num local pantanoso próximo à cidade de Fronteira – Centro Leste de Portugal – e Nuno alcançou, pela ajuda divina, tal vitória que muitos castelhanos morreram e o restante fugiu, mas entre os portugueses não houve nenhuma baixa. Esse combate passou para a História com o nome de “Batalha dos Atoleiros”.

Entretanto, em maio do ano seguinte, o próprio Rei de Castela, João I, efetuou um cerco por terra e mar à cidade de Lisboa, que estava sob o comando do Mestre de Avis.

Para indicar que viera em socorro da capital, São Nuno mandou atear frente ao Castelo de Palmela enorme fogueira, e os defensores de Lisboa fizeram o mesmo diante do Castelo de São Jorge.

Houve algumas lutas navais e o Santo atacou a retaguarda dos castelhanos, mas o cerco continuava. Deus interveio em favor dos portugueses, pois muitos inimigos morreram atingidos pela peste negra, e Lisboa ficou livre em setembro de 1384.

Em abril de 1385, as Cortes portuguesas, reunidas em Coimbra, elegeram o Mestre de Avis como Rei de Portugal com o título de João I. Assim que recebeu a coroa, ele manifestou o apoio do reino ao papa verdadeiro, Urbano VI.

Batalha de Aljubarrota

Novamente os castelhanos atacaram Portugal e uma grande batalha ocorreu na vila de Aljubarrota, distrito de Leiria, em cuja diocese se encontra a cidade de Fátima.

Ambos os exércitos eram dirigidos por reis: João I de Portugal e João I de Castela. 30.000 soldados castelhanos avançaram contra um número muito menor de portugueses, mas estes eram comandados pelo valoroso Condestável Nuno.

O rei de Castela enviou dois dignitários a Nuno Álvares: o chefe de seu exército e o meio-irmão do Condestável, que lhe propuseram abandonar o seu monarca e se unir aos castelhanos. Indignado, o Santo rejeitou esse convite à traição e afirmou que os invasores de Portugal seriam destroçados.

A batalha se deu em 14 de agosto de 1385 e os de Castela esperavam esmagar os portugueses nesse dia, pois em 15 de agosto celebra-se a solenidade da Assunção de Nossa Senhora e a Igreja proibia combater em dias santificados.

A Virgem intercedeu pelos portugueses e, ao cair do Sol de 14 de agosto, o Rei de Castela fugiu e seus soldados debandaram. Sete deles se esconderam num forno pertencente a uma senhora do povo chamada Brites de Almeida, que com sua pá os matou. Ficou conhecida como “a padeira de Aljubarrota”.

Para agradecer à Mãe de Deus tão insigne ajuda, João I mandou construir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, conhecido como Mosteiro da Batalha, no distrito de Leiria, que foi convento dos dominicanos.[2]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, São Paulo, 2-7-1944.

[2] Cf. OLIVEIRA MARTINS, Joaquim Pedro.  A Vida de Nun’Alvares, Porto: Lello& Irmão, 1983.

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