Sob o fogo inimigo… e a proteção de Maria!
Enviado ao campo de batalha, o jovem seminarista via numerosos companheiros tombarem a seu lado. Qual seria seu destino nessa guerra fratricida?
Redação (26/07/2024 10:34, Gaudium Press) Por ocasião da Grande Guerra, a Europa pôs em marcha suas forças armadas, entre as quais se destacou, por sua poderosa capacidade, o exército alemão.
As circunstâncias em que se desenvolveu a contenda obrigaram os exércitos rivais a manter seus pelotões entrincheirados em território francês, durante longos meses. E dada a árdua necessidade de defender-se, recrutaram para lutar nesses fronts todos os homens capazes de combater, o que incluía elevado número de estudantes universitários, de recém-formados e até mesmo de seminaristas.
O Pe. Paulo Forster, missionário redentorista natural de Landshut, na Alemanha, foi um desses recrutas de guerra na nação germânica. Sentindo-se chamado ao sacerdócio, ingressara ele ainda muito jovem no seminário da Ordem e ansiava por terminar seus estudos quando, bruscamente, a Providência mudou os rumos de sua vida…
De encontro à morte
Aos vinte e seis anos ele foi convocado para a guerra junto com dois de seus companheiros, também seminaristas, e em 30 de dezembro de 1914 a companhia em que ingressara recebeu ordem de marchar para o front. Todos sabiam bem que aquela viagem significava avançar de encontro à morte, pois poucas eram as probabilidades de escapar com vida das trincheiras. No tosco trem que os transportava, os três amigos viram-se pela última vez.
Meses depois do ingresso na guerra, os dois colegas de Paulo entregaram suas vidas em meio a duros combates em campo raso. Quanto a ele, porém, um desígnio especial parecia envolvê-lo. Na verdade, ele possuía algo de muito precioso, que certamente atraía sobre sua pessoa o olhar da Providência: uma profunda devoção a Nossa Senhora.
Forster confiava-se ao socorro maternal de Maria incessantemente, como o demonstra um piedoso poema que compôs em maio de 1915, quando foi enviado a um posto de especial risco:
Se tenho que dar minha vida,
pela pátria no mês de maio,
ao clarão de um crepúsculo;
a Ti já pertenço, morrendo,
ó Maria, minha Mãe!
Exclamarei já ferido mortalmente.
Banhado em rubro sangue,
lá se foi um coração de filho teu!
Então me levarás contigo,
pois a Ti pertenço, como nenhum outro.
Mesmo longe de teu quadro,
Tu estarás sempre perto de teu guerreiro.
Sob a proteção de sua Mãe Celeste, e contra qualquer expectativa, o jovem seminarista atravessou a guerra quase ileso pois, segundo suas palavras, uma “mão invisível” desviava as balas de sua direção… Delicada, afável, mas poderosa como um exército em ordem de batalha (cf. Ct 6, 10), essa mão realizou verdadeiros prodígios em seu favor, alguns dos quais serão narrados nas linhas que seguem.
O poder do Rosário na hora do perigo
Certo dia, houve um enfrentamento acirrado com os franceses, que terminou com intenso fogo de canhões-revólveres, tão logo estava amanhecendo, dirigido justamente contra a ala onde se encontrava Paulo. Ao lado dele, muitos foram feridos de morte, na cabeça ou no peito. “Nunca me esquecerei”, relata ele, “do ruído perfurante com que uma bala atravessou a fronte de meu vizinho. Eu ocupava a mesma posição elevada com meus companheiros. Não sei como escapei ileso”.
Na manhã seguinte ao horrível confronto, o batalhão foi convocado para a chamada; a esta, porém, muitos não responderam… “Apenas um abençoado sentimento tomou conta de todos: a convicção de havermos escapado de tremendo risco. Sobretudo eu tinha motivo especial para ser grato a Deus e sua Mãe Santíssima”, reconhece o seminarista soldado.
Outra proteção miraculosa pouparia ainda a vida de Forster pouco tempo depois. Destacaram-no como sentinela de observação durante um bombardeio inimigo. Ele deveria passar seis horas a fio quase à mercê dos franceses… Zuniam horrorosamente sobre sua cabeça granadas e estilhaços: “Incessante era o estouro, contínua a explosão ao redor de mim. […] Por fim comecei a rezar meu Terço, recomendando-me com insistência à proteção da Mãe de Deus. Explosões na minha vizinhança interrompiam-me com frequência”.
