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Sacerdote ucraniano no cativeiro russo: oração, fé e esperança

O sacerdote ucraniano Bohdan Heleta compartilhou sua experiência como prisioneiro de guerra da Rússia, deixando uma mensagem de fé e esperança em meio às provações.

Foto: Igreja Greco-Católica Ucraniana (ugcc.ua)

Foto: Igreja Greco-Católica Ucraniana (ugcc.ua)

Redação (06/09/2024 10:20, Gaudium Press) Em 16 de novembro de 2022, os militares russos sequestraram dois sacerdotes, Pe. Bohdan Heleta e Pe. Ivan Levytsky. O Pe. Heleta foi detido dentro da Igreja da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria. Eles foram levados para um prédio ocupado pelo Departamento de Polícia do Distrito de Berdiansk, onde foram ilegalmente privados de sua liberdade em um centro de detenção temporária.

Em dezembro de 2022, o “chefe do 3º Departamento de Investigação das Forças Unidas da Federação Russa”, Denis Shekhovets, em conspiração prévia com o “vice procurador militar”, Yevgeny Svistunov, e o “procurador militar da guarnição”, Alexander Korneev, elaboraram documentos com informações falsas. De acordo com esses documentos, os sacerdotes supostamente armazenavam munição e explosivos e colaboravam com os serviços especiais ucranianos, sendo ilegalmente designados como prisioneiros de guerra.

Entre março e agosto de 2023, os sacerdotes foram levados para a Colônia Correcional de Berdyansk nº 77 (cidade ucraniana ocupada pela Rússia), permaneceram dois dias em um porão desconhecido em Melitopol, posteriormente, foram transferidos para a colônia correcional de Kalinin, na região de Donetsk, onde permaneceram detidos até o dia da libertação. Os sacerdotes não receberam a devida assistência médica, especialmente o Pe. Heleta, que sofre de diabetes.

No final de junho de 2024, Pe. Heleta foi libertado como parte de uma troca de prisioneiros junto com o Pe. Ivan Levytsky “Foi uma grande surpresa”, disse o clérigo sobre a sua libertação. Eles não esperavam por isso, pensaram que seriam transferidos para algum lugar mais longe da Rússia, para o interior, para algum lugar da Sibéria.

Entrevista do Pe. Bohdan Heleta

O sacerdote ucraniano Bohdan Heleta compartilhou sua experiência como prisioneiro de guerra da Rússia, destacando o papel crucial da oração em sua sobrevivência. Em uma entrevista a uma estação de televisão eclesiástica, o sacerdote redentorista, que pertence à Igreja Greco-Católica unida a Roma, revelou que a oração, tanto a sua individual como a dos fiéis, o sustentou em momentos de aflição.

“Fui colocado em confinamento solitário com um alto-falante de música que tocava músicas soviéticas o dia inteiro. Então eu entendi como uma pessoa enlouquece e por que ela comete suicídio – eu entendi o que é suicídio. E, claro, o Senhor Deus ajuda, Ele dá força através da oração. Deus, Jesus Cristo, Maria, os Anjos estavam presentes. A oração era a salvação. Senti a oração da Igreja, que tantas pessoas estavam rezando por nós”.

Os prisioneiros eram sujeitos à tortura física, incluindo choques elétricos, e coerção para memorizar a letra do hino nacional russo, sob ameaça de punição se não o fizessem. Os sacerdotes tiveram suas barbas e cabelos rapados, de forma a não serem mais identificados como padres entre os demais prisioneiros.

“Em Berdyansk, não sofremos violência física. Por outro lado, em Horlivka, éramos submetidos a maus-tratos quase diariamente, vivendo em condições terríveis. O Pe. Ivan sofreu tantos espancamentos que chegou a desmaiar duas vezes”.

Diante disso, como ele encontrou forças para resistir tanto física quanto espiritualmente? “Foi muito simples para mim: lembrei-me de Jesus Cristo, Sua cruz, sofrimento, assim, encontrei forças e graça em meio ao meu próprio sofrimento. Sempre que era levado para algum lugar, me preparava interiormente, recorrendo à oração e pedindo forças a Deus. Não sabia se sobreviveria ou não… Parece-me que se essa situação tivesse persistido por mais um ano, ou talvez ainda menos, fisicamente teria sucumbido”. E depois acrescentou: “Desejo fazer um apelo às famílias, às mães, às esposas que têm filhos, pais ou outros entes queridos no cativeiro: não percam a esperança, rezem, voltem-se para Deus e tudo ficará bem”.

Pe. Heleta relatou que não foi possível celebrar a missa, embora soubessem que ele e Levitsky eram clérigos. Como pertenciam à Igreja Greco-Católica, foram tratados pelos soldados russos como membros de uma “seita” que se separou da Ortodoxia. Mas eles tinham uma Bíblia em russo, que liam secretamente nas reuniões matinais de oração.

“Tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas, que partilhavam conosco suas experiências e buscavam por conforto mental e espiritual. Houve confissões”.

Porém, ele ficou impressionado com a capacidade das pessoas de suportar as torturas sem Deus, sem oração. E chegou à conclusão de que “ainda que uma pessoa acredite em algo, ela espera por algo. Elas tinham esperança, algumas em seus parentes, outras eram dominadas pelo ódio…”

No final da entrevista Pe. Heleta deixou uma mensagem:

“Desejo fazer um apelo a todos para que não percam a esperança. Se alguém está triste, em dúvida, em algumas situações trágicas da vida, que nunca perca a esperança! Tente se voltar para o Senhor. Tente dar a si mesmo e essa situação a Ele para que Ele possa estar em sua vida, em seu coração. Ele está sempre agindo e sempre esperando que digamos sim a Ele. Reze, volte-se para Deus, mude a si mesmo e o mundo ao seu redor!

Com informações Igreja Greco-Católica Ucraniana (ugcc.ua)

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