Gaudium news > A devoção das primeiras sextas-feiras do mês

A devoção das primeiras sextas-feiras do mês

Hoje é a primeira sexta-feira do mês. Vamos reparar o Sagrado Coração de Jesus, atendendo a promessa que Ele fez a Santa Margarida Maria Alacoque: “Eu te prometo, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu amor todo-poderoso concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira, de nove meses consecutivos, a graça da penitência final”.

Sagrado Coracao de Jesus1

Redação (05/07/2024 08:14, Gaudium Press)Tão antiga quanto a Igreja é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Foi na Última Ceia, momento em que se instituía a Eucaristia como memorial da Paixão, que o Discípulo Amado auscultou as insondáveis batidas do Divino Coração… E foi no alto do Calvário, quando Cristo consumava seu holocausto redentor, que o soldado “abriu-Lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água” (Jo 19, 34). Do Coração perfurado de Cristo nasceu a Igreja, e dele têm jorrado abundantes graças sobre a Cristandade e os homens de todas as épocas.

Contudo, esta devoção ainda não chegou a seu apogeu, muito embora os reiterados pedidos do Salvador ao longo dos últimos tempos, de maneira especial a partir do século XVII. Para atrair a humanidade ao seu Coração “com laços de amor” (Os 11, 4), dignou-Se Ele fazer algumas promessas àqueles que se exercitarem na prática de tal devoção.

Promessa e reparação

Atualmente a palavra promessa tornou-se trivial. Muitos são os que as fazem, poucos os que as cumprem fidedignamente, donde atribuirmos ao ato de prometer um certo vazio, seguido de descrédito. Tratando-se de uma promessa feita por Deus, isto não se pode aplicar porque, “para Ele, prometer já é dar; mas é em primeiro lugar dar a fé capaz de esperar que venha o dom, e é tornar, mediante esta graça, quem recebe capaz da ação de graças (cf. Rm 2, 20) e de reconhecer, no dom, o coração do doador”. Com efeito, “Deus não é homem para mentir, nem alguém para Se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?” (Nm 23, 19).

Doze foram as promessas feitas pelo Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque. A décima segunda delas, mais comumente conhecida como a grande promessa, refere-se à Comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras do mês, a qual garante-nos aquilo que há de mais desejável e de mais incerto para um homem na face da terra: a entrada no Céu.

Eis as palavras do Redentor: “Eu te prometo, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu amor todo-poderoso concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira, de nove meses consecutivos, a graça da penitência final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receberem os Sacramentos; nessa hora derradeira o meu Coração há de ser para eles asilo seguro”.

Nada mais justo de nossa parte do que reparar a um Deus ofendido; nada mais misericordioso da parte de Jesus do que conferir um prêmio àqueles que assim procedem, e que não fazem mais que sua obrigação.

Ensina-nos o Pe. Croiset que o fim desta prática de devoção é, em primeiro lugar, reconhecer e honrar tanto quanto estiver ao nosso alcance os sentimentos de amor e de ternura que Jesus Cristo tem atualmente por nós na adorável Eucaristia. Em segundo lugar, reparar de todos os modos possíveis as indignidades e ultrajes a que o amor O expõe todos os dias no Santíssimo Sacramento.

Em termos ordinários, reparar é devolver a integridade a algo que se corrompeu, consertar o que se estragou, o que supõe a existência de um estado anterior conservado e melhorado. Em termos espirituais, reparar “trata-se menos de olhar o passado, que abandonamos à misericórdia divina, do que de considerar o futuro que deve ser abrasado de caridade mais ardente e mais pura”. Aplicado este princípio ao desagravo que devemos realizar ao Sagrado Coração, reparar é responder com amor ardente ao que Ele fez por nós, é restituir a glória que Lhe foi injustamente tirada.

Uma reparação a Jesus ressurrecto na Eucaristia

Nosso Senhor sabia em que extremos de maldade a humanidade cairia se não prestasse ouvidos aos apelos da graça. E eis que chegamos ao atual mundo convulsionado por crises, guerras e revoluções, imerso no mais espantoso ateísmo; difícil é encontrar um recanto onde Deus não seja gravemente ofendido. Como fumaça espessa e repugnante sobem os pecados ao trono da Majestade Divina e clamam aos Céus por vingança. Não obstante a triste perspectiva de decadência, o Sagrado Coração de Jesus nos pede o desagravo contra as ofensas cometidas contra ele na Eucaristia. Por qual motivo?

Quando dizemos “Coração Eucarístico de Jesus” não nos referimos apenas a uma jaculatória evocativa da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Eucaristia não é uma lembrança, como um pai ou um homem célebre que, antes de partir de junto dos seus, deixa-se representado por meio de uma estátua, uma pintura, um retrato ou um monumento. Cristo levou a extremos inusitados seu amor, quis encerrar-Se sob o véu das Espécies Eucarísticas, a fim de cumprir sua promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Ora, se Cristo ressuscitou – e esta é a nossa Fé (cf. Rm 4, 24) – e está na Eucaristia, logo o mesmo Coração Divino traspassado pela lança de Longinus pulsa ressurrecto, real e verdadeiramente no Sacramento do Altar, no qual Jesus encontra-Se como é agora: glorificado à direita do Pai e de posse, em toda a plenitude, da glória da Ressurreição.

Portanto, os ultrajes feitos contra Jesus Eucarístico podem ser comparados aos dos algozes que mataram o Corpo do Salvador; a frieza e indiferença, o esquecimento e escassez de amor por parte de tantos que se dizem cristãos são equiparáveis à culposa tibieza de Pilatos, que fez Jesus padecer a Paixão.

