Protomártires da Igreja de Roma: vítimas da perseguição de Nero
Logo após a celebração da Solenidade de São Pedro e São Paulo, a Igreja destaca os primeiros mártires da Igreja de Roma. Pedro e Paulo morreram sob Nero e junto com eles milhares de cristãos derramaram seu sangue.
Redação (30/06/2024 11:40, Gaudium Press) Logo após a celebração de São Pedro e São Paulo, o calendário litúrgico lembra a memória dos Protomártires da Igreja de Roma. Eles foram falsamente acusados por Nero de incendiar a Cidade em 19 de julho de 64 e, como resultado, enfrentaram a condenação à morte após terem sido submetidos a inúmeras torturas. Esta perseguição persistiu até o ano de 67.
Reflitamos esses trágicos acontecimentos através do relato do historiador Tácito:
“Então Nero, para dissipar tais boatos, (de que ele havia posto fogo em Roma) apresentou como culpados e submeteu às mais refinadas torturas àqueles que passaram a ser odiados por suas maldades e eram vulgarmente chamados cristãos. […] Em um primeiro momento, foram presos aqueles que confessavam sua fé, depois, denunciados, muitos outros foram considerados culpados não tanto pelo delito de incêndio, mas por ódio à raça humana.
Suas mortes foram acompanhadas pela zombaria: foram cobertos com peles selvagens e foram despedaçados por cães, ou foram crucificados e queimados vivos, para que, como tochas, servissem para iluminar a noite após o pôr do sol. Nero havia oferecido seus jardins para tal espetáculo, enquanto promovia jogos no circo e, vestido de cocheiro, misturava-se à multidão ou participava das corridas em pé em uma carruagem.
Por isso eles, embora tivessem se manchado de culpas e merecessem as penas nunca antes infligidas, suscitavam compaixão porque eram sacrificados não em vista do bem comum, mas para satisfazer a crueldade de um só” (Anais 44, XV, 2-5).
Mártires derramaram seu sangue por ódio à Fé
O apóstolo Pedro foi crucificado no Vaticano, após o terrível incêndio que devastou Roma, em 19 de julho do ano 64. Junto com ele, uma grande multidão de cristãos sofreu o martírio com torturas atrozes.
O Papa Clemente (88-97), na primeira Epístola aos Coríntios, recorda de fato o martírio de uma “multitudo ingens”, multidão enorme de eleitos, juntamente com os apóstolos Pedro e Paulo.
A memória dessas ferozes perseguições sobrevive no nome da atual “Piazza dei Protomartiri Romani”, (Praça dos Protomártires de Roma) à esquerda da basílica e em frente ao Campo Santo Teutônico, em correspondência à parte central do circo onde estava o obelisco, sendo uma testemunha silenciosa do martírio de Pedro e da nascente comunidade cristã de Roma.
Basílica Vaticana construída em terra banhada pelo sangue dos mártires
Narrações Históricas contam que o imperador Constantino, no início do século IV, iniciou com as próprias mãos as escavações das fundações da primeira basílica e que ele carregou nas costas, no oitavo dia após seu batismo, doze cestos de terra para erguer o templo, para recordar os doze apóstolos.
Depois de mais de mil anos, em 18 de abril de 1506, o Papa Júlio II, cavando um buraco nas profundezas daquela mesma terra, no local correspondente ao atual pilar de Santa Verônica, lançou a primeira pedra do novo templo vaticano.
Durante séculos, sentimentos de profunda devoção, religioso respeito e temor reverencial preservaram aquela terra sob o piso da antiga e da nova basílica que, por esse motivo, foi definida como: “Igreja venerável, de cuja terra, caso fosse pressionada pelas mãos, dela quase sairia o sangue dos mártires” (cf. F.M. Torriggio, Le Sacre Grotte Vaticane, Roma 1639).
Terra que São Pio V distribuiu como relíquia
Na vida de São Pio V (Ghisleri, 1566-1572), narra-se de fato que enquanto o Pontífice passava perto da basílica, aproximou-se devotamente dele um embaixador, para pedir-lhe algumas relíquias de mártires para levar para sua nação.
Em resposta a tal pedido, o Papa se abaixou, pegou um punhado de terra do Vaticano e entregou ao embaixador dizendo:
“Esta é relíquia de mártires, pelo copioso sangue que derramaram neste lugar”.
Em 1615, durante a escavação para a abertura da Confissão vaticana em frente ao altar papal, cônegos e penitenciários da basílica, com grande devoção, ajudaram a levar aquela terra coletada nas proximidades da sepultura do apóstolo Pedro, estipulando-a em um “lugar honroso”, no final da nave sul das Grutas do Vaticano, em um espaço hoje ocupado pelo túmulo do Papa Pio XI e atrás do sarcófago do cardeal Raphael Merry del Val.
No mesmo local e em outros lugares das Grutas – como já mencionado por Francesco Maria Torrigio – em 1626 os cônegos de São Pedro transferiram a terra proveniente das fundações das quatro grandiosas colunas do Baldaquino de Bernini.
Por fim, no século passado, durante o pontificado de Pio XII (Pacelli, 1939-1958), a terra proveniente da escavação do “Campo P” junto ao túmulo de Pedro, foi devotadamente coletada em um pequeno espaço fora da basílica junto à assim chamada “Via delle Fondamenta”, em uma sala especialmente feita com paredes de contenção de tijolos vermelhos, precisamente abaixo da Capela Sistina.
Com informações Osservatore Romano
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