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Humanality: para se libertar da escravidão do smartphone

Humanality é um projeto novo, já implementado em diversas universidades nos EUA.

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Redação (18/06/2024 11:46, Gaudium Press)  A Humanality, organização sem fins lucrativos dedicada a ajudar as pessoas a encontrar liberdade através de um uso intencional da tecnologia, surgiu em 2023, nos Estados Unidos, por iniciativa dos empresários Andrew Laubacher e Hope e Justin Schneir.

Porém, o trabalho já havia começado em 2022, quando foi estabelecida a bolsa Unplugged na Universidade Franciscana de Steubenville; trinta alunos foram desafiados a abandonar o uso de dispositivos digitais durante o curso, em troca de um auxílio de 5.000 dólares. Além desses bolsistas, outros 50 alunos aderiram voluntariamente à iniciativa, que rapidamente se tornou conhecida fora do campus universitário.

Atualmente, os clubes da Humanality estão localizados em seis universidades dos EUA: além de Steubenville, também estão presentes no Christendom College, Ave Maria, a Universidade de Dallas, Benedictine College no Kansas e Thomas Aquinas College na Califórnia.

“Esperamos expandir para o maior número possível de universidades nos próximos anos”, disse Laubacher ao Catholic World Report.

Andrew Laubacher, músico católico

Há cerca de seis anos, Andrew Laubacher se sentiu esgotado pelo impacto das redes sociais em sua vida pessoal e profissional como músico católico.

“Em 2018, decidi abandonar todas as minhas redes sociais e voltar a usar um celular simples. Eu disse à minha gravadora e ao meu empresário que eu ia fazer isso e eles me disseram que seria uma decisão horrível. Mas eu sabia que Deus estava me chamando para fazer isso”, contou ele à CNA.

Após excluir suas redes e comprar um novo celular, ele percebeu melhorias significativas em suas relações sociais, sua saúde mental e até espiritual. Inclusive, constatou que sua decisão em abandonar as redes sociais não afetou sua carreira profissional.

Foi nesse período que Laubacher conheceu Hope e Justin Schneir, fundadores da Humanality, que estavam empenhados em “remodelar a maneira como interagimos com a tecnologia, promovendo relacionamentos mais saudáveis e conexões humanas mais autênticas”.

Um vício com sérias repercussões na saúde mental

Hoje, Laubacher é CEO da Humanality e observou que os “picos” de ansiedade, depressão, aumento da solidão ou vício generalizado em pornografia coincidem com o lançamento do iPhone e das redes sociais. De fato, dados de um levantamento realizado pela Gallup em 2023 apontam que a porcentagem de adultos com depressão saltou de 10% em 2015 para 29%. Segundo um relatório da Common Sense Media, quase 3 em cada 4 adolescentes já consumiram pornografia.

Na visão de Laubacher, “somos todos viciados em nossos dispositivos de alguma forma”.

Seu sócio, Justin Schneir, se expressa em termos semelhantes: “Viver com um smartphone é como viver com um anel do Frodo no bolso (personagem do filme O Senhor dos Anéis, que teve um anel forjado pelo Senhor das Trevas e que serviu para escravizar os povos), e quanto mais vícios desejamos através dele, mais forte é a atração e mais pesado se torna o fardo”.

Laubacher acredita que opções como a Humanality representam uma boa “solução”, especialmente quando se tenta “cultivar uma maior interação humana e aquilo a que chamamos de florescimento humano”.

Hope Schneir, também promotora do projeto, observa que parte do vício em tecnologia é explicado por um “desejo legítimo” de se conectar, e que, embora haja muitos que querem “adotar um estilo de vida mais desconectado, têm medo de fazer isso sozinhos”.

Para interagir com os outros, com a Criação

O projeto de Humanality é mais amplo do que as bolsas. Por exemplo, é sugerido o “modo monge”, no qual não se faz uso de telefones celulares, confiando em vez disso no Wi-fi do campus, num computador portátil e em despertadores analógicos. Ou o “modo rebelde”, no qual os estudantes para se desconectarem das redes sociais usam dumbphones (ou celulares burros), que são como os primeiros modelos de celulares existentes, sem aplicativos ou qualquer tipo de tecnologia de ponta.

Também são organizadas reuniões mensais para construir a comunidade prejudicada pela tecnologia, nas quais os membros compartilham suas mudanças e avanços, fazem caminhadas, apresentações, noites em torno da fogueira e outras maneiras de experimentar a vida sem celulares.

“Ao estabelecer comunidades de pessoas que caminham juntas em direção a um estilo de vida mais humano e livre, podemos inspirar e encorajar os jovens e as famílias a viverem vidas mais humanas e livres, envolvendo-se com a realidade e a criação que o próprio Deus declarou boa”, ressalta Hope.

A humanality também oferece aos seus membros um plano para enfrentar a vida após a universidade, conectando-se novamente com dispositivos. E, além do dia-a-dia em seus clubes e sedes, ela também se dirige aos interessados “externos”, como seminaristas, aos quais são fornecidos celulares simples, despertadores analógicos e até antigos aparelhos de GPS para carros.

Uma vez consolidados nas universidades, os responsáveis pela Humanality manifestam a intenção de abranger também as escolas em seus estágios iniciais e até mesmo de desenvolver “capítulos familiares”.

Antes de concluir, Laubacher esclarece que sua postura não é contrária à tecnologia, mas que pretende ensinar as gerações atuais a “investir” seu tempo de forma sensata e em consonância com a própria natureza humana, para que as atividades do cotidiano “ajudem o seu bem-estar mental e espiritual”.

“Deus nos deu o dom do tempo. E eu diria que a maioria de nós está desperdiçando isso em diferentes plataformas e dispositivos, quando o tempo é sagrado e a forma como o usamos é realmente importante”, acrescenta.

Os testemunhos dos benefícios que alguns obtiveram com a Humanality são inúmeros. Há quem diga que ela até “me devolveu a vida”.

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