É, pois, nesta perspectiva de gravidade que o Sagrado Coração nos pede realizar as Comunhões reparadoras das primeiras sextas-feiras. Consideremos suas palavras.

Uma razão sublime por detrás de um pedido

Eu te prometo, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu amor todo-poderoso concederá a todos aqueles que comungarem…”

Nesta frase podemos entrever uma verdadeira tática divina, um gesto infinitamente carinhoso, jeitoso, quase diríamos maternal de Nosso Senhor, em fazer-nos uma promessa, que é mais bem um lembrete, como a nos dizer: “Morri por ti, tu não podes vir a Mim, ao menos uma vez por mês? Vem filho meu, o que é que te afasta? Acaso há dois mil anos a Igreja não repete, em meu nome, a promessa que fiz aos Apóstolos: ‘Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna’ (Jo 6, 54)? Mostro-te aqui o meio essencial de alcançares o Céu: viver de minha vida comunicada pela Eucaristia”.

“…na primeira sexta-feira, de nove meses consecutivos…”

Narra o Gênesis (cf. Gn 1, 26-31), que, chegado o sexto dia da criação, Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. Então “contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31).

No dia da semana correspondente, sexta-feira, o Verbo Encarnado consumou a Redenção, desfigurando-Se para restaurar a beleza do primeiro homem. Com delicadeza divina, Jesus nos pede este pequeno ato de reconhecimento: que O honremos no dia em que Ele nos criou e nos resgatou, abrindo-nos as portas do Céu.

Convém aqui ressaltar que Nosso Senhor não quis dizer que apenas nas primeiras sextas-feiras O honremos, mas sim que ao menos neste dia façamos-Lhe companhia. Quem ama verdadeiramente, não se restringe a datas nem fixa horários para práticas de devoção, mas faz de sua vida um contínuo ato de reparação!

Estarás comigo no Paraíso!

“…[concederá] a graça da penitência final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receberem os Sacramentos…”

Ficamos estupefatos ante o inaudito prodígio de amor operado quando o Divino Redentor, pendente da Cruz, perdoou o ladrão proferindo a primeira e mais solene canonização da História: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43). O que fez aquele criminoso para merecer tamanha recompensa, ele que passara a vida roubando? Tão somente se reconheceu culpado e voltou-se arrependido para Nosso Senhor.

Em outros termos, esta mesma promessa nos é feita pelo Sagrado Coração, pois no que consiste o arrependimento final senão no elemento essencial para se alcançar o perdão e conquistar a graça de Deus? E o que significa morrer na graça de Deus, senão ter o “passaporte” garantido para a entrada na bem-aventurança eterna?

Quanto às palavras “nem sem receberem os Sacramentos”, entendamos não a recepção dos Sacramentos absolutamente, mas se eles forem necessários para nossa salvação, a fim de não morrermos no desagrado de Deus.

Para alcançarmos esta graça da perseverança final, nos são exigidas três condições:

A comunhão deve ser feita na primeira sexta-feira do mês.

Durante nove meses seguidos. Se houver interrupção, a novena deve ser recomeçada.

Deve ser feita, não somente em estado de graça, mas com a intenção especial de honrar e reparar o Sagrado Coração.

Tais condições, na aparência fáceis, trazem atualmente mais dificuldades que aos católicos de todos os tempos e só os devotos autênticos de Nosso Senhor são capazes de se sujeitarem a elas.

A voz eloquente do Coração de Jesus

“…nessa hora derradeira o meu Coração há de ser para eles asilo seguro”.

Que alívio quando, no momento da agonia mortal, pudermos contemplar o Sagrado Coração ao nosso lado, sustentando-nos na derradeira luta neste vale lágrimas! Que alegria indizível quando, já transpostos os umbrais da eternidade, recebermos a sentença do Divino Juiz: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34).

Contudo, em nossos dias a humanidade encontra-se também na hora extrema da agonia, e a ela Nosso Senhor parece dirigir como nunca os últimos apelos de seu adorável Coração. Ele “não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega” (Is 42, 3). Quem poderá alcançar os insondáveis arcanos do Coração de Jesus para a Santa Igreja na atual crise contemporânea?

No século XIII, São João Evangelista pressagiou algo deste futuro de glória numa comunicação mística a Santa Gertrudes: “O meu ministério, naqueles primeiros tempos da Igreja devia cingir-se a dizer sobre o Verbo Divino, Filho Eterno do Pai, algumas palavras fecundas que a inteligência dos homens pudesse sempre meditar, sem Lhe esgotar jamais as riquezas; mas aos últimos tempos estava reservada a graça de ouvir a voz eloquente do Coração de Jesus. A essa voz, o mundo envelhecido rejuvenescerá; sairá do seu torpor, e o calor do amor divino inflamá-lo-á ainda”

Não deixemos, pois, que se perca esta chave preciosa do Céu, porque “vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja” (Jo 4, 23). Unamo-nos a Nossa Senhora, que por nove meses trouxe em seu claustro o Divino Redentor, e peçamos que Ela apresente nosso ato de desagravo não apenas mediante as Comunhões de nove primeiras sextas-feiras, mas quiçá, com uma vida inteira seriamente transcorrida em santidade.

Precisamos, portanto, nos dirigir ao Coração de Jesus “como fonte de graças calculadas para a época de Revolução, calculadas para as épocas difíceis que deveriam vir, e pedir que o Coração de Jesus, regenerador pelo sangue e pela água que dele saiu, nos lave. Isto é propriamente a oração magnífica que nas sextas-feiras e, sobretudo, na primeira sexta-feira do mês e na Sexta-feira da Paixão se deve considerar”.

Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 270, junho 2024. Por Ir. Maria Cecília Lins Brandão Veas, EP.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas