Santa Catarina de Siena: foco de luz do qual viveu a Igreja
No século XIV, Deus suscitou uma virgem que batalhou heroicamente contra os inimigos internos da Esposa de Cristo: Santa Catarina de Siena.
Redação (21/08/2024 10:29, Gaudium Press) Dos vinte e cinco filhos de um casal de tintureiros abastados, ela foi o penúltimo e veio à luz na cidade de Siena – Centro-Oeste da Itália –, em 1347.
Com seis anos de idade, voltando da casa de sua irmã, Catarina viu Nosso Senhor Jesus Cristo, revestido com paramentos pontificais e sentado num trono, no alto da igreja dos dominicanos, tendo junto a Si São Pedro, São Paulo e São João Evangelista.
O Redentor abençoou-a com imensa bondade. Esse foi o início das torrentes de graças místicas que ela recebeu ao longo da vida.
Sabia ler, mas somente aprendeu a escrever nos últimos anos de sua existência. Compreendendo a necessidade de se tornar santa, incrementou suas orações, penitências e começou a fazer apostolado com muitas crianças, que ouviam maravilhadas suas narrações.
Sendo adolescente, quando subia ou descia as escadas da casa paterna diversas vezes era transportada pelos ares. Isso acontecia quando ela queria fugir dos jovens. Aos dezessete anos, fez voto de virgindade.
Ao conhecer a história de vários santos, teve especial admiração por São Domingos de Gusmão e desejou unir-se à Ordem por ele fundada. Quando alguns dominicanos passavam diante de sua casa, ela ia depois beijar os vestígios deixados pelos pés deles.
Seus discípulos a chamavam “mãe dulcíssima”
Querendo que Catarina se casasse, seus pais fizeram todas as tratativas para alcançar esse objetivo. Ela consultou um virtuoso sacerdote o qual lhe recomendou cortar seus longos cabelos, o que ela fez de imediato.
Indignados, seus progenitores ordenaram-lhe mudar-se de seu quarto para um cubículo. Dispensaram a criada, e Catarina passou a cuidar da cozinha e de outros afazeres da casa.
Ela desempenhou esses trabalhos com perfeição: servia ao pai como a Nosso Senhor, à mãe como a Santíssima Virgem, aos irmãos e outras pessoas como Apóstolos e discípulos de Jesus.
A cozinha se transformou como que numa capela, onde Catarina rezava nos momentos livres. Seu progenitor reconheceu que ela era guiada pela Espírito Santo e a dispensou dessas tarefas.
Além de constantes orações, ela fazia penitências tais como: alimentava-se normalmente com ervas cozidas, sem qualquer tempero; usava uma cinta de ferro com pontas agudas; dormia sobre tábuas desprovidas de cobertura.
Ao completar 18 anos, ingressou na Ordem terceira dominicana e reuniu um grupo de pessoas denominado “bela brigada”, composto de homens e mulheres leigos bem como de clérigos, que a chamavam “mãe dulcíssima”. Participavam das reuniões realizadas por ela, estudavam obras de autores místicos e a Suma Teológica, de São Tomás de Aquino.
Recebeu muitas graças místicas e também terríveis investidas dos espíritos malignos.
Como sucedeu ao grande Santo Antão – eremita do deserto que viveu 105 anos, de 251 a 356 –, demônios lhe apareceram em figuras humanas praticando obscenidades. Isso se repetiu várias vezes e ela resistiu heroicamente, fazendo atos de amor a Deus e de ódio a satanás e seus asseclas.
Por fim, o Redentor visitou-a em sua cela e ela perguntou: “Ah, Senhor, onde estáveis enquanto meu coração era afligido com tantas torpezas? E Jesus respondeu-lhe: Estava em teu coração!”[1]
Desponsório místico com Nosso Senhor
Em outra visão, Nosso Senhor disse-lhe: “Já que renunciastes por amor a Mim a todas as vaidades e prazeres da carne, farei de ti minha esposa”.
Em seguida, surgiram Nossa Senhora, São João Evangelista, São Paulo Apóstolo, São Domingos de Gusmão e o Santo Rei Davi, tendo nas mãos um instrumento de cordas chamado saltério.
Enquanto Davi tocava músicas celestes, a Santíssima Virgem tomou a mão direita de Catarina e pediu ao seu Divino Filho que a recebesse como esposa. Então, Jesus colocou no dedo anular um anel de ouro, ornado de quatro pérolas e um diamante, dizendo: “Recebo-a como esposa. Doravante, faze com coragem e sem detença o que minha providência te recomendar; armada da força da Fé vencerás todos os adversários!”[2]
Tendo a visão desaparecido, Catarina notou que o anel permaneceu em seu dedo, mas somente visível a ela.
Certo dia, Jesus apareceu-lhe segurando duas coroas, uma de espinhos e outra de ouro, cravejada de pérolas e pedras preciosas. Pediu-lhe que escolhesse uma delas e a Santa respondeu:
“Há muito tempo, Senhor, renunciei à minha vontade para seguir a vossa. Escolhi nesta vida o caminho de vossa bem-aventurada Paixão”.[3] E com ambas as mãos, tomou a coroa de espinhos e cravou-a profundamente na cabeça sentindo intensas dores.
Durante certo tempo, ela vivia só da Eucaristia. Recebeu em seu corpo os cinco estigmas do Salvador os quais, a seu pedido, ficaram invisíveis. Sofria dores atrozes que a levariam à morte se não fosse a intervenção divina.
Beato Raimundo de Cápua, seu biógrafo
A Igreja se encontrava numa grave crise moral; em 1378, eclodiu o Grande Cisma do Ocidente. E a sociedade temporal estava sendo carcomida pela corrupção.
Agraciada por inúmeras visões e revelações sobrenaturais, Nosso Senhor disse a Santa Catarina que deveria dedicar-se também à vida ativa pela Igreja e Cristandade.
“Levarás a honra de meu nome e os ensinamentos espirituais diante dos pequenos e dos grandes, dos leigos, dos clérigos e dos religiosos porque te darei uma sabedoria à qual ninguém poderá resistir. Conduzir-te-ei perante os pontífices e prelados a fim de confundir a soberba dos fortes porque neles o que existe é fraqueza”.[4]
Através de visões místicas, ela aprendeu a escrever. A vida de Santa Catarina foi redigida pelo Beato Raimundo de Cápua, seu confessor.
De família nobre, Raimundo nasceu em Cápua – Sul da Itália – e entrou para a Ordem dos dominicanos. Em 1374, foi designado para lecionar em Siena. Pouco tempo depois, atingido pela peste negra, o Beato recebeu a visita de Santa Catarina a qual o curou milagrosamente. Instruída por revelação divina, ela pediu-lhe que se tornasse seu confessor.
Após a morte da Santa, em 1380, ele foi eleito Superior Geral da Ordem dos Pregadores.
Por meio de orações, visitas pessoais e cartas a Papas e outros dignitários eclesiásticos e civis, Santa Catarina de Siena batalhou heroicamente contra os erros que obscureciam a Esposa de Cristo. Monsenhor João Clá afirma: Ela se tornou “o foco de luz do qual viveu a Igreja em seu tempo”.[5]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 7, p. 371.
[2] Idem, p. 374.
[3] Idem, p. 380.
[4] Idem, p.386.
[5] CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho. 2020, v. III, p. 89.
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