De repente, Paulo teve a ideia de mudar de posição e avançou uns vinte e cinco metros. Parou num local de onde podia ver melhor o dano que seus companheiros causavam ao inimigo. Não tardou muito e três pesadas granadas explodiram dentro das trincheiras alemãs, bem rentes ao lugar que ele havia abandonado minutos antes… A trincheira inteira terminou soterrada! Diante de fato tão impressionante, alguns atribuíram-lhe uma grande sorte; ele, porém, sabia com certeza de onde lhe viera a proteção: “Lembrei-me de meu Terço”.
Alvejado pelos fuzis inimigos
Humilde e confiante no auxílio celeste mais do que em suas forças, armas e destreza, Paulo confessa que, durante sua participação na guerra, inúmeras vezes não contava mais com salvar a vida. E acrescenta: “Sempre, porém, à última hora achava uma porta aberta. Sempre a bala que me visava, errava seu alvo…”
Um impressionante fato ocorreu quando seu destacamento teve de investir contra uma trincheira inimiga. Segue sua narração: “Eu assaltei pela direita. Imediatamente à minha esquerda o Tenente Dickmann empurrou sua metralhadora e começou a matracar. Mas o fogo na saída do cano despertou a atenção do inimigo, que respondeu com disparos cerrados de suas metralhadoras. As balas batiam, furiosas, no anteparo de aço. Uma bala, contudo, achou a abertura do escudo, ponto de mira, e matou instantaneamente o oficial. A metralhadora calou-se. Então os fuzis inimigos me alvejaram. As salvas eram para mim e para meu companheiro, João Teufelhart, um jovem voluntário de guerra. Num instante o coitado jazia no chão com vinte e quatro balas no corpo. […] Nada me aconteceu…”
Confiança posta à prova
Embalado nos braços de Maria, Forster atravessou ainda outras ocasiões de perigo, até que, como sói acontecer com todos aqueles que decidem entrar pela porta estreita do Reino dos Céus (cf. Lc 13, 24), sua confiança foi posta à prova.
Durante um assalto a um forte inimigo, uma granada explodiu a vinte metros de distância de onde Paulo se encontrava. Ele sentiu um rude golpe na mão direita e, em seguida, o sangue a lhe escorrer pelo braço… Era um estilhaço de metal de seis centímetros que havia se encravado na palma da mão, cortando os tendões e nervos dos três primeiros dedos. Estes logo enrijeceram e incharam.
Enviado ao posto de socorro, o médico-chefe julgou melhor dispensá-lo do campo de batalha e enviá-lo de volta à sua pátria, onde seria tratado. Imensa alegria! Porém, grande provação… Haveria chance de sua mão voltar a ser sadia como antes? Se não, o que era quase uma evidência, como poderia ele ser ordenado sacerdote? Naquele tempo, tal deficiência constituía um impedimento canônico para isso.
De fato, o acidente teve como consequência que os músculos dos dedos polegar, indicador e médio contraíram-se e, não podendo ser suturados, acabaram perdendo a flexibilidade… O zelo por sua vocação, no entanto, e sua fidelidade a Nossa Senhora o impulsionaram a um supremo ato de confiança: apelar a Roma.
Quando a guerra terminou, Paulo apresentou-se ao Núncio Eugênio Pacelli, mais tarde Papa Pio XII, então residente em Munique, em busca de uma dispensa para ser ordenado. De início, o prelado não lhe deu muitas esperanças, mas depois a autorização foi outorgada, e a confiança do seminarista, recompensada!
Por toda a vida, o Pe. Forster guardou profunda e carinhosa gratidão para com sua Mãe Celeste, procurando sempre confessá-la diante de Deus e dos homens.
“Minha Mãe, ajudai-me!”
“De mil soldados não teme a espada quem pugna à sombra da Imaculada!”, canta o imortal hino das Congregações Marianas. Com efeito, o que podem as forças humanas contra aqueles a quem Nossa Senhora protege?
Atraída sem dúvida pela vocação sacerdotal de Paulo, mas também pela filial confiança que esse jovem Lhe dedicava, a Santíssima Virgem operou em seu favor grandes coisas. Ora, Ela não deixará de fazer o mesmo também por cada um de seus filhos e filhas que souberem recorrer à sua materna intercessão.
Sob o fogo de nossos inimigos, sejam eles terrenos ou infernais, não hesitemos, pois, em exclamar com fé ardente e simplicidade de coração: “Minha Mãe, minha confiança, ajudai-me!”
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 248, agosto 2022. Por Daniela Haiden de Lacerda.
Deixe seu comentário